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13/07/2021 às 16h45min - Atualizada em 13/07/2021 às 16h45min

Artesãos mudam a forma de trabalho para se manter durante a pandemia

Artistas de Uberlândia precisaram investir em produtos de menor custo e mais simples

LORENA BARBOSA
Artesãs tiveram que mudar o foco durante a pandemia I Foto: Arquivo pessoal
Assim como os outros setores da economia, o de artesanato precisou se reinventar durante a pandemia. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o segmento foi um dos cinco mais afetados pela crise. Grande parte pelo cancelamento de eventos e feiras onde os produtos antes eram vendidos.

Vanderluce Rosa é artesã, e havia acabado de abrir uma galeria quando todo o comércio precisou ser fechado. O espaço, que é voltado para a saúde, bem-estar, psicologia e arteterapia ficou quase sete meses sem poder receber alunos e clientes. Ela conseguiu reabrir o negócio por um tempo, mas veio a segunda onda do coronavírus, e novamente, foi preciso fechar as portas.

Mas as dívidas não pararam de chegar e a artista precisou continuar pagando o aluguel para não perder o ponto. O pagamento em dia só foi possível por um incentivo da Lei Aldir Blanc, que é um benefício revertido para a manutenção de um espaço voltado à arte. O que também ajudou a Vanderluce foi o benefício liberado pelo governo federal aos Microempreendedores Individuais (MEIs). “Se não fossem esses benefícios, eu teria fechado as portas, como muitos dos meus amigos fecharam”, disse a artesã.

A artista precisou mudar a forma de trabalhar, as telas que antes eram elaboradas e vendidas por um valor mais alto, precisaram ser substituídas por um trabalho mais simples. “Eu comecei a pintar com produtos mais em conta, mais barato, investi em um curso de pinturas pet, de cachorrinhos. Comecei a pintar nos quadrinhos de compensado, e vendia mais barato. É o que me ajudou. Eu voltei ao que eu fazia há 25 anos, quando eu comecei. Uma tela que eu poderia vender por R$ 500 eu vendia por R$ 50”, lamentou Vanderluce.

Muitos clientes apreciadores da arte ficaram com recursos escassos, e diminuíram o gasto com algo que pode ser considerado supérfluo para conseguir arcar com as despesas básicas, como alimentação, por exemplo. E foi no ramo alimentício que Valéria Adriane precisou se apoiar para conseguir se sustentar. A artesã apaixonada por arte precisou deixar o sonho um pouco de lado, e passar a fazer lanches e caldos para conseguir pagar as contas. “Eu tive que me reinventar por uma coisa que eu nunca tive atração, a cozinha”, disse Valéria.

Apesar da renda vir dos alimentos, ela não deixou de pintar. E sonha um dia conseguir se manter com a arte. “Hoje eu faço algumas telas pequenas justamente por causa dos custos. A pintura me faz bem, eu preciso pintar”, concluiu Valéria.

MUDANÇA DE PLANOS
Outra artista que precisou se reinventar foi Joelma Santos. Ela trabalha com artesanato há mais de 30 anos. Estava se especializando em pintura de telas, se organizando para abrir o próprio ateliê, quando se viu obrigada a parar a obra e organizar um local de trabalho em casa mesmo. Para ajudar na renda da família, que hoje conta somente com a aposentadoria do marido, ela investiu na técnica de pintar emborrachados, mas sentiu a queda na venda dos produtos. “É um preço mais alto [de venda] porque você faz a pintura toda à mão, com um pincelzinho. Então assim fica difícil, as pessoas preferem ir lá e comprar da pessoa que vende 3 por R$ 10”, explicou a artesã.

Outro ponto que prejudicou as vendas foi a questão de não poder expor os trabalhos devido às restrições impostas pelas regras de contenção do coronavírus. Exposições e aulas de arte foram suspensas. Segundo Vanderluce Rosa, a internet foi uma importante aliada, mas não substitui o contato direto.

Apesar do prejuízo dos últimos meses, as artesãs olham para o futuro com otimismo. Vanderluci já pensa em uma exposição para falar sobre o impacto da pandemia na vida do artista. Ela também pensa em expandir a sonhada galeria com exposições coletivas, palestras e aulas de teatro e violão. Para além do financeiro, a arte pode ser uma terapia em meio ao caos causado por um vírus que pegou a todos de surpresa. “Arte e cultura terapêutica, as duas coisas andam juntas. O paciente precisa de uma terapia. Uma coisa triste que a gente tá vendo nessa pandemia é que muitas pessoas vão precisar de ajuda psicológica. Espero contribuir com um trabalho mais voltado ao ser humano”, finalizou Vanderluce.

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