13/07/2021 às 13h00min - Atualizada em 13/07/2021 às 13h00min
Uberlândia registra mais de 1,4 mil agressões a mulheres somente em 2021
Em 2020, foram 4.030 ocorrências, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública
GABRIELE LEÃO
ONG SOS Mulher, em Uberlândia, realizou 2.559 atendimentos em 2020 Casos de violência contra a mulher são uma realidade no Brasil, e com a pandemia do novo coronavírus os números crescem em todo o país. Em Uberlândia, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) registrou 1.486 ocorrências de violência a mulheres, de janeiro a maio deste ano.
O número de boletins de ocorrência registrados de violência contra a mulher em 2019 chegou a 4.201. Em 2020, o número foi de 4.030.
Em março de 2019, a Prefeitura de Uberlândia lançou o aplicativo "Salve Maria". O intuito é facilitar denúncias de violência contra a mulher. A ferramenta permite que qualquer pessoa denuncie abusos por meio de um canal direto com a Polícia Militar (PM). Nos dois primeiros meses de funcionamento foram registrados 16 boletins de ocorrência e uma pessoa foi presa suspeita de agredir uma vítima.
O objetivo do programa é diminuir o número de ocorrências de agressões verbais, físicas ou psicológicas sofridas pelas mulheres na cidade. O número de downloads, de 2019 até 02 de julho deste ano, chegou a 13.131; O botão de pânico foi acionado 459 vezes e foram registradas 771 denúncias, até o momento.
O número de atividades realizadas pela ONG SOS Mulher, em 2020, registra 2.559 atendimentos, entre online e presenciais, dentre eles, atendimentos psicossociais, orientações jurídicas, pontuais e continuadas. Além de 732 atendimentos socioassistenciais e informações sobre os serviços realizados pela instituição, gerando, assim, 3.291 atendimentos.
"Desde março, nosso trabalho é feito online, e diversas mulheres têm usado essa ferramenta para denunciar casos de violência. Através de Facebook, Instagram, WhatsApp e pelo telefone. A percepção que nossa equipe teve, além do aumento na procura dos serviços oferecidos, foi de que esses canais, além de trazer mais facilidade para a vítima no fato de se sentir segura e fazer a denúncia, também é um facilitador para aquelas mulheres que estão em situação de baixa renda, e sem condições de ir até o local para o atendimento", comentou Claudia Cruz, psicóloga da SOS Mulher.
Claudia ainda comentou que, quando receberam as denúncias, diversas mulheres relataram que os agressores usavam a desculpa de que por conta da pandemia, elas não conseguiriam receber ajuda ou apoio policial, pois os serviços estariam indisponíveis. “Neste período, recebemos diversos casos mais complexos e de riscos maiores, como (mulheres) ameaçadas de morte", explicou.
"Na SOS Mulher, a vítima é acolhida no primeiro atendimento e, após analisado o caso, é realizado o direcionamento para a delegacia, se for o caso. Fazemos a orientação para que a vítima procure a Polícia para registrar o boletim de ocorrência", contou Claudia Cruz.
Ela ainda reforça. "Nossos atendimentos funcionam normalmente de segunda à sexta-feira, com atendimentos psicológicos, jurídicos e de serviço social. As mulheres em situação de vulnerabilidade podem entrar em contato através das redes sociais”, ressaltou.
Os canais para denúncias inclusive anônimas são o disque 100 e 180. A SOS Mulher atende pelo (34) 3215-7862.
CASO DJ IVIS
Na noite de domingo (11), vídeos do DJ Ivis caíram na web mostrando-o agredindo a companheira, Pamella Gomes de Holanda. Ela publicou as imagens em seus stories do Instagram mostrando uma série de vídeos em que aparece sendo atacada com tapas, socos e chutes por eles. Em um deles, ela chega a ser agredida quando está próxima e até segurando a filha de nove meses do casal. O caso ocorrido no estado do Ceará ganhou repercussão nacional.
Segundo o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu, as disfunções em regiões específicas do cérebro resultam em atitudes incoerentes. "Não é doença, portanto é cabível de punição e não é desculpa para a ação. Este comportamento agressivo pode ter gatilho genético, com propulsão derivado de traumas na infância, ambientais ou disfunções do sistema límbico devido a fatores emocionais que aumentam a probabilidade com a intensidade da ansiedade”, afirmou.
"Aquela pessoa que está constantemente perdendo o controle, que comete um erro e demora a perceber, e mesmo assim comete o erro de novo, já é um dos primeiros sinais de que algo não está certo. O fato de o DJ Ivis agredir a mulher já mostra que ele não tem controle", comentou o PhD.
Além disso, Fabiano explicou que fatores como culturais, educacionais e relação com a falta de conhecimento sugerem ações emocionais e incoerentes. “Por mais que a pessoa tenha fatores que interferem nessas disfunções, através da plasticidade cerebral é possível balancear e aprimorar a conexão do córtex pré-frontal, região racional do cérebro com o sistema límbico, região do lobo temporal relacionado com o sistema emocional”, disse.
Outro detalhe que precisa ser observado, segundo Fabiano, é que "o desequilíbrio entre os estímulos límbicos ascendentes e os mecanismos pré-frontais de controle descendentes resultam em comportamentos impulsivo-agressivos. A informação é modulada por fatores culturais e sociais e pode ser distorcida por déficits de processamento que pode ser influenciada por esquemas negativos secundários ao estresse do desenvolvimento, traumas ou experiências negativas duradouras. Assim como o uso abusivo de álcool e/ou drogas”, acrescentou o neurocientista.
Ele ainda completa. “Não podemos dar um parecer sem uma anamnese antes. Mas que há sim uma incoerência, um problema na relação do sistema emocional do cérebro com o racional, sim, há ou não iria chegar a esta situação. E também mostra falta de empatia ao colocar em risco a própria filha. Esses comportamentos podem estar relacionados a diversos transtornos. Como ele é uma pessoa pública, que ficou conhecido por causa de uma música, poderia arriscar em incluir o narcisismo que, quando fora de homeostase, acarreta perturbações que causam comportamentos similares a esses”, encerrou.
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