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01/07/2021 às 08h30min - Atualizada em 01/07/2021 às 08h30min

Sindicato Rural vê valor do Plano Safra abaixo do esperado

Crédito do governo federal serve para custeio, comercialização e investimento no campo

NILSON BRAZ
Sindicato Rural de Uberlândia acredita que valores disponibilizados pelo Governo Federal poderiam ser maiores | Foto: Arquivo pessoal
A região de Uberlândia é, no setor agropecuário, uma das localidades com uma grande diversidade de plantações e criações, que vão desde o cultivo de monoculturas, como a soja e o milho, até florestas de eucalipto, agricultura familiar e a pecuária de forma geral. E, além disso, é uma região muito importante no que diz respeito à criação de porcos. Uberlândia tem, hoje, o maior plantel de suínos do Brasil.

Grande parte do que é produzido no agronegócio acontece por causa do plano de crédito do governo federal para custeio, comercialização e investimento no campo, o Plano Safra. Neste ano, o Plano Safra foi anunciado na última quarta-feira (23) e, com isso, o governo federal vai liberar R$ 251,2 bilhões para financiar a próxima safra. Esse montante representa um aumento de 6,3% aos valores disponibilizados no ano passado.

Porém, nem todo mundo acredita que esses valores acompanharam o movimento de toda a cadeia que envolve o mercado agropecuário. De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, Thiago Silveira, mesmo sendo um aumento positivo e necessário, a valorização do que é produzido no Brasil, levando em consideração a oferta e a demanda internacional, foi muito superior a isso, principalmente se tratando de culturas como o milho, a soja e a produção bovina.

“Especialmente para custeios, o valor poderia ter sido maior. A linha de custeio não aumentou na medida que as commodities valorizaram, ou seja, o poder de custeio, neste ano, está comprometido, no meu entendimento. Porque os custos de produção aumentaram demais”, afirmou Thiago. 

Mas o presidente do sindicato aponta que, ainda assim, o Plano Safra 2021/2022 teve pontos positivos. Ele cita como exemplo os baixos juros para o produtor de Agricultura Familiar, que são de 3% e 4,5%. E também o fato de os recursos disponibilizados para Agricultura de Baixo Carbono (ABC) terem sido quase o dobro do que foi disponibilizado no ano passado.

“O recurso maior para o ABC é muito interessante, porque fomenta técnicas sustentáveis. E isso é uma tendência, primeiro porque é o correto do ponto de vista ambiental, e segundo porque é uma demanda da sociedade. Então, se o consumidor tem esse desejo, paga por isso e cobra por isso, nós, como produtores, temos que tentar implementar, sempre que possível, as práticas sustentáveis”, disse Thiago.

PRODUTOR

Demanda essa, que o agrônomo e produtor rural, Júlio César Pereira Júnior, tem atendido. Ele explica que as práticas mais sustentáveis, apesar de mais caras, acabam tendo um retorno no futuro que acaba por compensar os recursos que foram dispensados anteriormente. Para ele, esses métodos merecem a atenção não apenas por ser ecologicamente correto, mas também porque acaba sendo mais lucrativo para o produtor rural.

“Não é um negócio só de ideologia. É um negócio que nos traz lucratividade. O agricultor está preocupado com isso, que acaba indo de encontro com os anseios da sociedade. É uma prática mais cara, mas, ao longo dos anos, acaba se pagando, porque passa a ser mais produtiva por garantir qualidade do solo, retenção de nutrientes, por exemplo”, afirmou o produtor.

Júlio César afirma que é possível agregar as práticas sustentáveis em um ambiente que também visa o lucro. Para ele, as duas coisas não devem ser desassociadas, porque estas práticas otimizam a produção. “É uma agricultura que beneficia toda a cadeia, consumidor, produtor, a indústria. Porque você vende uma imagem para a sociedade de uma agricultura mais moderna, que se preocupa com a sustentabilidade. E a sustentabilidade da cadeia também está envolvida o lucro. Quando a gente faz boas práticas, a gente é remunerado com uma produtividade maior”, afirmou.



AGRICULTURA DE BAIXO CARBONO
A Agricultura de Baixo Carbono é o termo usado para práticas usadas na agricultura que fazem com que a produção consuma mais carbono do que é produzido em toda a cadeia produtiva. O agrônomo explica que em um cultivo existem duas formas principais em que o carbono é liberado. A primeira é com a utilização de alguns insumos, como fertilizantes, que têm componentes baseados em petróleo, que são os fertilizantes fósseis. E a segunda é pela queima do óleo diesel utilizado nas máquinas e veículos que envolvem a produção agrícola.

Ele explica que as práticas sustentáveis visam uma contrapartida nessa emissão de carbono. Ele cita como exemplo a própria produção, em que faz a utilização do Sistema de Plantio Direto. Essa técnica consiste em deixar a matéria orgânica de produções anteriores sobre a terra, de forma a causar menos impactos no solo, garantindo uma melhor qualidade e produtividade das produções que seguirem. “É a técnica de agricultura mais famosa no Brasil e é uma das que menos consome carbono, fazendo com que essa matéria orgânica depositada seja o maior sequestro de carbono”, disse.

O Plano ABC, dentro do Plano Safra, visa incentivar esse tipo de prática. Ainda de acordo com o presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, o montante destinado para o Plano ABC é voltado para o investimento das produções. Ou seja, o valor é destinado para aqueles produtores que queiram comprar equipamentos necessários para essas práticas sustentáveis e ampliação de espaços, por exemplo.


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