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29/05/2021 às 08h47min - Atualizada em 29/05/2021 às 08h47min

Professor da UFU lança livro sobre a história do ensino do desenho no Brasil

Autor aborda aspectos sociais, econômicos, tecnológicos e culturais da prática por perspectiva crítica

NILSON BRAZ
Autor aponta comportamentos na prática do ensino de desenho | Divulgação
 

O ato de ensinar a desenhar é uma prática milenar, assim como o próprio desenho. Compartilhar técnicas, estimular talentos ou até mesmo profissionalizar um indivíduo que tem afinidade pelos traços e tintas pode parecer algo corriqueiro e até inofensivo, mas pode carregar e propagar muitos aspectos da cultura humana vistos como deturpados, ultrapassados e até obscuros. Essa é uma das abordagens trazidas pelo livro do escritor Renato Palumbo Dória, professor do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (Iarte/UFU).

 

O livro, que tem o título “Entre o belo e útil - manuais e práticas do ensino do desenho no Brasil” aborda aspectos estéticos e pedagógicos, além de questões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas na prática do ensino do desenho no país, principalmente durante o século XIX. Período em que se acreditava que o desenho seria uma “linguagem universal”, capaz de ultrapassar barreiras, como a dos idiomas e culturas da humanidade.

 

O trabalho de pesquisa do autor, que culminou no livro, começou no ano de 1999. Inicialmente o tema foi escolhido por Palumbo como o tema de doutorado que ele defendia na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Após muitas pausas e retomadas na coleta de textos e imagens, principalmente na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, a antiga Academia Imperial de Belas Artes, o professor finalizou o livro.

 

Renato explica que a importância de tratar do assunto está na percepção que o conteúdo compilado por ele pode proporcionar para aquelas pessoas que têm interesse por desenho, sobretudo aquelas que ensinam ou estudam o desenho.

 

“Parece um tema do passado, mas é atual. Porque os modelos do que é um bom desenho, de quais são os modelos da figura humana, ficaram tão introjetados que a gente acaba reproduzindo isso sem perceber. Entrando num aspecto político, social e cultural. Porque foram modelos estabelecidos, sobretudo, na Europa, no âmbito das academias de Belas Artes, e que foram se popularizando através das publicações de guias e manuais antigos de desenho”, afirmou o autor.

 

O professor comenta ainda sobre como as questões sociais e políticas que estão ligadas ao desenho e em como os padrões e parâmetros estéticos utilizados até hoje podem ter uma origem obscura. Para ele, o ensino artístico não é um ensino neutro.

 

Através de alguns conteúdos, tinham questões, sobretudo no século 18 e 19, ligadas, por exemplo, a uma pseudociência chamada Frenologia que fazia uma relação da anatomia humana com as características morais do indivíduo. Essa análise de misturar anatomia com estética que vai dar no nazismo, por exemplo, ou nos estudos de Lombroso, na Itália, que é de onde vem a famosa expressão ‘cara de bandido”, afirmou Palumbo.

 

O autor afirma que foi nessa época ainda que elegeram a beleza clássica greco-romana como o máximo da perfeição. Criando o estereótipo da beleza ideal em indivíduos que são descendentes desses povos, criando uma espécie de hierarquia estética na representação da figura humana.

 

“Com isso, a Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, fundada há mais de 200 anos, por exemplo, teve muita dificuldade de conseguir modelos vivos. Porque eles queriam um modelo europeu. Eles não queriam colocar um escravo”, afirmou. 

 

Renato pontua que muito do que é trazido no livro em documentos e imagens, podem parecer superficial ou mesmo conservador. Já que, de fato, parte do conteúdo que compilou no livro já é considerado ultrapassado pelo ensino moderno. Mas ele afirma ainda que muita coisa continua sobrevivendo de formas que nem sempre são claras para todas as pessoas.

 

“Minha abordagem é em uma perspectiva crítica. Mostrando, inclusive, que para o jovem de elite era ensinado um tipo de desenho mais ligado às artes, à imaginação. E para o que eles chamavam de ‘crianças operárias’, ou seja, as crianças pobres, eles davam o ensino de desenho mais geométrico, prático, para que elas se tornassem bons trabalhadores. O que não é muito diferente de hoje em dia. As escolas de elite tem bons professores de arte, tem mega estrutura de ateliê, de estúdio, oficina. Para os pobres as pessoas já acham que é supérfluo, como se essas crianças não precisassem disso”, comentou.

 

O autor defende ainda que o ensino do desenho deveria ser universal, já que pode contribuir em todas as áreas, não só no artístico. “Mesmo que o sujeito seja pedreiro, se tiver conhecimento de desenho, de arte, ele vai ser o melhor pedreiro. O mesmo acontece com carpinteiro, marceneiro, médico cirurgião neurologista”, disse.

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