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29/05/2021 às 12h00min - Atualizada em 29/05/2021 às 12h00min

Pesquisadoras da UFU publicam análise da evolução da covid-19 na região de Uberlândia

Estudo precisou ser interrompido por causa de mudanças na disponibilização dos dados pelo poder público

NILSON BRAZ
Estudo analisou dados de 18 municípios que integram a microrregião de Uberlândia | Arte/Viviane Aiko

Um estudo desenvolvido por pesquisadoras da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (Famev/UFU) em parceria com a Superintendência Regional de Saúde de Uberlândia (SRS Uberlândia) possibilitou a análise detalhada de como a covid-19 evoluiu, no estágio inicial da pandemia, nos 18 municípios que compõem a chamada microrregião de Uberlândia.

 

É comum ver estudos e pesquisas nacionais e internacionais que demonstram quais são as idades mais atingidas pela doença, os grupos mais vulneráveis, sobre quais são os fatores de risco que mais tiveram relação com casos graves e que levaram à morte. Foi para entender o comportamento do vírus em uma população mais restrita que as pesquisadoras desenvolveram o estudo. Para isso foram analisados idade, a presença de comorbidades, questões políticas, sociais e como a doença se espalhou nas cidades da região.

 

Os dados analisados foram coletados no período de 25 de fevereiro a 29 de junho de 2020 nas cidades de Araporã, Tupaciguara, Monte Alegre de Minas, Prata, Araguari, Indianópolis, Cascalho Rico, Grupiara, Estrela do Sul, Romaria, Nova Ponte, Iraí de Minas, Monte Carmelo, Douradoquara, Abadia dos Dourados, Coromandel, Patrocínio e Uberlândia.

 

RESULTADOS
 

No período analisado, os 18 municípios juntos tiveram o registro de 34.046 notificações de casos suspeitos. Deste total, 1.234 (3,6%) precisaram ser hospitalizados, sendo 637 (51,6%) homens e 597 (48,4%) mulheres. Os dados mostraram que gênero não foi um fator determinante, já que a porcentagem foi semelhante.

 

Do total de casos notificados como suspeitos, 4.935 (14,5%) foram diagnosticados com a covid-19 e 40 morreram. A média geral de idade dos casos foi de 38 anos, demonstrando que a maior parte dos casos diagnosticados se manifestaram na população mais jovem, porém, nos casos de morte, a média foi de 68 anos. Além disso, o estudo indicou ainda que a presença de problemas cardíacos, diabetes e obesidade representou um aumento de mais de 33 vezes o risco de morte no público analisado.

 

De acordo com uma das pesquisadoras, a bióloga e veterinária Roberta Melo, a partir desses dados, a pesquisa sugere a conscientização da população mais jovem. “É preciso adotar todas as medidas de controle mais específicas, mais individuais, que é o uso de máscara, distanciamento, sair menos de casa. E para idosos e pacientes com comorbidades a proposta é pensar nesta priorização, que já está acontecendo, na vacinação. Para a gente tentar proteger mais esses grupos, já que o risco é bem maior para eles”, disse.

 

CAMINHO DO VÍRUS
 

Outro ponto que as pesquisadoras observaram foi com relação à rota de disseminação do vírus. Tanto dentro das cidades, quanto de umas para as outras. O resultado encontrado foi que a disseminação aconteceu de dentro para fora nos dois casos. Dentro das cidades o vírus se espalhou do centro para as periferias e na região das cidades maiores para as menores.

 

O estudo observou ainda como o vírus se comportava de acordo com as políticas públicas adotadas por cada município. Para a pesquisadora, as cidades que colocavam em prática medidas mais duras, tinham resultado melhor na contenção da disseminação. Como o objetivo do estudo era, também, apresentar soluções que pudessem auxiliar no combate a covid-19, a pesquisadora fala que se essas medidas fossem mais orquestradas entre as cidades, as medidas seriam mais eficientes.

 

“Quando tinha uma flexibilização muito grande, depois de 10, 15 dias, que é o período médio de incubação da doença, tinha um aumento muito grande de casos da doença. Se a gente tivesse utilizado uma medida única, que prevalecesse em todos os municípios, a gente teria melhores resultados”, afirmou Roberta.

 

VETERINÁRIOS NA PANDEMIA
 

Roberta Melo, além de bióloga e médica veterinária, é especialista em saúde pública veterinária. Ela explica que a atuação do médico veterinário na pandemia causada pelo coronavírus se mostrou muito útil, já que existem evidências que mostram que a covid-19 é uma doença que surgiu, inicialmente, em animais evoluindo até o vírus estar apto a infectar células humanas. 

 

“É o que a gente chama de ‘Saúde Única’. O veterinário acaba sendo o profissional mais habilitado para poder trabalhar com casos que envolvam a saúde humana, animal e ambiental. Por isso o veterinário tem, sim, competência para trabalhar com saúde pública”, afirmou a pesquisadora.

 

PARALISAÇÃO DO ESTUDO
 

Com a criação do programa estadual ‘Minas Consciente’, as informações de notificações de casos começaram a ser repassadas direto para o estado, não mais para as regionais de saúde. Como o estudo era uma parceria da UFU com a SRS Uberlândia, as pesquisadoras não tiveram mais acesso direto às informações.

 

A pesquisadora afirma que por esse motivo, tanto a pesquisa, quanto a parceria com a regional de saúde acabaram em junho de 2020, mas que ainda é possível ter acesso aos dados. Porém, não mais com a agilidade necessária para desenvolver as análises. 

 

“Esses dados ainda ficam disponíveis para o público, é só fazer um cadastro no Sistema Único de Saúde, no próprio Ministério da Saúde. Mas agora essas informações demoram para cair no sistema. A vantagem de antes é que a gente recebia as informações logo que chegava na regional, por isso a gente conseguia fazer as análises. Agora, para quem quiser fazer, talvez a planilha não esteja totalmente atualizada”, finalizou Roberta.

 

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