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28/05/2021 às 10h24min - Atualizada em 28/05/2021 às 10h24min

Uberlândia volta a apresentar saldo negativo de empregos

Setor de serviços e agropecuária influenciaram no resultado; número se mantinha positivo desde junho de 2020

NILSON BRAZ
Setor de construção e indústria foram os únicos que tiveram resultado positivo | Foto: Agência Brasil

O Ministério do Trabalho divulgou, na última quarta-feira (26), os dados de abril do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). Uberlândia, que vinha mantendo um saldo positivo de empregos desde junho do ano passado, contrariou a tendência e fechou o último mês com mais desligamentos do que contratações.

 

De acordo com o levantamento, a cidade teve um total de 7.989 contratações e 8.079 desligamentos. O que significa 1,12% a mais de demissões do que contratações. Porém, o acumulado dos quatro primeiros meses continua positivo. De janeiro a abril de 2021 o saldo final é a criação de 5.867 postos de trabalho. Em relação a igual período de 2020, esse resultado mostra que foram criadas vagas no mercado formal em número superior ao total de vagas perdidas naqueles meses, que foi de 4.329.

 

Os setores que mais impactaram para o resultado de abril foram agropecuária e comércio e serviços, que tiveram mais desligamentos do que contratações, sendo este último o que mais teve impacto. De acordo com a economista e pesquisadora Centro de Estudos, Pesquisas e Projeto Econômico-sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes/UFU) Ester William Ferreira, este foi o setor que mais contribuiu para o saldo negativo, já que no total de admissões o setor contribui com 51,8% mas também participa com 54,4% no total de desligamentos.

 

“Este é, realmente, o setor que mais emprega mão de obra, mas também é o setor mais impactado na pandemia. É um setor bem heterogêneo, mas como tem muitas ocupações e atividades que são presenciais, ele é o mais impactado enquanto a gente não tem um controle eficaz da pandemia, o setor é muito impactado”, afirmou a economista.

 

O vigilante Wellerson Cassiano Miranda da Silva foi uma das pessoas que integraram este dado. Ele foi demitido há mais de um mês e para garantir uma renda, resolveu se aventurar em um negócio próprio de limpeza de sofás.

 

“Continuo procurando um novo emprego, porque o salário era bom. Mas enquanto não aparece eu vou tocando o meu negócio. A gente não sabe como é o dia de amanhã, tem que correr atrás”, disse.

 

SETORES NEGATIVOS

Em números exatos, o setor de serviços na cidade de Uberlândia teve 4.137 contratações, contra 4.395 postos de trabalho fechados, totalizando o maior saldo negativo dentre os setores, que foi de 258 demissões a mais do que admissões no mês de abril. No setor de agropecuária, o segundo mais afetado, foram 208 contratações e 381 demissões, fechando com saldo negativo de 173. E por último, o setor de comércio, que também fechou negativo, teve apenas 16 demissões a mais que contratações, com 1.629 admissões contra 1.643 desligamentos.

 

Coincidentemente, 16 foi o número de funcionários que a empresária Simone Silva Reis precisou dispensar. Com o abre e fecha do comércio por meio dos decretos municipais, as duas lojas de calçados que ela é dona tiveram uma redução no número de vendedores de 20 para quatro.

 

“A princípio a gente tentou segurar os funcionários, no início da pandemia, suspendeu os contratos de trabalho, quando pode voltar com as atividades retomamos os contratos, mas como fechou novamente, tivemos que pagar os salários com os funcionários em casa. Então as lojas sofreram muito, financeiramente, com isso”, afirmou a lojista.

 

SETORES POSITIVOS

Os setores que ainda seguraram o saldo negativo em apenas dois dígitos foram os de construção e indústria. O segmento da construção apresentou saldo positivo de 246, com 1.182 contratações contra 936 demissões. Já a Indústria teve 833 admissões e 725 desligamentos, fechando com saldo positivo de 109.

 

Ainda de acordo com os dados do cadastro, os subsetores que se destacaram no saldo positivo no setor de indústria foram a fabricação de produtos alimentícios; fabricação, manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos; e fabricação de produtos químicos. 

 

“O saldo positivo destes subsetores bate com o que, intuitivamente, a gente percebe. Porque alimentação é uma coisa que traz bastante movimentação no município nesse momento de pandemia, produtos químicos também, por que tem uma maior demanda de produtos para higiene pessoal e da casa, também influenciado pela pandemia, e reparação de equipamentos porque o pessoal estando mais em casa, em home office, a demanda aumenta”, disse Ester.

 

RECUPERAÇÃO

Apesar de os dados municipais apresentarem, no acumulado de 2021, que o saldo é positivo e já ultrapassou o negativo de igual período do ano passado, a economista afirma que ainda seria equivocado atribuir a esses dados, reflexo de uma recuperação da economia. 

 

Isso porque, mesmo não tendo dados locais sobre desemprego, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados nesta quinta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a taxa de desocupação no Brasil fechou o segundo trimestre de 2021 em 14,7%, que corresponde a 14,8 milhões de pessoas em busca de emprego. Mais de 880 mil pessoas a mais do que no ano passado.

 

“Ainda não podemos falar em recuperação da economia. De um lado, não temos os dados do PIB do primeiro trimestre de 2021. De outro, e mais importante, os dados sobre o desemprego no país, sobre a subutilização da mão de obra e sobre o número de informais deixam evidente que a situação trabalhista é dramática”, afirmou Ester.

 

A especialista afirma ainda que é preciso pensar em outros efeitos que podem vir a agravar o quadro de pessoas à procura de emprego em um futuro próximo. Ela cita como exemplo dessa preocupação os efeitos da última onda de casos de covid, que foi mais intensa, e pela falta da confiança que as políticas públicas para o setor de empregos poderiam proporcionar.

 

“Teve a demora na aprovação da continuidade do auxílio emergencial, e ainda com redução do número de beneficiários. Temos os efeitos do Programa de Manutenção de Emprego e Renda, que resulta na não demissão daqueles que aderiram ao programa, e a demora na aprovação da continuidade desse programa. Não dá para saber como ficam os pequenos negócios e seus empregados. Tudo isso pode mudar o quadro das demissões”, finalizou a economista.

 

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