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28/07/2020 às 10h04min - Atualizada em 28/07/2020 às 10h04min

Educadores de Uberlândia comentam sobre os pontos negativos do ensino remoto

Professores acreditam que má oferta de aulas à distância pode prejudicar ano letivo; eles também pedem investimento na educação digital

BRUNA MERLIN
Ensino prestado não oferece qualidade no aprendizado do aluno, principalmente aos que não têm acesso a tecnologias, apontam professores | Foto: Agência Brasil

O ensino à distância foi implantado de forma repentina na vida de muitos professores, alunos e familiares. A necessidade de isolamento social durante a pandemia do coronavírus forçou a adaptação para que os estudantes continuassem tendo acesso à educação, mas a prática tem sido muito diferente da teoria. Educadores de Uberlândia acreditam que as aulas remotas apresentam muitos pontos negativos que podem prejudicar o ano letivo e atrapalhar o futuro dos discentes.

Atualmente, o Brasil abriga famílias de diversos níveis sociais e econômicos e esses são os principais motivos que o ensino à distância não funciona para a grande maioria dos estudantes. Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no mês de abril, mostra que uma em cada quatro pessoas não tem acesso à internet no país. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros.

Elenita Pinheiro de Queiroz Silva, professora de ciências e biologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), acredita que o uso das tecnologias é uma solução boa, mas reforça que muitos pontos devem ser melhorados. “É uma emergência mundial, então os meios virtuais estão do nosso lado já que as escolas apresentam alto nível de aglomeração de profissionais e alunos. Mas, muito precisa ser feito para que o mesmo nível de ensino chegue a todas as crianças e jovens”, ressaltou.

A docente conta que conhece muitos estudantes da cidade que não usufruem de equipamentos eletrônicos e nem estrutura arquitetônica em casa para estudar. Segundo ela, essas condições causam um nível menor de aprendizado o que pode resultar no atraso e ou até mesmo no abandono dos estudos.

A professora também reconhece que as alternativas adotadas pela Prefeitura de Uberlândia, como a distribuição de materiais impressos e videoaulas transmitidas pela televisão, são favoráveis, mas ainda não atingem um nível adequado para a aprendizagem. “São atividades básicas e que não se encaixam nos processos de ensino e aprendizagem estabelecidos nos anos letivos”.

Por fim, Elenita destaca ainda que o conjunto desses fatores pode gerar um déficit muito grande para o aluno no próximo semestre ou ano.

 

“Se juntarmos atividades básicas com falta de acesso a equipamentos, isso irá gerar um problema muito grande para o aluno no próximo ano. Caso as escolas voltem de forma presencial, ele já irá aprender outros assuntos sem ao menos ter estudado de forma correta as matérias deste ano”, frisou.

 
PAIS NÃO SÃO PROFESSORES
O ensino remoto solicita uma maior participação dos pais ou responsáveis nos estudos dos filhos, principalmente quando se trata de crianças que estão na primeira etapa do ensino fundamental e necessitam de um maior acompanhamento. Patrícia Rodrigues de Souza Morais, professora da rede municipal de ensino que administra as matérias de Geografia e História para turmas de 1ª ao 5ª ano, conta que a adaptação está sobrecarregando muitos familiares.

 

“Todos nós caímos nessa situação e todos tivemos que nos reinventar para continuar os estudos das crianças e jovens. Os pais e responsáveis são uma peça importante para manter uma rotina de estudo às crianças que ainda não têm autonomia para entender a situação e isso está sendo uma dificuldade muito grande”.


A docente de 33 anos consegue enxergar o esforço dos familiares que querem auxiliar os estudantes, mas a falta de conhecimento sobre algum assunto ou atividade é outra barreira que dificulta. Além disso, ela explica que muitos responsáveis continuam trabalhando de forma normal na quarentena, o que adiciona mais uma dificuldade na administração do tempo com as crianças.

“Todos esses empecilhos estavam resultando na entrega de atividades incompletas. Algumas apostilas não estavam nem sendo devolvidas às escolas. Com isso, nós, professores tivemos que inovar e começamos a ligar, a disponibilizar nossos números, criamos grupos de WhatsApp para ajudar essas famílias, gravamos videoaulas independentes e enviamos aos alunos, entre outras alternativas”, complementou.

As mudanças e as sobrecargas impostas aos pais também começaram a gerar a impaciência. De acordo com Patrícia, muitos responsáveis não querem acompanhar as crianças nos estudos e acabam se estressando com as dúvidas e dificuldades que elas apresentam.

“Muitos pais batem, gritam e humilham o aluno dizendo que ele não sabe de nada e que não faz nada certo. Isso tudo afeta o psicológico da criança que começa a acreditar que não é capaz, acaba preferindo desistir e pega raiva da matéria e dos estudos. Infelizmente, os familiares precisam acompanhar essa fase e entender que errar e ter dúvidas faz parte do crescimento educacional”.

Apesar das circunstâncias negativas, a professora do ensino fundamental acredita que o ensino em casa trouxe algumas vantagens. “É uma oportunidade dos pais se aproximarem dos seus filhos e de reconhecerem a importância dos estudos. Estar por dentro daquilo que eles aprendem e ter uma participação maior na educação deles”, finalizou.
 
VOLTA ÀS AULAS PRESENCIAIS
Nos últimos dias, muito se tem discutido sobre a volta às aulas presenciais e a possibilidade divide opiniões. O governador Romeu Zema (Novo) já garantiu que o ensino presencial nas escolas de Minas Gerais será retomado de forma gradual no segundo semestre deste ano. O chefe do Executivo estadual reconheceu as deficiências das aulas à distância e disse que pretende viabilizar a retomada da rotina escolar o quanto antes, atendendo às recomendações de segurança das autoridades de saúde.

Para a professora da UFU Elenita Pinheiro de Queiroz Silva, essa não é a melhor opção para resolver a situação. “Considerando aquilo que é divulgado diariamente sobre a evolução da Covid-19, acredito que seja de total irresponsabilidade retornar com as atividades presenciais. A exposição e a proliferação aumentarão sem dúvidas. Muitas escolas não têm nem infraestrutura para evitar a aglomeração”, ressaltou.

Ainda de acordo com a educadora, a melhor solução para evitar as dificuldades do ensino remoto não é liberar as aulas presenciais e sim investir em melhorias para a educação digital.

 

“Esse momento não é oportuno para discussões sobre a reabertura das escolas. Esse momento seria ideal para que o Governo aplicasse os fundos em tecnologias que alcance até as famílias menos privilegiadas e conseguir oferecer uma educação boa a todos os cidadãos”, concluiu.


Sobre o retorno das aulas presenciais no Município, a Prefeitura informou à reportagem que não há previsão.

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