O processo de polinização é muito importante para determinadas culturas agropecuárias, como a maçã e o melão. Outras utilizam a técnica para melhorar a qualidade do grão gerando maior produtividade, como no caso do café em que o aumento pode ser de até 30% com a introdução de agentes polinizadores no momento certo da florada.
Segundo o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) Alberto José de Almeida, existem mais de duas mil espécies de abelhas no Brasil que são polinizadoras e todas ajudam na polinização, sendo a europeia a mais usada na agricultura.
“A polinização garante a perpetuação das espécies e o aumento da produção de frutos e grãos. Se tiver uma planta que não é polinizada, deixa de produzir grãos. O café, se a flor não for polinizada, cai, não produz grão. Se sofrer uma polinização sem a presença do inseto, costuma perder a qualidade do grão. Até o sabor muda com a polinização das abelhas, um café mais adocicado”, disse.
Com essa importância da polinização por abelhas, abriu-se um mercado de locação de colmeias para as propriedades rurais. Segundo Alberto, uma única abelha visita em média 200 flores por dia, coletando tanto o pólen quanto o néctar.
“Se pegar um enxame bom, tem 60 mil abelhas, e imaginar uma abelha visitando 200 flores por dia, um enxame visita 10 milhões. E o homem também a explorando na produção dos produtos, como mel, pólen, cera e própolis, faz com que o produtor consiga multiplicar esses enxames e ajuda na polinização”.
MERCADO
Com essa visão de mercado, a empresa paulista AgroBee desenvolveu um aplicativo que oferece a cafeicultores de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo colmeias de abelhas africanizadas, ou as nativas sem ferrão, para que produtores possam polinizar suas plantações e garantir um produto de melhor qualidade.
“A Agrobee oferece esses serviços para cafeicultores, com o monitoramento do momento exato da entrada das abelhas, um plano de polinização para saber quantas colmeias serão necessárias e em qual localização, quanto tempo permanecerão para atingir um melhor resultado”, explicou Guilherme J. G. Sousa, um dos sócios da Agrobee.
Conhecido como “Uber das Abelhas”, o aplicativo funciona da mesma maneira que o app de transporte. O apicultor parceiro se cadastra, e surgindo demanda é acionado para levar suas colmeias até a propriedade rural.
“A gente trabalha com uma rede de apicultores parceiros e atualmente temos mais de 30 mil colmeias cadastradas no sistema. Trabalhamos com três pilares: produtividade, o serviço tem que se pagar com aumento; sustentabilidade, porque aumenta produtividade sem aumentar as pegadas de carbono e a hídrica; e a responsabilidade social, que trabalha com apicultores regionalizados gerando nova fonte de renda”, disse Guilherme.
E os produtores, que geralmente têm uma característica conservadora, vão se rendendo aos poucos à tecnologia para garantir melhores resultados nas lavouras. “Apresentamos o projeto para eles, que analisam e gostam. Mas antes fazem em áreas pequenas dentro da fazenda para experimentar e vão crescendo as áreas com o passar dos anos”.
E a ideia foi tão bem elaborada que a empresa recebeu recentemente um aporte financeiro de uma investidora, a AgroVen, que enxergou no aplicativo uma grande oportunidade em um mercado que, no ano de 2018, gerou R$ 48 bilhões em movimentações, segundo o Relatório Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil.
“Entendemos que a AgroBee e sua solução de polinização inteligente têm um enorme potencial em um momento que o mundo busca aumento na produção de alimentos, mas com uma utilização cada vez maior de implementos biológicos, considerados mais amigos do meio ambiente e da saúde humana”, afirma o presidente do Conselho do AgroVen, Silvio Passos.