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23/06/2020 às 15h29min - Atualizada em 23/06/2020 às 16h06min

Tentativas de suicídio aumentam durante período de isolamento social em Uberlândia

OMS adverte que impacto da pandemia na saúde mental da população é preocupante; psicólogo explica fatores que motivam comportamento suicida

BRUNA MERLIN
Psicólogo, Leonardo Abrahão explica sobre fatores que causam o comportamento suicida | Foto: Arquivo Pessoal

O número de tentativas de suicídio em Uberlândia aumentou cerca de 22,5% nos primeiros cinco meses de 2020, se comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados, repassados pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, mostram que foram 133 registros em 2019, enquanto neste ano foram 163.
 
Ainda de acordo com as informações do órgão de segurança e prestação de socorro, os índices mais expressivos foram registrados durante os meses de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus. Em março deste ano, por exemplo, foram computados mais de 10 casos a mais de tentativas de suicídio em relação a 2019. O acréscimo também se repete em abril. Veja a tabela abaixo.
 
A quantidade de tentativas suicidas em âmbito estadual também aumentou. Em todo o estado, houve aumento de pouco mais de 6% nos primeiros quatro meses de 2020. De janeiro a abril de 2019, foram realizados 353 atendimentos e no mesmo período deste ano foram 376. Os registros referentes ao mês de maio ainda não foram divulgados.
 
Os dados do Corpo de Bombeiros também revelam uma elevação no número de suicídios consumados em todo o estado. Nos primeiros quatro meses do ano anterior foram registrados 70 casos e, em 2020, a quantitativo subiu para 79.
 
Em contrapartida, o número de registros de suicídios consumados caiu em Uberlândia. Em 2019, de janeiro a maio, a cidade teve oito ocorrências e neste ano foram três no mesmo período.

 

TENTATIVAS DE SUICÍDIO EM UBERLÂNDIA – 2019/2020

 

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Total

2019

32

25

26

22

28

133

2020

30

25

39

41

28

163



PANDEMIA
A Covid-19 e todos os problemas que surgiram com ela, como a crise econômica e política, podem ser consideradas algumas das razões que intensificam os fatores causadores do comportamento suicida. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante.
 
O psicólogo de Uberlândia, Leonardo Abrahão, explicou que a crise suicida acontece por diversos fatores de risco que são chamados de predisponentes e precipitantes. O primeiro está relacionado à história de vida do sujeito que é construída por momentos desde a infância.
 
“Os fatores predisponentes estão relacionados à formação do sistema psicológico da pessoa que é construído desde a infância. Se ela passou por situações traumáticas como abusos psicológicos, físicos ou sexuais, isso tudo pode vir à tona no futuro e influenciar os transtornos mentais como depressão, ansiedade, bipolaridade e alcoolismo, resultando no comportamento suicida”, explicou.
 
Ainda de acordo com Abrahão, os fatores precipitantes se tratam de acontecimentos presentes que, se ligados aos traumas do passado e transtornos mentais, podem servir como um gatilho para a prática de suicídio. “Uma perda inesperada, um desemprego ou um rompimento amoroso podem ser a gota d’água para o suicídio”, detalhou o profissional.
 
Leonardo também esclareceu que o autoextermínio nunca está ligado somente a uma causa. Para ele, a tensão, o isolamento social, a preocupação com o futuro e o desespero que a pandemia trouxe são algumas das razões que podem aumentar e intensificar as chances do comportamento suicida.
 
“O ato de tirar a própria vida é relacionado a diversas razões e a um estímulo que faz com que a pessoa tente sanar sua dor desta forma. Cerca de 90% das pessoas que cometem suicídio foram diagnosticadas com transtornos mentais e isso ligado a outros fatores como desemprego, perdas ou situações vergonhosas podem agravar a situação”, frisou.
 
AJUDA
A OMS diz que 9 em cada 10 suicídios podem ser evitados através de tratamentos e acompanhamento psicológico. Para o psicólogo Leonardo Abrahão, que já publicou um livro sobre o assunto, o ato de cuidar dos indivíduos e mudar a educação da sociedade são algumas das influências que podem fazer com que todos os suicídios sejam evitados.
 
Abrahão explicou que ainda existe um grande tabu e preconceito com as pessoas que apresentam transtornos mentais e a principal medida para esse comportamento mudar é oferecer conhecimento sobre a psicoeducação à população. “Ainda existe a ideia de que é frescura e as pessoas que sofrem com algum problema ficam com vergonha de falar, de pedir ajudar e acabam sanando a dor e o sofrimento cometendo o suicídio”, complementou.
 
A educação sobre o assunto, além de abrir portas para que as pessoas busquem ajuda, também prepara amigos, familiares, professores e colegas a identificarem os sintomas de um transtorno mental no outro e assim ajudá-lo. Algumas frases ou palavras podem ajudar na identificação de algum problema como: “essa é a última vez que você me vê’’, ‘‘eu preferiria estar morto’’, ‘‘eu não aguento mais’’ ou ‘‘sou um estorvo e não sirvo para nada’’.
 
“Quando há identificação de algo errado, a pessoa pode oferecer sua compreensão e seu tempo para que o sujeito seja ouvido. É importante que não haja julgamentos, conselhos e opiniões. Em seguida, essa pessoa pode ajudá-lo a procurar ajuda profissional”, explicou Leonardo.
 
ATENDIMENTOS
O Centro de Valorização da Vida (CVV), que existe desde 1962, oferece esse espaço de apoio emocional gratuitamente, atuando na prevenção ao suicídio, para todas as pessoas que querem e precisam conversar. Os atendimentos são feitos por voluntários preparados para auxiliar o outro em momentos difíceis.
 
“Nosso objetivo é prestar atenção no sentimento das pessoas. Não fazemos julgamento, não fazemos sugestões e muito menos damos soluções para elas. Nosso serviço é para que a pessoa desabafe, converse, se sinta acolhida e coloque a angústia para fora. Damos apoio da forma como a pessoa solicita e se sente segura”, detalhou o voluntário da CVV em Uberlândia, Marco.
 
Qualquer pessoa que esteja enfrentando qualquer problema pode realizar um atendimento na CVV de forma gratuita através de ligações.  Segundo Marco, tudo é feito de forma sigilosa e nenhum dado pessoal é pedido ao interessado.
 
“Estamos aqui para ouvir qualquer tipo de problema. Nenhum é menor que o outro e queremos que todos as consigam a ajuda necessária para enfrentar o problema”, finalizou.
 
Se você se identificou com as situações relatadas no texto e se está passando por um momento difícil, entre em contato com a entidade de apoio CVV em Uberlândia, por meio do número 188.
 

 
























 
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