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23/12/2019 às 08h30min - Atualizada em 23/12/2019 às 08h30min

Ocorrências de embriaguez ao volante dobram nas BRs da região

Número de autuações nas rodovias federais do Triângulo Norte aumentou mais de 100% em um ano

SÍLVIO AZEVEDO
No ano passado foram 307 motoristas autuados e 11 presos, enquanto em 2019 esse número aumento para 719 autuações | Foto: Sílvio Azevedo
Com o fim de ano as estradas da região vão receber maior fluxo de veículos com famílias viajando para as festas de Natal e Ano Novo. Com isso, aumenta também o risco de encontrar pelo caminho algum motorista irresponsável dirigindo sob efeito de bebidas alcóolicas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 4% das mortes no planeta tem algum envolvimento com o álcool. Isso representa algo em torno de 2,3 milhões de vidas perdidas.

Quando se trata de trânsito, a situação fica ainda mais grave. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), nos cerca de 600 km de rodovias federais na região do Triângulo Norte, o número de autuações por embriaguez no volante mais do que dobrou entre 2018 e 2019.

No ano passado foram 307 motoristas autuados e 11 presos, enquanto em 2019 esse número aumento para 719 autuações (até 20 de dezembro) e 21 prisões. Segundo o inspetor da Polícia Rodoviária Federal Leonardo Pires, houve uma nova percepção de locais com possíveis aumentos do número de condutores em situação de embriaguez.

“O número de infrações aumentou devido as ações mais focadas no combate a esse tipo de conduta. A gente reviu alguns locais de fiscalização, tentando identificar novos pontos e reforçando a fiscalização neles”.

Na última semana, o motorista de uma carreta carregada com milho foi abordado por policiais rodoviários no posto da PRF que fica na BR-365, em Uberlândia, com sintomas de embriaguez. Após o teste do etilômetro, ficou constatado que ele havia consumido bebida alcóolica e o exame apontou 1,47 miligramas de álcool por litro de ar expelido pelos pulmões, quase cinco vezes mais o limite para configurar infração administrativa. Foi o maior índice registrado em Minas Gerais neste ano.

A ação só foi possível graças à denúncia anônima de motoristas que viram o carreteiro transitando na rodovia em zigue-zague. “É importante que motoristas que percebam algum veículo com comportamento anormal informem a PRF pelo telefone 191, porque a gente pode fazer essa intervenção e tirar esse cidadão que pode causar um acidente”, explicou inspetor Pires.

Inspetor Pires diz que houve nova percepção de locais com uso de bebidas | Foto: Sílvio Azevedo


Níveis de embriaguez
Durante uma fiscalização, existem duas formas de identificar um motorista que consumiu alguma bebida alcóolica. A primeira é o teste do etilômetro, popularmente conhecido como bafômetro, em que o motorista assopra o aparelho que identifica a quantidade de álcool por litro de ar expelido pelos pulmões.

“Se der até 0,04 miligramas de álcool por litro de ar expelido pelos pulmões, o condutor não está sujeito a penalidade. Passou disso, de 0,05mg/l a 0,34mg/l, o condutor comete infração administrativa, de acordo com o artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro (CBT). Agora, se passar de 0,34mg/l, além de sofrer as sanções administrativas, ele comete crime, segundo o artigo 306 do CBT. A pessoa é levada em flagrante pela Polícia Civil e autuada. O delegado decide se vai arbitrar fiança ou não”, explicou o inspetor.

A segunda forma é a identificação visual por parte dos agentes policiais. “Se o condutor se recusar e o policial identificar que ele tem sinais notórios de embriaguez, por meio de um termo de constatação de embriaguez, que vai constar quais são os sintomas, vídeos, tudo isso serve como prova que o condutor estava dirigindo sob efeitos de álcool”.

Fiscalização de fim de ano
Este ano os feriados de Natal e Réveillon caem no meio da semana. A expectativa da PRF é que o fluxo de veículos seja mais diluído durante o período. Mesmo não havendo concentração em dia específico, o número de veículos de passeio tem aumentando e as ações de fiscalização começaram ao longo da última semana.

“No que se refere à fiscalização de condutores que consumiram bebidas alcoólicas, é um dos nossos principais focos de fiscalização, pois o motorista sobre efeito de álcool está mais suscetível a se envolver em acidentes. A gente faz isso com equipes de reforço, ordinárias, ações de fiscalização de todos os condutores abordados, que são convidados a fazerem o teste do etilômetro para verificar se estão em condições de dirigir”, disse o inspetor Pires.
 
O que causa a embriaguez
A resposta óbvia a essa pergunta é ingerir bebida alcóolica. Mas é preciso aprofundar um pouco mais, explorando a química do processo que acontece no corpo humano. Lembrando que há variação de gênero, idade e estrutura física corporal para o tempo de cada ação, além da quantidade de álcool consumido.

No começo, o álcool vai para o estômago onde é absorvido e segue pela corrente sanguínea passando pelos órgãos e até o cérebro. Nos primeiros 10 minutos ele se transforma em acetaldeído, e o corpo tenta se livrar por ser “um veneno”.

O acetaldeído é resultado da ação de uma enzima chamada álcool-deidrogenase, presente no fígado, que destrói a molécula do álcool.

Se o consumo for pouco, o período de ação do acetaldeído é curto e os estragos são menores, pois ele é atacado por outra enzima, o aldeído-desidrogenase, junto com outra substância, a glutationa, que transformam o acetaldeído em acetato, uma espécie de vinagre, não tóxica.

Mas a glutationa armazenada no fígado não é suficiente para uma grande quantidade de bebida alcoólica, deixando o supertóxico acetaldeído por mais tempo no organismo. Além de aumentar a pressão arterial, a substância pode causar derrame, mas, mais comumente, causa fadiga, náuseas, irritação do estômago, dor de cabeça, a chamada ressaca.

Entre os 45 e 90 minutos, o nível de álcool no corpo atinge o ápice e a ação diurética começa a funcionar: pode demorar para que você se levante pela primeira vez para urinar, mas esse passeio vai ser frequente até o fim da farra.

Segundo a médica psiquiatra Gabriela Scalia Gervásio, são vários órgãos afetados pelo consumo excessivo do álcool, entre eles o cérebro, com efeitos que vão da euforia a perda do autocontrole.

“O álcool faz o cérebro produzir mais serotonina, que é responsável por mandar uma mensagem de prazer, humor, melhorar o humor e reduz ansiedade. Existem outros neurotransmissores que são afetados, por exemplo, que a gente chama de glutamato e gaba. O álcool inibe o glutamato, que por sua vez vai regular o gaba. O gaba, quando é liberado no cérebro, dá um efeito no nosso sistema depressor. Deprime algumas ações no nosso cérebro, como a coordenação. Por isso a gente perde a coordenação, o autocontrole.”

No trânsito, o consumo excessivo de álcool, associada com a ação depressora pelo efeito de estimulo maior do gaba, faz perder coordenação motora, reflexos automáticos, implicando diretamente num risco muito grande de acidentes.

“Na cabeça dele [do motorista] a velocidade está normal, mas ele tem uma lentificação exterior motora e psíquica, mas que, dentro da crítica de quem está alcoolizado, para ele, está pensando e agindo totalmente normal, mas na hora que vai botar em prática aquilo fica tudo mais lento, reflexo, ações, pensamento. Obviamente a gente entende porque aumenta o risco de acidentes”, explicou Gabriela.

O coração também é um órgão afetado. Não por causa de um amor perdido ou não correspondido, como mostram as letras de músicas sertanejas. Mas por causa da perda de nutrientes durante a excessiva ida ao banheiro para urinar.

“No coração a gente tem alteração, pois na urina você tem magnésio, potássio e eles alteram o batimento cardíaco. Você pode ter arritmias dependendo da quantidade de álcool que você consome”, explicou a psiquiatra.
 
Medições do teste de etilômetro e suas consequências
- Até 0,04 mg/l – Tolerância técnica do aparelho. Condutor não está sujeito a penalidade
- De 0,05mg/l até 0,34mg/l – Infração administrativa por dirigir sob efeito de álcool, conforme artigo 165 do CTB
Artigo 165 –
  • Infração - gravíssima
  • Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses
  • Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo
- Acima de 0,35mg/l - além de sofrer as sanções administrativas, ele comete crime de trânsito, conforme artigo 306 do CTB
Artigo 306 –
  • Infração – gravíssima (7 pontos na carteira)
  • Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 meses
  • Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo
  • Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
 
Relação do consumo de álcool e os efeitos no corpo humano:
Concentração de álcool no sangue Efeitos sobre o corpo
0,01-0,05 g/100 ml • Aumento do ritmo cardíaco e respiratório.
• Diminuição das funções de vários centros nervosos.
• Comportamento incoerente ao executar tarefas.
• Diminuição da capacidade de discernimento e perda da inibição.
• Leve sensação de euforia, relaxamento e prazer.
0,06-0,10 g/100 ml • Entorpecimento fisiológico de quase todos os sistemas.
• Diminuição da atenção e da vigilância, reflexos mais lentos, dificuldade de coordenação e redução da força muscular.
• Redução da capacidade de tomar decisões racionais ou de discernimento.
• Sensação crescente de ansiedade e depressão.
• Diminuição da paciência.
0,10-0,15 g/100 ml • Reflexos consideravelmente mais lentos.Problemas de equilíbrio e de movimento.
• Alteração de algumas funções visuais.
• Fala arrastada.
• Vômito, sobretudo se esta concentração for atingida rapidamente.
0,16-0,29 g/100 ml • Transtornos graves dos sentidos, inclusive consciência reduzida dos estímulos externos.
• Alterações graves da coordenação motora, com tendência a cambalear e a cair frequentemente.
0,30-0,39 g/100 ml • Letargia profunda.
• Perda da consciência.
• Estado de sedação comparável ao de uma anestesia cirúrgica.
• Morte (em muitos casos).
A partir de 0,40 g/100 ml • Inconsciência.
• Parada respiratória.
• Morte, em geral provocada por insuficiência respiratória.
Fonte: Centro de informações sobre saúde e álcool (Cisa)






 
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