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19/11/2019 às 08h02min - Atualizada em 19/11/2019 às 09h40min

Mais vereadores usaram empresa suspeita para gastos de gabinete em Uberlândia

William Alvorada e Ismar Prado gastaram verba com empresa investigada pelo Gaeco; notas de entrada comprovam que empresa fantasma não comprou insumo gráfico para atender demandas

SÍLVIO AZEVEDO E CAROLINE ALEIXO
No alto, foto tirada em 2015 do imóvel que abriga empresas investigadas e abaixo fachada atual | Foto: Diário de Uberlândia
Além dos vereadores Alexandre Nogueira (PSD) e Juliano Modesto (suspenso do SD), que estão presos em virtude das operações Torre de Babel e O Poderoso Chefão, o Diário de Uberlândia identificou outros vereadores que gastaram parte da verba indenizatória com a empresa Ideal Assessoria e Serviços, que seria de fachada conforme aponta o Ministério Público Estadual (MPE).

Os vereadores Ismar Prado (PMB) e o ex-vereador William Alvorada (PRP) gastaram cerca de R$ 117 mil entre os anos de 2016 e 2018. Alvorada foi ordenador de despesas da Câmara Municipal, entre 2015 e 2016, durante a gestão de Nogueira à frente da Presidência da Casa e não conseguiu a reeleição para vereador. 

Entre os meses de outubro e dezembro de 2016, Alvorada foi reembolsado em R$ 23,4 mil. O período de Ismar Prado é bem maior, de fevereiro de 2016 a janeiro de 2018, tendo recebido R$ 93.480
 de restituição. Os dados foram apurados pelo Diário de Uberlândia analisando as contas publicadas no Portal Transparência da Câmara Municipal de Uberlândia.

Ismar Prado ainda adquiriu serviços com a Cooperativa de Transportes de Passageiros e Cargas (Coopass) no período de janeiro a abril de 2016, com gastos no total de R$ 5.828,88. A Coopass integra o grupo econômico investigado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para desvio de dinheiro público a partir da prestação de serviço de transporte escolar ao Município. 

Já os vereadores Juliano Modesto e Nogueira, principais alvos das investigações do MPE, usaram cerca de R$ 527 mil da verba adquirindo serviços com a empresa.

Os dados do Portal Transparência também mostraram que o ex-presidente da Câmara apresentou notas da Esteves Gonçalves e Assessoria Ltda e da Ideal Assessoria e Serviços Ltda, que somadas chegam ao valor de R$ 359,64 mil entre maio de 2013 e março de 2018. Já Juliano Modesto foi ressarcido em R$ 167,28 mil com notas da Ideal.

MAIS R$ 66 MIL
Como os gastos com a verba indenizatória estão disponíveis apenas a partir de 2014, o Diário protocolou um ofício na Câmara de Uberlândia, na tarde de ontem (18), solicitando ao presidente da Casa as planilhas referentes ao exercício de 2013, ano em que a empresa investigada foi constituída. Conforme o pedido, os dados poderiam ser disponibilizados no próprio Portal da Transparência ou enviados à produção do jornal para fins de apuração. 

Até o fechamento da edição não houve resposta. Contudo, a reportagem conseguiu acesso às informações sem o intermédio da Câmara e constatou que, de todos os vereadores da legislatura passada, Alexandre Nogueira adquiriu mais de R$ 66,2 mil em serviços gráficos com a empresa suspeita. 

A razão social que consta nas notas é Esteves e Gonçalves Assessoria e Serviços LTDA e com funcionamento no mesmo endereço da Ideal. Os gastos ocorreram entre maio e dezembro daquele ano. A Promotoria de Justiça confirmou ao Diário que se trata da mesma empresa, mas na época em que Ideal Assessoria era apenas o nome fantasia. 

 De maio a dezembro de 2013, Nogueira apresentou notas pela mesma empresa, porém com outra razão social | Foto: CMU/Reprodução

Notas comprovam que empresa não comprava insumos
De acordo com os promotores do Gaeco, a Ideal Assessoria era contratada para oferecer, em tese, serviços de gráfica para os gabinetes dos vereadores. No entanto, sete notas de entrada emitidas à empresa entre 2013 e 2019, as quais o Diário teve acesso, mostram que a empresa quase não adquiriu insumos gráficos para atender a alta demanda na Câmara. 

Entre as mercadorias discriminadas estão um iPhone com nota no valor de R$ 3.984, R$ 823 em peças automotivas, aparelhos e acessórios para ar condicionado com montante superior a R$ 8 mil, além de móveis como armários e gaveteiros cujo valor da nota foi de R$ 4.195. 

A única nota fiscal de movimentação de mercadorias recebidas pela empresa que remete a eventuais produtos gráficos trata da aquisição de pastas e lâminas de papel couché, no valor de R$ 1.620 a compra. A nota foi emitida em dezembro de 2018, após os fatos apurados na Operação O Poderoso Chefão e não há aquisição, sequer, de produtos como cartuchos de tinta ou equipamentos de gráfica.   

Única nota de aquisição de mercadorias pela Ideal, de insumos gráficos, foi emitida no final de 2018, levantando as suspeitas sobre se tratar de empresa fantasma | Foto: Diário de Uberlândia

Indícios de lavagem de dinheiro
Outro apontamento feito pelo MPE é que, tanto a Ideal, como as outras empresas que supostamente integram a organização montada com o intuito do desvio de verbas não apenas no transporte de alunos, como também na prestação de serviços aos vereadores, eram utilizadas como forma de lavar o dinheiro adquirido de forma ilícita. 

Além disso, elas funcionam em mesmo endereço físico na rua Paraíba, no bairro Umuarama. Uma foto tirada da fachada do imóvel em 2015 e enviada ao jornal mostra a logomarca de seis empresas, sendo cinco delas alvos das investigações, incluindo a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) – criada como uma “associação espelho” da Coopass, de acordo com o Gaeco. 
Há indícios de que a empresa também recebeu valores por serviços nunca prestados à Coopass e à ATP. O mesmo ocorreu com a Limiar Transportes, que atualmente presta o serviço de transporte escolar ao Município de Araguari e também é uma das investigadas. 

O proprietário da Ideal é Marcos Lúcio Esteves, que também seria dono do prédio comercial onde funciona a sede das empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico. A Justiça decretou a prisão preventiva dele, porém ele não foi localizado para cumprimento do mandado durante a operação e se encontra foragido.  

 
Também estaria envolvida no esquema a empresa de contabilidade Triaud, que pertence ao ex-controlador da Câmara Adeilson Soares e apontado como responsável pela parte financeira da organização criminosa. Atualmente, apenas o escritório do investigado, que também se encontra preso, estaria funcionando no local conforme identificação na fachada do imóvel. 

A apuração do Gaeco aponta ainda que os dirigentes das associações de transporte impunham que os motoristas cooperados contratassem os serviços das empresas que compunham o grupo, seja para manutenção dos veículos, proteção veicular, entre outros. 

OUTRO LADO
Procurados pelo Diário de Uberlândia, Ismar Prado estava com o telefone programado para não receber chamadas. A reportagem tentou contato com o gabinete, onde uma assessora atendeu e ficou de localizar o vereador para dar um retorno, o que não aconteceu até o fechamento desta edição. Já o celular de William Alvorada chamou até cair nas diversas vezes que a reportagem tentou contato. Ao final do dia, o telefone estava desligado.

A reportagem também procurou a defesa de Modesto e Nogueira para comentar o assunto e não teve resposta. Na última semana, o escritório que representa os dois informou que os clientes estavam à disposição do Ministério Público e da Justiça para qualquer esclarecimento relacionado às verbas indenizatórias. 

A defesa de Adeilson Soares Barbosa informou que já entrou com um pedido de habeas corpus, que já está na 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça para ser analisado pelo desembargador Anacleto Rodrigues. Disse ainda que não existe denúncia formal do Ministério Público e todas as acusações são de forma descontextualizada de qualquer elemento probante e que tudo será provado no decorrer da instrução processual. 

Os advogados de Marcos Esteves não foram localizados para comentar. 


* ERRATA: O Diário errou ao informar que o vereador Ismar Prado gastou R$ 175.620 de verba indenizatória com a empresa Ideal Assessoria e Serviços Ltda. O valor real das notas apresentadas foi de R$ 93.480.O texto foi corrigido às 14h09 desta terça-feira (19).




 
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