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13/08/2019 às 07h32min - Atualizada em 13/08/2019 às 17h41min

Secretários de Araguari são alvos de operação que aponta desvios de verba para publicidade

Segunda fase da Operação Hoopoe foi deflagrada pelo Gaeco de Uberlândia nesta terça-feira (13); investigados teriam destinado recursos públicos para empresas em nome de laranjas

CAROLINE ALEIXO
Denúncia aponta que investigados desviaram dinheiro para empresas de comunicação do grupo | Foto: Diário de Uberlândia
Mandados judiciais foram cumpridos contra agentes políticos e outros investigados na cidade de Araguari, na manhã desta terça-feira (13), durante a segunda fase da Operação Hoopoe, realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Eles são acusados de integrarem esquema de desvio de recursos destinados para publicidade institucional da Prefeitura de Araguari.

Ao todo foram expedidos 14 mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva contra o secretário municipal de Gabinete, Marco Antônio Farias, que encontra-se foragido, além de uma ordem judicial para afastamento imediato do cargo público contra o secretário de Educação, Werlei Ferreira de Macedo.  Na casa de Marco foi apreendido um aparelho celular.

As investigações do núcleo regional do Gaeco em Uberlândia apontaram que os dois comandavam o esquema para desviar grande parte da verba municipal para publicidade. Segundo as informações do Ministério Público Estadual (MPE), a destinação do dinheiro era definida pelos investigados e repassada para empresas que pertenciam a eles, contudo estavam em nome de laranjas.

O MP não informou o valor do prejuízo causado aos cofres públicos, mas ressaltou que o investimento previsto no contrato ainda vigente para utilização dos recursos é de R$ 3,5 milhões ao ano. Nem todo o dinheiro era direcionado às empresas do grupo, contudo, há muitos repasses empenhados e sem destinação que serão apurados a partir da deflagração da operação.

A operação conta com o apoio das Promotorias de Justiça de Araguari, Polícia Civil e Polícia Militar (PM). Os mandados expedidos pelo juiz da 2ª Vara Criminal da comarca de Araguari, Cássio Macedo Silva, foram cumpridos na casa dos investigados, na sede das empresas envolvidas, nas secretarias de Educação, Gabinete e outras repartições pertencentes ao Município. 

Em nota enviada no final da tarde, o Município de Araguari informou que "disponibilizou prontamente os documentos e informações solicitadas pelas autoridades, via mandado judicial", e que está à disposição para providências que se fazem necessárias. A Administração não comentou sobre a prisão e afastamento dos dois servidores e nem acerca dos eventuais desvios da verba municipal. 

Delegado regional da Polícia Civil de Araguari, Rodrigo Faria, e promotores do Gaeco, Daniel Martinez e Adriano Bozola, falaram à imprensa sobre o caso | Foto: Caroline Aleixo

ENTENDA O ESQUEMA
A partir do que foi coletado na primeira fase das investigações, a Promotoria de Justiça de Araguari solicitou apoio do Gaeco para investigar o esquema das verbas de publicidade. Foi apurado que, a partir de 2018, a Prefeitura realizou um processo licitatório para contratar uma empresa que pudesse gerenciar os gastos com publicidade. Mas parte dos recursos era remetida para as empresas dos agentes públicos.

“O material apreendido deixou claro que o proprietário da empresa que venceu a licitação não tinha poder de decisão sobre as verbas e quem controlava o destino e o conteúdo da publicidade eram os dois secretários. Eles são proprietários de um grupo econômico de empresas de comunicação, colocadas em nome de laranjas”, disse o coordenador do Gaeco, Daniel Marotta Martinez, durante entrevista à imprensa na sede do MPE em Uberlândia nesta manhã (13).


Segundo o promotor de Justiça, as empresas de Werlei estavam em nome da mãe e do filho, enquanto as de Marco estavam no nome de um ex-agente penitenciário e de uma terceira pessoa, cuja ligação com o secretário não foi informada. Foram identificadas quatro empresas do grupo que recebiam os recursos desviados da prefeitura e intermediados pela agência licitada.

As empresas funcionam no mesmo endereço e há indícios de que nem sempre os serviços eram devidamente prestados ao Município. "Algumas empresas não prestavam [o serviço]. Por exemplo, o Jornal Minas, de circulação em Araguari. Há pagamentos para esse jornal em meses que ele não circulou", disse Martinez.


O Gaeco ofereceu cinco denúncias contra os investigados e eles respondem pelos crimes de organização criminosa, peculato, falsidade ideológica – uma vez que as empresas estavam em nome das pessoas que não eram as reais proprietárias – e lavagem de dinheiro em virtude da aplicação dos recursos municipais na atividade econômica das empresas.

Mandados foram cumpridos na manhã desta terça-feira (13) em Araguari | Foto: Diário de Uberlândia


OPERAÇÃO HOOPOE
A ação é um desdobramento da Operação Hoopoe, que ocorreu em abril de 2018, e culminou na prisão de três pessoas e no afastamento de servidores envolvidos no desvio de verbas incluindo da Superintendência de Água e Esgoto de Araguari (SAE). O secretário Marco Antônio também foi investigado na primeira fase e chegou a ser afastado da função por um tempo.

A apuração do MPE em conjunto à Polícia Civil foi iniciada a partir de informações sobre a possível venda irregular de túmulos no cemitério municipal de Araguari. Em seguida, foi descoberto que os agentes se aproveitavam dos cargos públicos para obter benefícios políticos e econômicos em proveito próprio ou de terceiros.

Com os celulares e outros materiais apreendidos na primeira fase, o Gaeco deu prosseguimento às investigações e detectou a existência do núcleo focado no desvio das verbas para propaganda. Nove pessoas são suspeitas de participarem do esquema sendo os laranjas, os dois servidores, o proprietário da empresa que intermediava o gasto das verbas e outros investigados ligados ao grupo econômico.

O Gaeco solicitou a prisão preventiva e temporária das nove pessoas, contudo o juiz só concedeu a de Marco Antônio, afastando os demais das atividades.

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