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21/11/2017 às 22h13min - Atualizada em 21/11/2017 às 22h13min

Fogo ajuda a estimular reprodução de plantinha

Estudo da Ufu compara adaptação de Silva Manso a ambientes devastados

DA REDAÇÃO
Plantas simétricas recebem mais visitas de agentes florais / Foto: Milton Santos/Ufu

 

Ações do homem contra a natureza, como desmatamento e fogo, são recorrentes e podem comprometer o bioma de um local. Algumas plantas do Cerrado, como a flor Adenocalymma nodosum, mais conhecida como Silva Manso, no entanto, até “gostam” quando há presença de fogo, pois ele estimula o seu desenvolvimento no local devastado.

Essa foi uma das descobertas do estudo realizado pelas professoras Vanessa Stefani, do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Uberlândia (Inbio/ UFU), e Denise Lange, da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR). A pesquisa também teve a colaboração de Andréia Vilela, na época doutoranda, Clébia Ferreira, na época mestranda, e do professor Kleber Del-Claro, do Inbio/UFU. Feito pelo Laboratório de Ecologia, Comportamento e Interações da universidade, trata-se do primeiro estudo que propõe comparar ambientes do cerrado acometidos por desmatamento e fogo.

Em um ambiente próximo à cidade de Uberlândia, as pesquisadoras tiveram a oportunidade de verificar uma pequena área que foi acometida por fogo e uma outra área desmatada. Foi observado o quanto determinadas plantas são adaptadas aos ambientes de estresse e como elas podem se comportar de maneiras diferentes com relação ao fogo e ao desmatamento.

A espécie observada foi a Adenocalymma nodosum, muito comum em áreas de pastagem. Na biologia, ela é chamada de espécie pioneira de sucessão secundária. Vanessa Stefani explica que uma espécie pioneira é a primeira que surge após um momento de estresse e “tem características como brotação, desenvolvimento, reprodução e produção de várias sementes de um modo muito rápido”.

A Adenocalymma nodosum é classificada como “sucessão secundária” por ter existido no ambiente antes de ele ter sido danificado. Então, essa plantinha, que tem uma distribuição de sementes muito ampla, rapidamente brotou nessas duas áreas e foi analisada de acordo com a sua assimetria.

Normalmente, são avaliadas as folhas das plantas. Quando ela se desenvolve de maneira saudável, as folhas são bem simétricas, sendo um lado idêntico ao outro em termos de medida, mostrando que ela é saudável e apta para aquele lugar. Porém, quando um lado é maior que o outro, pode ser um indicativo de que a planta está sofrendo com o ambiente. 

Dessa forma, foi constatado que a áreas desmatadas tinham as flores mais assimétricas e as áreas com fogo, flores muito simétricas. 

Flores simétricas atraem os melhores polinizadores, ou seja, insetos como abelhas visitam mais essas plantas. Sendo assim, “o fogo no Cerrado não interfere no desenvolvimento de plantas primárias, pois elas crescem bem, têm flores mais simétricas e recebem mais visitantes florais”, conta Stefani.

A pesquisa começou em outubro de 2013, quando foi observado o processo de queima do ambiente, seguido pelo acompanhamento da rebrota da planta e o seu crescimento, até o início da reprodução, que é o momento em que aparecem as flores. 

Após essas fases, as pesquisadoras iniciaram os experimentos da simetria das flores e as suas visitas florais e, de janeiro até abril, acompanharam se havia formação dos frutos. Assim, a pesquisa durou em torno de seis meses, prazo considerado curto para o ramo da biologia.

 

IMPACTOS

Apesar de o Cerrado ser um bioma adaptável ao fogo, a frequência com que ele ocorre pode se tornar um problema para as plantas e os animais, já que é necessário um intervalo de tempo após a queima para que algumas espécies de plantas tenham condições para novamente brotar.

Stefani relata que muitas espécies animais e vegetais tendem a desaparecer e acabam não tendo tempo para reconstituir o ambiente. “Todo ano ter fogo é danoso para o ambiente. A planta, às vezes, demora muito tempo para se recuperar, então, ela precisa de um tempo maior para se adequar em termos de fisiologia, das suas capacidades reprodutivas”.

Os resultados foram publicados na revista Social Biology.


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