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31/08/2017 às 05h32min - Atualizada em 31/08/2017 às 05h32min

Desenvolvimento econômico: cidade inteligente é cidade humanizada

Internacionalização de Uberlândia é um dos pontos que vão ajudar a construir o futuro da cidade

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Dilson Dalpiaz, secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo / Foto: Adreana Oliveira

 

A repórter chega à sala do secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo (Sedeit) de Uberlândia, Dilson Dalpiaz, com o escopo do que seria o especial do jornal Diário do Comércio para o aniversário da cidade. Algo na linha de “a cidade que se projeta para o futuro e ainda olha para trás”. Em menos de 40 minutos de conversa todo esse planejamento caiu por terra, como vocês vão conferir nas próximas páginas, segundo o mantra do secretário: não podemos alterar o passado; o futuro está por vir, e, de fato, só temos influência no presente. Se a repórter continuasse naquele caminho, cairia em uma das célebres frases de Peter Drucker (1909-2005), considerado o pai da administração moderna: “não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência algo que não deveria ser feito”.

“Atitudes como só olhar no retrovisor, se lamentar pelo passado ou ter a visão de futuro de coisas fora da nossa realidade como parecia ‘2001: Uma odisseia no espaço’, ‘Guerra nas Estrelas’, ‘De volta para o futuro’ há 30 anos, não são construtivas. O futuro só pode ser construído agora”, afirmou o secretário.

Dalpiaz sabe que olhar para o retrovisor é importante, porém a Capital do Cerrado, que já foi a Capital da Logística, também vive uma nova realidade. “Não estou desmerecendo aqui nossas heranças, nossas culturas, nossos valores ou nossos ganhos, mas esta é a base para te responder: e o futuro?” Para dirigir bem, você precisa do retrovisor, mas, de fato, precisa olhar para a frente ou você fica na primeira curva”, disse ele, para explicar o organograma, apelidado de “bolograma” da secretaria, que, nesta gestão, agregou inovação ao nome.

“A forma não é a tradicional, na qual prevalece uma hierarquia estabelecida pelo poder. Não há uma fluidez da comunicação. Já neste formato, tudo é baseado na comunicação e todos têm foco no desenvolvimento econômico, todos se comunicam com todos e cada um cuida de suas responsabilidades.”

Com larga experiência no setor privado e em seu quarto mandato no setor público, o engenheiro mecânico, com mais de 60 anos de idade, voltou aos bancos escolares para uma pós-graduação em Gestão Pública. “Como executivo, tudo que não estava proibido eu podia fazer. No poder público, você só faz o que a lei diz que pode.”

Vivemos em tempo real, com geração de conhecimento instantâneo, e os lados criativo e operacional do “bolograma” – criado pelo próprio Dalpiaz há 27 anos – precisam estar em sintonia. No lado operacional, estão promoção de investimentos, turismo, fomentos e eventos, atendimento a micro e pequena empresa e microempreendedor individual, apoio ao empresário e novos negócios e assuntos internacionais. Do outro lado: inteligência de negócio, inovação, ecossistema de inovação, cidade inteligente e humana e gestão da informação.

“Se não olharmos a internacionalização da cidade não tem como pensar em um futuro. Temos um potencial para o turismo de experiência grande. Por isso vamos construir esse turismo, por exemplo, na zona rural, usando seu potencial cultural na arte e na economia. Precisamos de estrutura pública para usufruir desse potencial de consumo”, adiantou. Para o secretário, é importante olhar a cidade como um produto que precisa ser desejável por outros países.

A primeira viagem internacional de uma comitiva da Sedeit foi para a China, onde fez uma cidade-irmã. Iniciativas como disponibilizar a cidade para receber comissões da Copa do Mundo e Olimpíada também deram muita visibilidade a Uberlândia fora do país. “Temos recebidos muitos diplomatas aqui e trabalhamos nessa paradiplomacia. Buscamos informação e trabalhamos essa informação para descobrir o que faz Uberlândia diferente e competitiva, e isso é construído a múltiplas mãos, com o público, o privado e a academia”, explicou.

Essa paradiplomacia tem rendido frutos. A reunião com a Frente Nacional de Prefeitos insere Uberlândia no mundo globalizado. Uberlândia atualmente ocupa a vice-presidência do Fórum Nacional dos Secretários e Gestores de Relações Internacionais (Fonare) na região Sudeste. “Esse projeto, por exemplo, contribuiu extremamente para o porto do Rio de Janeiro, que é espelhado em coisas de Paris e recursos de fundos europeus. Uberlândia estava fora disso e agora é protagonista, está na mesa e tem muitos países querendo investir no Brasil”, contou o secretário.

 

CITIES

É preciso empoderar o cidadão na tecnologia para sua utilidade. Dilson Dalpiaz cita a primeira parceria público-privada (PPP) anunciada pelo prefeito Odelmo Leão no setor de iluminação pública. A ideia é trabalhar com lâmpadas inteligentes. Com o uso de censores, é possível medir a vida útil de uma lâmpada, que é trocada antes que queime. “Isso é trazer a inovação e a inteligência para o cidadão”, explicou Dalpiaz.

Ele comenta sobre os censores para bueiros que foram implantados no primeiro bairro inteligente de Uberlândia, o Granja Marileusa. “A smart city (cidade inteligente) é aquela que faz bem ao ser humano. São os aplicativos nos quais os cidadãos avisam onde tem um buraco, onde tem um carro parado, onde caiu uma árvore e essa é uma realidade muito próxima”, comentou Dalpiaz.

Ele falou ainda da importância de ter os pensamentos para onde podemos agir. “Nós, aqui, não temos como fazer nada para interferir na gestão do Donald Trump, nos Estados Unidos, ou para depor o ditador Kim Jong-un, na Coreia do Norte, mas podemos ter uma atitude aqui em Uberlândia para torná-la uma cidade inteligente e, para isso, podemos até não ter os recursos financeiros, mas temos determinação e conhecimento”, explicou.

Neste mês Uberlândia recebeu o Congresso Internacional de Tecnologia, Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade (Cities). Durante dois dias, palestrantes de diferentes cidades do Brasil e de outros países falaram para plateias lotadas. Quando foi procurado para falar sobre o assunto, Dalpiaz afirma que comentou com os idealizadores: “vocês são loucos”. E a loucura acabou tornando-se um sucesso.

O evento foi promovido pelo grupo Algar, pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), pela Prefeitura de Uberlândia e pelo Governo de Minas Gerais. Para Everton Magalhães Siqueira, presidente da Fiemg – Regional Vale do Paranaíba, o Cities consolida Uberlândia como um polo de inovação.

No congresso, foi apresentado pela Sedeit o primeiro censo do Ecossistema de Inovação de Uberlândia, que teve participação de 137 instituição, 58 delas eram startups. A perspectiva é que esses novos empreendedores colaborem com a cidade inteligente por meio de seus aplicativos.

Cláudio Nascimento, vice-presidente da Rede de Cidades Brasileiras Humanas e Inteligentes, explica que não existe “cidade burra” e que falar em cidades inteligentes virou moda. Por isso, é importante entender o conceito. “A forma com que os gestores públicos devem pensar a cidade é com inserção do cidadão neste contexto. Pensa-se muito em tecnologia de ponta e se esquece de quem vai usá-la. O conceito de cidades inteligentes e humanas – que acrescentamos aqui no Brasil – não é tecnologia pela tecnologia, e sim o que ela pode propor para acabar com o travamento entre o poder público e a população”, disse Nascimento, um dos palestrantes do Cities.

Ele cita como exemplo um alvará de funcionamento que ainda demora muito para ser expedido. Um empreendedor que quer ficar legal com sua cidade vai pensar em algo que otimize essa questão. “Gestão público, academia, empresários e cidadãos devem trabalhar juntos, porque não adianta ter uma cidade cheia de tecnologia que não pensa nas pessoas e cresce desordenadamente”, explicou.

Para Nascimento, é importante o cidadão ter o sentimento de pertencimento da cidade, porque ninguém melhor do que ele para pensar em uma solução para um problema que ele vive no dia a dia. Ele entende da problemática da sua região, porque mora e consome aquele espaço. Ele sabe a razão do engarrafamento, dos danos, dos buracos... “O orçamento participativo, criado no Brasil há 16 anos, é festejado no mundo todo, e, por aqui, quase município nenhum utiliza”, ressaltou Nascimento, que é diretor de Tecnologia de Olinda (PE), sua cidade natal, e acredita que quanto mais transparente seja a gestão pública, mais resultados positivos vão aparecer.

 

SUPER GEEKS

Conteúdo que era exclusivo de universidades ao alcance de crianças a partir dos cinco anos

Danielli Akemi, diretora pedagógica da Super Geeks / Foto:  Adreana Oliveira

Uma das salas mais interessantes do Cities contou com aulas ocupadas por crianças e adolescentes que conheciam a Super Geeks, uma escola de programação em robótica voltada especialmente para eles. A demanda começou a surgir fora do Brasil. Programadores do Vale do Silício tiveram essa ideia. A primeira escola dessas no Brasil foi aberta em 2013 por Marco Giroto, que morava no Vale do Silício e voltou para São Paulo.

“Um conteúdo que até então era feito somente dentro das universidades passou a ser feito por crianças a partir de 5 anos de idade, utilizando ferramentas de que elas gostam, como aplicativos, games, robóticas, drones”, explicou a diretora pedagógica Danielle Akemi.

Para a pedagoga, a maior parte das profissões do futuro vão depender da programação de alguma forma e, por isso, os pais já estão antecipando isso na formação dos meninos. Além de aprender a programar, a criança desenvolve raciocínio lógico, criatividade, concentração, um segundo idioma, como o inglês. “Valorizamos muito o real também, há muitas atividades em grupo”, disse Danielle.

Para os pais que se preocupam com o tempo em que as crianças ficam no computador, Danielle afiram que não é preciso se preocupar, porque as aulas melhoram a qualidade do tempo em que a criança fica no computador. O mais importante é a qualidade do tempo em que os pais passam com a criança. “Não adianta querer privar as crianças da tecnologia, que já é a realidade delas. Atualmente temos até uma aula com os pais para eles entenderem um pouco mais desse universo e interagirem mais”, contou Danielle.

A criação dos games é apenas um artifício para as crianças começarem a desenvolver suas habilidades; quando perceberem, estarão em contado com a realidade virtual, realidade aumentada. As profissões continuarão a existir, mas passarão por modificações. “De 2010 para cá, muita coisa mudou. Temos aplicativos como o Uber, comunicadores instantâneos, e estamos tentando despertar isso nos alunos para que eles se tornem programadores não técnicos, mas criativos, que ajudem o ambiente em que vivem”, finalizou a pedagoga.


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