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06/08/2017 às 05h43min - Atualizada em 06/08/2017 às 05h43min

Linhas do transporte coletivo sem cobradores dividem opiniões

Sistema de bilhetagem eletrônica exclusiva já é testado em algumas rotas

VINÍCIUS ROMARIO | REPÓRTER
Uberlândia tem 430 ônibus divididos em 128 linhas / Foto: Vinicius Romario

 

As empresas responsáveis pelo transporte público de Uberlândia testam a bilhetagem eletrônica exclusiva, ou seja, linhas em que não haverá mais cobrador e a passagem deverá ser paga pelo cartão vale-transporte. A intenção, de acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Triângulo Mineiro (Sindett), José Luiz Rissato, é trazer mais agilidade para o transporte da cidade e mais segurança, já que o dinheiro não será mais necessário e isso traria menos riscos de furtos e roubos.  

Porém, essa mudança tem causado divergências entre as empresas, os trabalhadores e os usuários do serviço. O fato também tem ameaçado o cargo dos cobradores, inclusive, essa questão já foi debatida em audiência pública na Câmara Municipal. Sobre isso, o Sindett afirma que está oferecendo recolocação profissional para esses trabalhadores, com cargos dentro da própria empresa e outros cursos profissionalizantes (veja mais abaixo). O Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Uberlândia (Sinttrurb), por sua vez, questiona este posicionamento e já aprovou o estado de greve, com paralisação prevista para a próxima semana.

Mesmo assim, de acordo com o Sindett, o sistema já foi implementado em algumas linhas de menor fluxo e em horários em que a demanda também é menor. “Ainda não estamos testando em tempo integral. Pegamos algumas linhas em bairros como o Minas Gerais, Cidade Jardim, e o trajeto Rodoviária-Terminal Central, onde, após as 20h, o fluxo de passageiros é pequeno e podemos ver como funciona. Antes das 20h, o cobrador ainda é mantido”, afirmou Rissato.

Porém, para que toda a frota comece a utilizar a bilhetagem eletrônica exclusiva, 100% dos usuários devem portar o cartão com os passes de ônibus. Segundo Rissato, atualmente, 70% dos usuários já possuem o cartão. Nas linhas onde começaram os testes, o motorista tem sido o responsável por receber de quem ainda paga em dinheiro e, se necessário, dar o troco.

“Todos os motoristas que estão trabalhando assim já foram treinados e os novos também passarão pelo curso necessário. No início, o tempo de viagem onde estamos fazendo os testes será mais longo, mas as melhorias virão no futuro para ficar”, disse Rissato.

Ainda sobre esse novo sistema, o presidente do sindicato patronal explica que ainda não é possível dizer em quanto tempo ele começará a ser aplicado em maior escala. “Só podemos dizer que é uma tendência nas cidades do país e já funciona em cidades como Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Uberaba e há mais dez anos em Goiânia”, ressalta Rissato.

Em relação aos passageiros e ao preço da tarifa, levando em consideração que o cobrador é apontado como um custo para as empresas e, sem ele, esse custo poderia ser menor, Rissato afirma que é preciso esperar. “Nós sabemos que toda mudança gera expectativa. Por enquanto estamos testando e os cálculos ainda são poucos. Tudo será divulgado para a população por meio de ações de divulgação”, afirmou. 

Para que a população adote esse sistema, o cartão vale-transporte que antes era impresso somente no Terminal Central, agora, de acordo com Rissato, está disponível em comércio de todos os bairros da cidade e sem custos para a primeira via.

 

PODER PÚBLICO

Atualmente, em Uberlândia, são cerca de 430 ônibus divididos em 128 linhas. Sobre a bilhetagem eletrônica, por meio de nota, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran) disse “que não há por parte da Prefeitura qualquer ação que vise influenciar na atividade dos cobradores e que a atual planilha de custos do sistema de transporte coletivo de Uberlândia somente manteve as definições que já estavam em prática desde a gestão passada”.

 

UBERABA

Em Uberaba, a 100 km de Uberlândia, a bilhetagem eletrônica exclusiva começou a ser implementada há seis anos e, há quatro, funciona em 100% da frota de 140 ônibus. “Isso é uma tendência. No começo gera expectativa, mas traz agilidade para a operação, diminui do tempo de viagem, além de dar mais segurança para os usuários”, afirmou o superintendente de Transporte Público de Uberaba, Claudinei Nunes.

Sobre os cobradores, Nunes afirmou que muitos conseguiram outros empregos dentro das próprias empresas. “Alguns viraram motoristas e, vale salientar que o salário desse profissional também melhorou pelo acúmulo de funções”, disse Nunes.

 

OPOSIÇÃO À MUDANÇA

Sindicato dos Trabalhadores tenta impedir sistema

O Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Uberlândia (Sinttrurb) tem lutado no Executivo e no Legislativo para que a bilhetagem eletrônica exclusiva não seja praticada na cidade, o que acabaria com o cargo do cobrador. Atualmente são cerca de 800 profissionais dessa área na cidade. “Já encaminhamos uma minuta ao prefeito para que ele apresente o projeto que garanta o emprego dos cobradores, mas, até o momento, está na gaveta”, afirmou o presidente do Sinttrurb, Márcio Dúlio de Oliveira.

Sobre as linhas em que ônibus já estão rodando sem cobrador, também há divergência entre Sinttrurb e o sindicato patronal. Presidente do sindicato das empresas, José Luiz Rissato, afirmou que os cobradores foram tirados de poucas linhas e somente após as 20h. Já segundo Oliveira, o sistema já foi expandido. “Em uma das empresas, responsável por cerca de 20 linhas, somente duas delas ainda tem cobrador após as 20h. A partir de amanhã, soubemos que três linhas com grande fluxo começam a operar sem cobradores”, disse Oliveira.

As linhas, de acordo com ele, são: A214 Terminal Umuarama/Aclimação, A150 Martins/Terminal Central e A146 Liberdade/Terminal Central.

“Eles alegam que isso irá otimizar o trabalho e o tempo de viagem, mas e os ricos? Já que o motorista terá que dirigir, cobrar passagem, dar o troco, auxiliar os passageiros. Não é possível melhorar dando todas essas funções para uma pessoa só”, ressaltou Oliveira.

Ainda de acordo com ele, um acordo firmado entre as empresas e os trabalhadores garante o emprego dos cobradores até setembro deste ano. Sobre as possíveis demissões, Rissato disse que somente neste ano, 50 cobradores foram recolocados em outras atividades nas empresas. Já o representante dos funcionários discorda. “Se eles tiverem recolocado dez cobradores é muito. Isso que ele disse não é verdade”, afirmou Oliveira.

 

OPINIÃO

Funcionários e usuários têm momento de indefinição

Leida Maria da Silva é cobradora há oito anos, e, de acordo com ela, o momento é de expectativa. “Não estamos sabendo de muita coisa. Esperamos a discussão entre os sindicatos, mas sabemos que é complicado e podemos realmente perder nossos empregos”, afirmou.

Já Ronilson Carvalho dos Santos é cobrador há cinco anos e, segundo ele, esse momento de indefinição atrapalha os planos de muitas famílias. “Não queremos perder nossos empregos, mas sabemos que existe esse rico”, disse Santos.

A reportagem do Diário do Comércio conversou com alguns motoristas que preferiram não se identificar, um deles, inclusive, foi contratado recentemente e afirmou que assinou um contrato que já prevê duas funções. “Claro que iremos trabalhar sobrecarregados. O apoio do cobrador é muito importante durante o trajeto e traz mais segurança para quem dirige e para os passageiros”, afirmou um deles.

Entre os usuários do transporte coletivo também não consenso sobre os impactos da bilhetagem eletrônica exclusiva. A diarista Kely Martins, que ainda não possui o cartão vale-transporte, disse ser a favor da bilhetagem eletrônica, mas é contra a retirada dos cobradores. “Eles trazem mais segurança para o ônibus, principalmente para nós, mulheres. Acredito que o cobrador ajuda bastante a inibir quem estiver com más intenções dentro do ônibus”, afirmou. 

Já o porteiro Marco Aurélio da Silva Serafim diz que o sistema que vem sendo testado pode ser bom e trazer melhorias e mais segurança para os passageiros, mas precisa ser bem feito. “Se eles dispuserem de muitos pontos para recarga do vale, aí sim eu concordo. Mas, se for trazer mais trabalho para a gente, aí já discordo”, disse.


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