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24/03/2017 às 08h36min - Atualizada em 24/03/2017 às 08h36min

Roubo de cargas aumentaram 15%

PREJUÍZO DAS TRANSPORTADORAS CHEGOU A R$ 245 MILHÕES EM 2016; TRIÂNGULO É A SEGUNDA REGIÃO COM MAIS OCORRÊNCIA

Walace Torres - editor
Da Redação

O roubo de cargas gerou um prejuízo de cerca de R$ 245 milhões às transportadoras em Minas Gerais no ano passado, o que representou um aumento de 15% em relação ao ano anterior, segundo estimativa do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg). Em todo o país, o prejuízo chegou na casa dos R$ 2 bilhões. Ainda de acordo com o Setcemg, o Triângulo Mineiro é a segunda região de Minas Gerais com maior incidência de roubos a cargas, só perdendo para a região metropolitana de Belo Horizonte.

Entre as cargas mais visadas pelas quadrilhas estão os eletroeletrônicos de maior valor agregado, cigarros e medicamentos. No caso do Triângulo Mineiro, há ainda uma procura por veículos que transportam defensivos agrícolas, café, leite em pó e pneus.

O Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Triângulo Mineiro (Settrim), que tem mais de 400 empresas associadas de 35 cidades da região, sendo a grande maioria em Uberlândia, também aponta que um terço dos roubos no Estado acontece nas rodovias do Triângulo Mineiro. O sindicato não tem números do prejuízo na região. “Hoje fazemos parte de um grupo técnico junto com a Setcemg com o objetivo de prestar apoio e assessoria às empresas transportadoras, além de ajudar no plano de gerenciamento de risco e também auxiliar nos casos de investigação”, aponta o vice-presidente do Settrim, Cleiton César da Silva. Ele conta que, além do prejuízo com a carga roubada, o custo das transportadoras tem aumentado em função dos investimentos em tecnologia e segurança. “As seguradoras, por exemplo, têm imposto condições de cobertura securitárias para firmar os contratos”, diz, citando como exemplo, a obrigatoriedade de escolta armada em casos específicos.

 As BRs 262, 050 e 381 são apontadas pela Setcemg como os principais alvos dos assaltantes.

A BR-050, que vai de Brasília a Santos, também é citada num levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) que apontou as rodovias com risco para o transporte de cargas. A Polícia Rodoviária Federal em Uberlândia reconhece que o roubo de cargas na região é uma situação preocupante e que tem influência no grande número de empresas do setor logístico instaladas na cidade, e ainda por ser um ponto estratégico de passagem. No entanto, questiona que o trecho da BR-050 seja de grande incidência de roubos. “A BR-050 já foi problema algum tempo atrás, hoje não. No trecho que vai desde a divisão com Goiás até Uberaba não há mais índices de assalto. Nosso maior problema hoje é na BR-153”, disse a inspetora Jane Santos, responsável pelo Posto regional. Na última terça-feira, por exemplo, dois caminhões bitrem foram recuperados pela PRF na BR-153 durante uma fiscalização de rotina. Os assaltantes haviam deixado os motoristas amarrados no mato e fugiam com os veículos em direção ao interior de São Paulo quando foram abordados.

Segundo a inspetora, a PRF conta com 75 policiais atuando nos postos de Uberlândia, Araguari e Monte Alegre de Minas e que cobrem uma área de quase 600 quilômetros de rodovias federais. “Não é o ideal, mas é um efetivo razoável para atender as demandas”, disse.

 

 

RANKING

Brasil é oitavo país mais perigoso para transporte de cargas

 

Transportar carga no Brasil é tão perigoso quanto no Iraque ou na Somália, países em que há conflitos armados que se arrastam há anos. Essa é a avaliação de um comitê do setor de cargas no Reino Unido, que listou os 57 países em que é mais arriscado transportar mercadorias. Os dados foram divulgados no início do mês e citados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) para alertar sobre o impacto desse tipo de crime na economia.

Segundo o Joint Cargo Committee, o Brasil é o oitavo país em que é mais perigoso transportar carga. Se excluídas as nações atualmente em guerra, como Síria e Sudão do Sul, o Brasil passa a ocupar o topo da lista, seguido de perto pelo México.

A pesquisa levou em conta os trechos da BR-116, entre Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, da SP-330, entre Uberaba e Santos, e da BR-050, entre Brasília e Santos. Para o vice-presidente da Firjan, Sergio Duarte, a gravidade do problema afeta a competitividade da economia brasileira.

"A decisão de investimento do empresário leva várias coisas em consideração, e uma delas é a segurança. O roubo de carga afeta frontalmente a decisão de investimento e compromete o futuro do nosso país", alertou.

De 2011 a 2016, o número de roubos de carga registrados no Brasil subiu 86%, passando de 22 mil casos por ano no levantamento realizado pela Firjan. A soma não leva em conta os casos do Acre, Amapá, Paraná e de Roraima, cujos dados não foram obtidos pela pesquisa.

Neste ano, o Brasil levou apenas 44 dias para superar o número de roubos de carga registrados em 25 países europeus, nos Estados Unidos e no Canadá. Apesar de São Paulo concentrar a maior parte dos casos, o Rio de Janeiro chama a atenção pela velocidade com que a incidência do crime vem aumentando. Em 2011, pouco mais de 25% dos casos do país ocorreram no estado do Rio, fatia que cresceu para 43,7% em 2016.

Há duas semanas, a Firjan lançou um movimento nacional de combate ao roubo de cargas e pediu empenho das autoridades no combate ao problema. Para Duarte, são necessárias leis mais rigorosas com empresas que armazenam e vendem produtos roubados. "É importante as pessoas entenderem que não existe roubo se não houver quem compra o produto do roubo. O consumidor tem que entender que ele faz parte disso."

A deputada estadual e ex-chefe da Polícia Civil, Martha Rocha (PDT), disse que o crime de roubo de cargas no estado tem relação com o controle de territórios na periferia por parte de organizações criminosas, que usam esse crime para financiar outros.

"Hoje, as organizações criminosas estão usando o roubo de carga como fomento para a compra de armas", analisou Martha.

 

PREJUÍZO

Roubo de carga custou R$ 6,1 bilhões ao Brasil em seis anos

 

Os roubos de carga custaram R$ 6,1 bilhões à economia brasileira entre 2011 e 2016, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). O prejuízo chega a R$ 3,9 milhões por dia com as ocorrências que se concentram principalmente nos estados do Rio de Janeiro (43,7%) e de São Paulo (44,1%).

As perdas causadas por esse tipo de crime têm crescido ano a ano, assim como o número de casos registrados, que aumentou 86%, de 12 mil em 2011 para mais de 22 mil no ano passado.

O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, disse que as transportadoras têm exigido taxas extras que chegam a 1% nos casos de produtos com destino ao Rio de Janeiro. Segundo Vieira, grandes empresas têm considerado desistir de chegar ao estado. No Rio de Janeiro, a incidência do roubo de carga passa de 50 casos por 100 mil habitantes.

"Chegamos a níveis intoleráveis, cifras vergonhosas. Ano passado batemos todos os recordes." Em 2016, os prejuízos com o roubo de cargas chegaram ao valor recorde de mais de R$ 1,4 bilhão, quase o dobro dos R$ 761 milhões registrados em 2011. Os números contabilizados pela Firjan desconsideram os estados do Acre, Amapá, Pará e Paraná, cujos dados não foram obtidos pela pesquisa.

Para enfrentar o problema, a Firjan propõe um movimento nacional contra o roubo de cargas, com ações articuladas entre estados, municípios e governo federal e Legislativo.

Os industriais pedem penas duras para os crimes de roubo de cargas e receptação e consideram importante contratar mais policiais para recompor os quadros das corporações. Proibir a venda dos bloqueadores de sinal de radiocomunicação é outra medida proposta, já que os equipamentos têm sido usados pelas quadrilhas.

As consequências do crescimento desse crime têm sido o encarecimento dos seguros, taxas extras cobradas pelas transportadoras e repasse dos custos ao consumidor. Com a venda ilegal dos produtos, também ocorre sonegação de impostos, reduzindo a arrecadação do estado.

Em dezembro do ano passado, o Ministério da Justiça criou o Comitê de Combate a Furtos e Roubos de Cargas, que reúne empresários, trabalhadores e membros do Poder Público para levar propostas ao governo. O presidente do comitê, Adilson Pereira de Carvalho, pediu a participação da indústria na discussão.

"O setor de [transporte de] cargas não é um oásis, não é algo apartado do Brasil. Ele sofre como sofrem todos os outros setores da sociedade."


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