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23/10/2024 às 08h00min - Atualizada em 23/10/2024 às 08h00min

Como o descontrole fiscal e político aumenta o pessimismo e a credibilidade internacional

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
1. Cenário fiscal desafiador
Desde o início do terceiro mandato do presidente Lula, o ambiente econômico brasileiro vem sendo marcado por incertezas e desafios. A adoção do novo arcabouço fiscal em 2023 gerou expectativas, mas também preocupações. O aumento das despesas públicas, cerca de R$ 200 bilhões em relação ao teto anterior, foi destinado a políticas sociais como a ampliação do Bolsa Família. No entanto, a capacidade do governo de cumprir metas fiscais tornou-se uma questão premente. A Instituição Fiscal Independente (IFI) estima que, para fechar 2024 dentro da nova regra fiscal, o governo precisará garantir um superávit de R$ 42 bilhões nos últimos três meses do ano.

Além disso, a revisão das metas fiscais para 2025 adiou a recuperação das contas públicas. A meta inicial de superávit de 0,5% do PIB foi ajustada para 2026, indicando uma trajetória mais gradual de ajuste. Esse cenário fiscal desafiante reflete um ambiente político instável, exacerbado pelas eleições municipais de 2024, que dificultam o avanço de reformas estruturais e o controle dos gastos públicos.

2. Descontrole de gastos públicos e inchaço administrativo
Um dos principais fatores que contribuem para o pessimismo dos investidores é o descontrole dos gastos do governo, impulsionado pelo inchaço da máquina pública. O aumento no número de ministérios e órgãos do segundo escalão, somado aos altos salários de assessores nomeados, tem gerado preocupações sobre a sustentabilidade fiscal. A estrutura governamental inchada não só dificulta a implementação de políticas de austeridade, mas também contribui para a ineficiência administrativa, criando uma percepção de desperdício de recursos públicos.

A falta de disciplina fiscal, somada ao excesso de cargos e ministérios, sobrecarrega o orçamento e limita a capacidade do governo de investir em setores produtivos e de reduzir o déficit público. Para 97% dos gestores de fundos entrevistados, a questão fiscal é o maior problema do Brasil atualmente, criando um ambiente de incerteza para investimentos e contribuindo para o aumento do pessimismo entre investidores.

3. Independência do banco central e impasses políticos
A controvérsia em torno da independência do Banco Central (BC) do Brasil também é um ponto de tensão. Desde a promulgação da autonomia do BC em 2021, há discussões sobre a influência política no órgão, especialmente em momentos de decisões críticas de política monetária. O governo, em alguns momentos, tem adotado uma postura crítica em relação às altas taxas de juros, pressionando o BC a reduzir a Selic para estimular o crescimento econômico. No entanto, essa interferência gera desconforto no mercado, que vê na independência do Banco Central um pilar fundamental para a credibilidade das políticas econômicas.

O impasse entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário também agravam a crise de confiança. A falta de uma agenda econômica clara, a dificuldade de aprovar reformas essenciais e os frequentes atritos entre os poderes criam um ambiente de instabilidade política, impactando negativamente as expectativas dos investidores.

4. Política externa incoerente e seus impactos
O posicionamento do governo brasileiro em relação à política externa também tem gerado controvérsia. O apoio a governos declaradamente autoritários e ditatoriais em países como Venezuela e Nicarágua é visto por muitos como uma postura incoerente para uma nação que busca ser reconhecida como uma democracia sólida. Essa escolha estratégica afeta a credibilidade internacional do Brasil e dificulta a construção de parcerias comerciais robustas com países democráticos e desenvolvidos, que são essenciais para o crescimento econômico e o fortalecimento do setor produtivo.

Além disso, a ausência de políticas públicas que favoreçam o capital empreendedor prejudica o ambiente de negócios no Brasil. Em vez de promover um cenário de incentivo à inovação e ao investimento privado, o governo parece priorizar relações com economias estatais e centralizadas, afastando potenciais investidores.

5. Falta de incentivos ao capital empreendedor
O Brasil carece de uma política pública voltada para o fortalecimento do capital empreendedor, o que agrava o quadro econômico. A burocracia excessiva, a alta carga tributária e a insegurança jurídica são obstáculos constantes para o desenvolvimento de negócios no país. O governo não tem demonstrado um compromisso claro com a simplificação do ambiente de negócios, o que impede a atração de investimentos e a geração de empregos.

O setor de utilidade pública, visto como uma aposta defensiva pelos gestores de fundos, reflete essa falta de estímulo ao empreendedorismo. Com a economia estagnada e sem perspectivas claras de crescimento, os investidores preferem alocar recursos em setores mais seguros e previsíveis, como energia e saneamento, em vez de apostar em setores mais dinâmicos e inovadores.

6. Conclusão: a perda de credibilidade e o caminho incerto
O Brasil enfrenta um cenário complexo, onde a combinação de descontrole fiscal, instabilidade política e incerteza econômica está minando a confiança de investidores e gestores de fundos. A ausência de uma agenda clara que priorize o ajuste fiscal, a promoção do capital empreendedor e o fortalecimento das instituições democráticas gera um ambiente de pessimismo e perda de credibilidade no cenário internacional.

O país precisa urgentemente adotar uma postura mais coerente, tanto na política interna quanto na externa, e promover reformas estruturais que estimulem o crescimento sustentável. Sem isso, a trajetória de deterioração fiscal e política continuará afastando investidores e comprometendo o desenvolvimento econômico de longo prazo.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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