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16/10/2024 às 08h00min - Atualizada em 16/10/2024 às 08h00min

Crise de transportes na região norte do Brasil: impacto socioeconômico e segurança nacional

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA
1. Condições precárias das rodovias e seus impactos no agronegócio e na indústria mineradora
A infraestrutura rodoviária nos estados do Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Pará e Mato Grosso enfrenta sérios problemas de manutenção, comprometendo o escoamento da produção de setores estratégicos como o agronegócio e a mineração. Essas regiões são responsáveis ​​por uma parcela significativa da produção de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, a falta de pavimentação adequada, a presença de estradas esburacadas e a ausência de pontes sobre rios aumentam significativamente os custos logísticos, impactando a competitividade dos produtos brasileiros no mercado nacional.

O agronegócio, principalmente a produção de grãos e carnes, depende de um sistema de transporte eficiente para chegar aos portos exportadores. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a precariedade das rodovias eleva em até 35% os custos de transporte na região. Além disso, a indústria mineradora, que extrai minerais como bauxita, manganês e ouro, também é fortemente prejudicada pelo estado das rodovias, já que os produtos extraídos precisam ser transportados para registro no órgão responsável no Brasil que é a Agência Nacional de Mineração (ANM). Este registro não é transferível para empresas privadas, sendo restrito ao uso por órgãos públicos.

2. O fenômeno da "Máfia das Balsas" e seus efeitos sobre a infraestrutura
Outro agravante da crise dos transportes na região Norte é a atuação da chamada “máfia das balsas”. Segundo denúncias, grupos de interesse atuam para impedir a construção de pontes de concreto, asfaltar rodovias ou realizar obras de recuperação de emergência. Esse controle limita a concorrência no setor de transporte fluvial, onde as balsas se tornaram a principal solução para a travessia de rios em muitos trechos das rodovias, especialmente nas BR-230 (Transamazônica) e BR-319.

Esse esquema impede o avanço de projetos essenciais de infraestrutura, contribuindo para o atraso nas obras e elevando os custos de transporte. A dependência das balsas aumenta o tempo de deslocamento e gera filas quilométricas de caminhões à espera da travessia. Em certos trechos, essas filas podem ultrapassar 200 carretas, como já registrado em pontos de travessia do Rio Madeira, essencial para a rota de exportação de grãos e carne.

3. A gravidade das estiagens e seus efeitos na navegação fluvial
A crise de transportes se intensifica ainda mais nos períodos de estiagem, quando o nível dos rios da região Norte diminui drasticamente. Essa redução afeta a navegação fluvial, essencial para complementar a infraestrutura rodoviária deficitária. Durante a seca, balsas enfrentam dificuldades de navegação, aumentando o tempo de travessia e, consequentemente, os custos operacionais.

De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), nos últimos cinco anos, os níveis dos rios em algumas partes da Amazônia diminuíram em até 40% durante as secas. Isso agrava a crise logística, pois limita a quantidade de carga que pode ser transportada por via fluvial e aumenta a dependência de rodovias domésticas. Essa situação tem um efeito em cascata, prejudicando o abastecimento de insumos e bens de consumo para as populações locais e elevando o custo de produtos.

4. Consequências sociais e econômicas: alto custo de vida e isolamento regional
O aumento dos custos de transporte tem um impacto direto no custo de vida das localidades da região. Produtos de primeira necessidade, como alimentos, combustíveis e medicamentos, chegam aos consumidores locais com preços elevados devido às dificuldades logísticas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o custo da cesta básica no Norte do Brasil é, em média, 20% maior do que em outras regiões, refletindo as ineficiências logísticas que agravam as desigualdades regionais.

Além disso, a falta de infraestrutura adequada contribui para o isolamento de muitas comunidades, dificultando o acesso a serviços básicos, como saúde e educação, e limitando o desenvolvimento econômico dessas áreas. A precariedade das rodovias também restringe o escoamento da produção local, forçando os produtores a absorverem os custos elevados ou a reduzir seu preço.

5. Ameaça à segurança nacional: vulnerabilidade territorial
A crise no sistema de transportes da região Norte não afeta apenas o aspecto econômico, mas também representa uma séria ameaça à segurança nacional. A Amazônia é uma região estratégica para o Brasil, tanto em termos de biodiversidade quanto de soberania territorial. No entanto, a falta de estradas pavimentadas e o difícil acesso a áreas remotas limitam a presença de forças de segurança, que só podem atuar de forma pontual e esporádica em situações emergentes.

Além disso, a dificuldade de acesso impede ações preventivas de combate a atividades ilegais, como desmatamento, garimpo ilegal e tráfico de drogas. A ausência de uma infraestrutura de transporte eficiente prejudica a integração regional e nacional, tornando as fronteiras do Brasil vulneráveis ​​a ações criminosas e colocando em risco a proteção do território.

6. Conclusão
A crise de transportes na região Norte do Brasil é um problema multifacetado, não é apenas um problema local, mas um desafio estratégico para a economia e a segurança nacional e o bem-estar das populações locais. A precariedade das rodovias, aliada à dependência de balsas e à redução da navegação nos rios durante as estiagens, intensifica os problemas logísticos, elevando os custos de produção e comprometendo a competitividade dos produtos brasileiros. Além disso, a atuação de grupos que impedem o desenvolvimento da infraestrutura e a falta de manutenção das estradas agravam ainda mais a situação. Somente com investimentos robustos e um planejamento de longo prazo será possível reverter esse quadro e assegurar o desenvolvimento sustentável da região.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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