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23/06/2022 às 08h00min - Atualizada em 23/06/2022 às 08h00min

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IVONE ASSIS
Na tarde de segunda-feira, dia 20 de junho, dentre tantos absurdos, o mundo inteiro assistiu, estarrecido, ao procurador do município de Registro, cidade do interior de São Paulo, o Sr. Demétrius Oliveira Macedo, agredir violentamente e covardemente a colega de trabalho, também procuradora, Sra. Gabriela Samadello Monteiro de Barros. A agressão ocorreu dentro do estabelecimento de trabalho, ou seja, na Prefeitura. O ataque, segundo consta, foi uma retaliação por um processo administrativo da procuradora contra o procurador, devido à má-conduta dele contra outra colega de trabalho. Assistindo ao vídeo, constatamos, no mínimo, quatro tipos de violência no ato: Violência de gênero, Violência física, Violência Psicológica e Violência Institucional.

O psicólogo e sociólogo francês Émile Durkheim, em seu livro de 1895, “As regras do método sociológico”, edição de 2007, p. 68, ensina: “Para que, numa sociedade dada, os atos reputados criminosos pudessem deixar de ser cometidos, seria preciso que os sentimentos que eles ferem se verificassem em todas as consciências individuais sem exceção e com o grau de força necessário para conter os sentimentos contrários. Ora, supondo que essa condição pudesse efetivamente ser realizada, nem por isso o crime desapareceria, ele simplesmente mudaria de forma; pois a causa mesma que esgotaria assim as fontes da criminalidade abriria, imediatamente, [outras] novas”. Ou seja, violência gera violência, em qualquer circunstância. Contudo, o que podemos ver na cena da agressão citada é um homem, em um ataque de fúria, agredindo uma mulher passiva, que em momento algum proferiu qualquer palavra contra seu algoz. Então, possivelmente, pode ser que o agressor estivesse passando por algum distúrbio psiquiátrico, neste caso, por que ninguém interferiu, conduzindo-o ao tratamento?

O que pode se passar na cabeça de uma pessoa, em sã consciência, atacar alguém incapaz de se defender? Sobretudo quando a profissão do agressor apresenta como valores, dentre outros: a Transparência; o Comprometimento; a Moralidade... Sempre leio, nas repartições públicas, o informe sobre não agredir servidores públicos, contudo, neste caso, houve não só uma agressão em ambiente de trabalho público, como, também, uma ofensiva de servidor para servidora. Foi um ataque com socos, cotoveladas, chutes e palavrões, que desfiguraram o rosto e o psicológico da moça, que também feriu o Estado Democrático de Direito. Como a Maria da Penha reagirá?

Como escreve Dalinha Catunda [Maria de Lourdes Aragão Catunda], cordelista de Ipueiras – Ceará, e moradora do Rio de Janeiro, em seu poema “Violência contra a mulher”: [...] Quem ama nunca tortura / Não caia em falsa jura / Não se deixe dominar. // Mulher não é mais escrava / E cativa de um senhor. / Os tempos hoje são outros / Por isso faça-me o favor! / A mulher pode se manter / Não precisa se submeter / A morte, castigo e dor”.

A ofensiva em surdina, contra a procuradora e a outra colega que foi arremessada contra a porta, mesmo sendo dentro da Prefeitura, e em meio aos berros, gritarias e súplicas por ajuda, não teve socorro prestado por nenhum agente de segurança.

Encerro esse episódio citando um poema da poeta e tradutora belgo-portuguesa Bénedicte Houart, que diz: “são as mulheres que / fazem chorar as cebolas / como se descascassem a própria vida / e, arredondando-se então, descobrissem / um corpo, o seu / uma vida, a sua / e, no entanto, nada que de verdade / pudessem seu chamar / ou talvez sim, mas só / aquela gota de água salpicando / um canto do avental onde / desponta uma flor de pano colorida que / ainda ontem ali não ardia”.

Nesta vida, somos responsáveis por nossas ações, daí a necessidade de se cuidar, diariamente, para não ferir ninguém, quer seja físico ou psicológico. Entendo isso como o segundo mandamento: “Amar o próximo como a si mesmo”. A vida pede respeito e amor. Registre-se.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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