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07/04/2022 às 08h00min - Atualizada em 07/04/2022 às 08h00min

A transformação do Brasil e o controle da energia

CLÁUDIO DI MAURO
No Seminário PARA A TRANSFORMAÇÃO DO BRASIL tivemos a presença de uma das vozes mais eloquentes e que possui vida e história na Petrobrás trata-se do geólogo Guilherme Estrella. Ele iniciou com a seguinte pergunta: o que representa a energia para a economia e a vida em geral?
 
O quadro geopolítico mundial se alterou significativamente com a revolução industrial. A energia ganhou grande importância, pois ela é base para o desenvolvimento industrial. As grandes nações do mundo, especialmente na Europa, objetivando a industrialização no século XIX desenvolveram a matriz energética. Tal desenvolvimento alcançou Inglaterra, França, Bélgica e só posteriormente os Estados Unidos da América do Norte. O Brasil ficou para trás, somente no século XX se atentou para essa realidade. No meio daquele século, Getúlio Vargas, compreendeu a importância da energia como componente necessário ao estabelecimento da Soberania Nacional com inserção na geopolítica mundial. Criou o Conselho Nacional de Petróleo e construiu a primeira refinaria brasileira.
 
Getúlio no Governo iniciou a exploração de petróleo após a descoberta de nosso primeiro campo petrolífero. Em 1953 foi criada a Petrobrás, fruto de imensa movimentação popular tendo slogan “O PETRÓLEO É NOSSO”. Também em 1953 o Brasil fundou na Petrobrás seu Centro de Pesquisa, com a responsabilidade de desenvolver Pesquisa sobre Petróleo e seus campos de exploração. Nesse período 80% da matriz energética mundial era procedente do Petróleo.
 
No Brasil a exploração do Petróleo começou nas áreas continentais. Só muito posteriormente iniciaram as pesquisas e a implantação de procedimentos para explorar áreas oceânicas. Foi em 1968 que se descobriu um primeiro campo de petróleo em área oceânica, dando nova motivação na Petrobrás demonstrando que o Centro de Pesquisa tinha competência. Com tal reconhecimento, as pesquisas alcançaram os estudos e perfurações para águas profundas.
 
Isso foi absolutamente pioneiro no mundo e levou a Petrobrás a receber um prêmio que equivale ao Prêmio Nobel na área do petróleo. Importante: essa conquista foi realizada por uma Empresa Estatal e Monopolista, como disse Estrella.
 
Em 1989 com a queda do Muro de Berlim, os Estados Unidos reuniram os países ocidentais para construir o Consenso de Whashington, objetivando o controle e a hegemonia sobre a geopolítica mundial. Esse Consenso aprovou pontos, entre os quais: redução de gastos públicos; reforma tributária; juros de mercado; câmbio de mercado; investimentos estrangeiros diretos; eliminação de restrições; privatização de estatais; desregulamentação e afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas e direitos da propriedade industrial. As consequências do consenso de Whashingtosn estamos vivendo e vendo na atualidade.
 
Com o governo Fernando Henrique Cardoso houve a diminuição em 52% do orçamento da Petrobrás. Em 1995, foi deflagrado o processo de construção do gasoduto Brasil-Bolívia em condições muito desfavoráveis para a Petrobrás. Também em 1995 FHC quebrou o monopólio estatal do petróleo. São momentos muito negativos para a saúde financeira-pesquisa da Petrobras. Isso tudo atendendo o Consenso de Whashington.
 
Também foi de FHC quem, criou a Agência de Petróleo, e designou um de seus parentes para presidi-la que em seu discurso de posse afirmou: “O Petróleo não é mais Nosso ele agora é Vosso”. Isso tudo estrangulou o destino da Petrobrás que passou a vender ações para estrangeiros, abrindo o capital da empresa e colocando na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Ou seja, nossa empresa estatal tendo que obedecer normas próprias da Bolsa de Valores de outro país. Chegou-se mesmo a pretender a mudança do nome de Petrobrás para Petrobrax. A exploração da Petrobrás se concentrava na Bacia de Campos, mas todo o litoral brasileiro foi aberto para empresas estrangeiras.
 
Em 2002, com a posse do Presidente Lula, há providências muito importantes: quebrando regras na área de exploração e produção. A Petrobrás teve que reassumir seu protagonismo na área de petróleo e gás natural. O Centro de Pesquisas e as perfurações faziam da empresa, a mais competente. Recuperou a Braspetro; Gasodutos; criou a Biocombustíveis, a área de fertilizantes; comprou a Liquigaz. Correu imenso risco ao perfurar um poço que custou 220 milhões de dólares, mas resultou na descoberta do pré-sal.
 
O Brasil ficou com seu setor de energia completamente vitorioso, podendo construir o Projeto Nacional Soberano, totalmente nacional e com a competência das equipes técnicas da Petrobrás de Universidades e Centros de Pesquisas de Universidades Brasileiras. A Petrobrás foi transformada na operadora única, pois pelas regras quem descobre o campo de petróleo é quem faz sua exploração.
 
Isso tudo acirrou a cobiça internacional contra o Brasil e surgiram as fraudes jurídicas para destruição da democracia, entregando tudo. Tudo foi construído, para interesses privados, estrangeiros. Todo esse produto de décadas de construção foi desmontado para atender as decisões do Consenso de Whashington. O Sistema Integrado da Petrobras gerido de maneira integrada, administrando os preços, por exemplo, do óleo e da gasolina é indispensável para o desenvolvimento industrial brasileiro.
 
Esse sistema foi quebrado para vender os campos petrolíferos de terras, de águas rasas e refinarias, O sistema foi esquartejado tendo como fundamento a abertura total do mercado brasileiro. Aí está o capitalismo produtivo se transformando em capitalismo financeiro. Hoje, a Petrobrás é gerida por um Fundo Financeiro de Nova Iorque, sem compromisso com o Brasil. A Petrobrás hoje atua como uma empresa que não é do Brasil, não é estatal. Daí, a necessidade de haver a reconstrução do Brasil e com isso, da Petrobrás.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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