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07/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 07/10/2021 às 08h00min

Projeto político e abordagens eleitorais

CLÁUDIO DI MAURO
Há hegemonia conservadora no Brasil e com isso o conservadorismo dos eleitores sendo consequência do próprio conservadorismo que prevalece nas diversas camadas sociais e econômicas.

Há que se questionar: Isso é definitivo? Pesquisas qualitativas e quantitativas, explicitam como isso prevalece no Brasil.
Há variações de intensidades nesse perfil sociológico nas Regiões Metropolitanas comparativamente com as regiões interioranas. Daí prevaleceu a afirmação de que o interior é mais conservador.

Mesmo as populações mais empobrecidas que têm demonstrado nas recentes eleições preferência por votar em candidatos das esquerdas possuem perfil conservador. Interessante considerar a abordagem do saudoso Florestan Fernandes que reconheceu esses setores sociais como subalternizados. Se de fato são subalternizados significa que foram levados a essa situação, para estabelecer o controle de submissão.  Isso não é assunto encerrado pelas Leis da Natureza. Não são situações dadas por oferecimento da natureza, ou seja, obedecendo a “vontade Divina”, portanto não são imutáveis.

O perfil ideológico conservador é fruto das relações sociais vigentes. Há sim o conservadorismo e as alianças dos setores dos donos das terras e dos meios de produção em conjunto com a concentração dos veículos de comunicação, aliciando com posturas que se generalizam nas relações sociais. Há que se ressaltar os papéis exercidos por Lojas Maçônicas, Clubes de Serviços, atraindo pessoas e lhes dando o sentido de pertencimento. Os sonhos oferecidos como metas pessoais pelo neoliberalismo são vendidos como solução para o bem viver e a busca da felicidade. Ensina-se e se coopta, por exemplo, pela ideologia da “prosperidade”. Não há dúvidas de que no Brasil estão arraigadas a importância da família, de Deus e da propriedade privada.

No nosso entendimento o confronto político das argumentações não deve se dar pela negação desses componentes. Nesta fase da evolução do conhecimento humano, acatamos e valorizamos a família, em seus diversos formatos; o amor e confiança em Deus e a distribuição da propriedade privada para que todos tenham direito a sua casa com função social e área para produzir. Daí, torna-se indispensável argumentar por uma reforma urbana pensada de maneira democrática e participativa que dê acesso a moradia para todas as famílias e pessoas; uma reforma agrária no meio rural que dê função social à produção de alimentos e sobrevivência com dignidade humana.  Tudo isso para garantir paz e felicidade nas relações sociais.

Essa argumentação poderá ser oferecida como uma aliança explícita entre os governos Federal, Estadual e Municipais, e todos os setores sociais. Trata-se da construção de um pacto pela justiça e bem viver de todas as famílias e pessoas. Esse processo, na compreensão dialética, ultrapassa em muito os limites das corridas eleitorais.

Mesmo considerada essa análise, há que se reconhecer as contradições que caracterizam tais relações sociais. Afinal, as esquerdas já tiveram eleições importantes com o Gilmar Machado em Uberlândia, Minas Gerais; Edinho por 4 vezes em Araraquara; José Machado por 2 vezes em Piracicaba; Cláudio Di Mauro por duas vezes em Rio Claro e depois o PT na chapa de mais 2 mandatos; Valderez em Lins; Gilmar Dominici em Franca, isso sem se falar das imensas vitórias obtidas nas Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, São Paulo e Campinas, no Litoral Paulista, entre outras. Muitos desses municípios nitidamente com perfil conservador elegeram prefeitos dos partidos das esquerdas. Esses acontecimentos precisam ser entendidos em suas profundidades. Ainda assim, na eleição de Bolsonaro foram 80% dos votos obtidos pelo neofascista, na maioria desses lugares referidos. Como entender tais contradições?

O não reconhecimento desse roteiro conservador, permitiu a migração, em algum momento, de muitas pessoas que votaram nos partidos das esquerdas, sendo atraídas e submetidas por forças ultraconservadoras, como exemplo algumas lideranças pentecostais. Assim, essa mesma população que antes votou nas esquerdas foi seduzida, em parte, votando no Bolsonaro.
E dai? Quais as condições para esses eleitores terem posições mais politizadas, enxergando os processos na perspectiva da luta de classes?

É importante reiterar que esse processo não se resume aos períodos eleitorais. Deve corresponder a um processo de luta continuada que pode desaguar em vitórias eleitorais. Daí vem a questão: é conveniente assumir o discurso conservador, oferecendo um plano com características conservadoras? Onde está esse limite? Até onde se consegue obter avanços nos processos eleitorais?

O que interessa para as esquerdas é simplesmente ganhar eleições? Isso não teria cabimento! Qual é o projeto de construção social? É possível abandonar os sonhos em forma de projetos para acatar o exclusivo objetivo de ganhar eleições?

É importante se reconhecer a importância de vencer as eleições em regiões Metropolitanas como Belo Horizonte, São Paulo e grandes municípios como Uberlândia. Mas isso não basta para um projeto sério e responsável. Não se consegue efetiva e confortável condição de governabilidade Federal, se não houver vitória nas Regiões Metropolitanas dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Por isso, ganhar tais eleições e governar deve ser uma questão prioritária. Mas, em nada significa aceitar a manutenção do conservadorismo que se detectou nas análises de pesquisas qualitativas e quantitativas com articulação nas Regiões Metropolitanas e nos diversos setores do interior do Brasil. É indispensável, vencer eleições, simultaneamente articulando o processo modificador dessa nefasta cultura conservadora.  Há que se construir o projeto que mostre os caminhos para as vitórias atuais e a transformação cultural indispensável. Não adianta apenas ganhar as eleições e depois não conseguir governar ou sofrer novas derrotas ali na frente.
 


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