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05/06/2017 às 15h01min - Atualizada em 05/06/2017 às 15h01min

Os passos da história

ALEXANDRE HENRY ALVES* | COLUNISTA

Donald Trump cumpriu o que prometeu durante a sua campanha: tirou os EUA do Acordo de Paris, que trata de mudanças climáticas. Antes disso, ele já tinha cumprido outra promessa, a retirada de seu país da Parceria Transpacífico. E assim, pode-se criticar o presidente americano por quase tudo, menos por não tentar cumprir compromissos assumidos quando era candidato.

Mas, Donald Trump é apenas o gancho para meu assunto principal: o curso da história. Há uma velha frase segundo a qual é preciso, às vezes, dar um passo atrás para avançar dois à frente. A humanidade segue assim, adotando também um zigue-zague constante. A marcha da história nunca permanece em um caminho retilíneo e constante.

Ilustremos um pouco essa ideia.

Depois da 2ª Guerra Mundial, vimos uma busca pela integração entre as nações, por meio da queda de fronteiras. É verdade que esse movimento não foi simples e muito menos deixou de encontrar muros - que o diga a Cortina de Ferro da Guerra Fria. Mas, no geral, os países buscaram se integrar como forma de evitar um novo conflito de proporções mundiais. Essa integração abrangeu, como não poderia deixar de ser, a ordem econômica também, que foi a locomotiva na maioria dos casos. Esses passos adiante (ao menos na minha visão) levaram à criação de acordos como a citada União Europeia, o Nafta e a Parceria Transpacífico. É certo que cada país queria, antes de mais nada, o melhor para si e para a sua população, mas muitos também viram nisso uma forma de evolução da humanidade.

O que temos agora? Um movimento contrário. Blocos se racham, parcerias se acabam e novos muros são erguidos. Nada mais natural, como eu já disse. Demos vários passos à frente na integração entre as nações, mas a caminhada não é só em um sentido e invariavelmente vai ter retrocessos. Basta você pensar em um grupo de famílias seguindo por uma nova trilha, deixando para trás o mundo que conhecia na esperança de encontrar um lugar melhor. Pedras, barrancos, rios de fortes correntes, tudo isso vai aparecer no meio do caminho e é natural que algumas famílias queiram voltar quando isso acontecer, questionando não só as decisões de quem lidera o grupo, mas também as vantagens de permanecer naquela união. No seio de cada família, diante dos obstáculos, é natural que ganhe força a voz de um de seus membros, o qual tentará convencer os demais familiares de que, apartados das amarras que os prendem ao resto do grupo, o futuro será muito melhor. Não importa a certeza de que é preciso procurar uma nova forma de viver, pois na cabeça dessa família, liderada por alguém de fala afiada e cheia de encantos, preponderará a lembrança de um tempo e um lugar em que, não tendo que dividir nada com ninguém, todos viviam felizes, ainda que de forma precária. Em resumo, mais valerá a segurança do passado conhecido do que a esperança em relação a um futuro incerto. É nessa hora que, trazendo a parábola para a vida real, passos atrás são dados, com a eleição de populistas, o rompimento de uniões entre países e retrocessos na agenda climática.

Além dessa caminhada cheia de passos atrás, o curso da história tem também o movimento de zigue-zague, como eu já falei. É como uma carroça em que três pessoas se sentam para conduzi-la, tentando as três fazer isso ao mesmo tempo. Às vezes, a da esquerda tem mais força para puxar a rédea e o cavalo toma a direção dela. Às vezes, é a da direita que consegue fazer isso. A do meio? Esquece-se do comando e só pensa em quem vai ajudar dessa vez.

Nesse zigue-zague, quase nunca se vê um equilíbrio e, sim, um movimento parecido com o pêndulo de um relógio, que vai da esquerda para a direita, volta e percorre o mesmo caminho. E, assim como o pêndulo vai com uma velocidade muito maior para o lado contrário quando você o puxa demais, a mesma coisa se sucede com o curso da história, principalmente no campo da política. Se foi demais para a esquerda, vai voltar com força e rapidez para a direita. E assim vai...

Aonde eu quero chegar com esse texto cheio de alegorias? Simples: saber que a história tem seus passos atrás e que segue um caminho pendular ajuda a entender acontecimentos como Donald Trump, Lula, Michel Temer, a formação da União Europeia e a saída da Grã-Bretanha, a queda do muro de Berlim e a construção do muro na fronteira do México com os EUA. Em resumo, fica mais fácil compreender os rumos da história, sem tomar tantos sustos com as manchetes dos jornais de amanhã.

(*) Alexandre Henry Alves - Juiz Federal e Escritor - www.dedodeprosa.com

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