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30/05/2017 às 17h53min - Atualizada em 30/05/2017 às 17h53min

Quando um não quer dois não brigam

ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA* | COLUNISTA

Coreia do Norte tentando a sua negociação com os Estados Unidos

Negociar é uma arte. E olha que não estou falando só do olhar da compra e da venda. Negociar é algo tão estratégico e matemático como construir um prédio de 20 andares: tudo precisa ser calculado nos mínimos detalhes, desde a base até a ponta de cima, precisa ser bem estruturado, fazer sentido e não cair na cabeça de ninguém. Parece difícil, e é mesmo.

O tempo todo estamos fazendo escolhas que nos levam a esse movimento de negociar. É chorar o preço do chuchu na feira, o pedido de aumento de salário, o sabor da pizza, nota na prova e por aí vai...  Algumas negociações são bem racionais e outras nem tanto. Cada um dentro da sua loucura, negociando para si e para alguns.

Pensando estrategicamente, será que o líder norte-coreano Kim Jong-un está sabendo negociar a situação e relacionamento do seu país com os Estados Unidos? Bomba para cá, bomba para lá.... Temperamento forte X cultura enraizada, e pronto, temos uma guerra vindo por aí. O presidente Trump parece gostar de desafios, mas será que Kim Jong-un quer entrar nesse jogo?

Vamos analisar tim tim por tim tim dessa história.  Ainda nos anos 1990, seriamente abalada pela Rússia, pela estagnação econômica, fome, desemprego, desastres naturais e a morte de seu grande líder, a Coreia do Norte parecia estar à beira de um desastre. Na verdade, estavam à beira de uma grande mudança, podendo ser alimentada por implosão, ou explosão, só nos restava saber quando. Já nos anos 2000, muita água rolou debaixo dessa ponte, e a Coreia foi considerada um país de fortes rédeas, um potencial desafio para os Estados Unidos, até então seu pior inimigo.

É como encontrar aquela pessoa que te desagrada num jantar beneficente. Você até queria fazer um barraco, jogar umas indiretas, se sentir superior, mas acaba cumprimentando o desafeto por educação, para evitar problemas numa festa que nem é sua e envolvendo gente que você nem conheça. Então você se mantém polido, ético, e evita que a faísca pegue mais fogo. E foi assim que se estabeleceu há alguns anos, um diálogo permanente e cordial entre Washington e Pyongyang.

Tudo lindo, tudo em paz. É como combinar com sua esposa de não ter perfil em rede social e, de repente, ela descobre que você tem facebook sim! O míssil foi lançado e acredite, vai chegar até você. E em 2002, só dois anos depois, as autoridades norte coreanas revelaram que tinham sim um programa nuclear secreto de enriquecimento de urânio. Pronto, relação mais uma vez estremecida. Cada vez que você ligar o computador, pegar no celular, a faísca da insegurança ascende de novo, cada dia que passa, a desconfiança dos Estados Unidos só cresce!

Como um bom negociador, você leva para jantar, envia flores, pede perdão nos cartões românticos e jura que nunca mais vai acontecer. Muito estrategista você. Como um bom negociador, Kim Jong-un joga o corpo fora, bem de leve, como se deixasse claro que não tem interesse na briga. Uma maneira de negociar, de dar um passo atrás, como voto de confiança dado aos Estados Unidos.

Mas vale refletir que em uma negociação a gente sempre se lembra o que nos levou a ela e o que abrimos mão. Bombas atômicas não são o tipo de arma que os países sacam numa negociação todos os dias. Mas elas sempre estão lá, engatilhadas sob a mesa.

(*) Analista de negócios – Professor universitário

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