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19/11/2020 às 08h00min - Atualizada em 19/11/2020 às 08h00min

Eleições Municipais em perspectiva

CLÁUDIO DI MAURO
“Mas, o voto de cabresto ainda é muito importante. Além claro, do crescimento dos interesses fixados em religiosidades sectárias. Estes casos, excluídos o fenômeno mais recente da religiosidade sectária, são históricos e muito bem abordados pelo saudoso Florestan Fernandes”

As eleições que aconteceram em todo o Brasil apontaram diversas possibilidades de interpretações. É importante considerar-se que nos municípios, especialmente nos de menor tamanho, há uma enorme dependência de trabalho com geração de salários dos setores subalternos em relação ao setor patronal. Seja composto pelos donos das terras urbanas ou rurais, ruralistas, seja dos donos dos meios da produção industrial. 

Mas, o voto de “cabresto” ainda é muito importante. Além claro, do crescimento dos interesses fixados em religiosidades sectárias. Estes casos, excluídos o fenômeno mais recente da religiosidade sectária, são históricos e muito bem abordados pelo saudoso Florestan Fernandes. 

Mesmo assim, uma constatação que se faz é a redução de importância do bolsonarismo. Claro, Bolsonaro ainda mantém apoio significativo, mas foi muito reduzido neste período de quase dois anos de mandato como Presidente da República. São inúmeras e palpáveis as decepções.

Grande parte dos candidatos apoiados por Bolsonaro não foram eleitos ou sequer disputarão o II Turno. O exemplo mais significativo se deu na cidade de São Paulo com Celso Russomano. Este candidato, quando apresentou o apoio de Bolsonaro, perdeu tantos votos que saiu do primeiro lugar nas pesquisas para ficar fora da disputa no II Turno. No Rio de janeiro, não conseguiu a eleição para a Câmara Municipal de sua ex-mulher e houve uma redução de 30% dos votos que seu filho Carluxo teve na eleição de 2016 para este ano. Reduziu de mais de 100 mil votos para cerca de 70 mil votos.  

Continua com uma votação expressiva, mas muito inferior à situação anterior. É simbólico o fato de que Carluxo perdeu o primeiro lugar na votação para Tarcisio Motta do mesmo partido, o Psol, ao qual Marielle Franco era filiada. Este fato que é de muito destaque. Portanto, nesta análise consideramos que o bolsonarismo está em franca decadência, e isso se confirma pela redução na aprovação tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo bem como nos índices nacionais de aprovação e reprovação do governo federal. O declínio do bolsonarismo é um dado irrefutável, identificado em toda e qualquer análise científica.

Ao olhar para o espectro das opções partidárias, uma possibilidade é dividir o eleitorado levando em conta a concepção de Breno Altman. Faço uma diferença em relação ao autor citado. Divido o resultado das eleições com votos em três (3) camadas partidárias. Uma camada é das esquerdas, formadas por Partidos como PT, PSOL e PC do B; a segunda camada seria dos partidos que estão na extrema direita, característica do bolsonarismo e grupos articulados na perspectiva de pedir golpe militar, são tipicamente os neofascistas; o terceiro agrupamento será formado pelos neoliberais tipificados em dois sub grupos, um formado pelos neoliberais imbricados no PMDB, PSDB, PP, PV e DEM que sempre se articulam nas proximidades das opções do Centrão; outro sub-grupo também neoliberal que tem algumas  identificações pela esquerda como o PDT e o PSB. A Rede talvez seja também identificada com este sub grupo, se considerada a trajetória de seu Deputado Federal Alessandro Molon.
 
Outros componentes importantes que devem ser analisados dizem respeito ao crescimento das pautas identitárias. Nem sempre identificada com algum agrupamento ideológico, mas com forte tendência de se organizar pelos partidos das esquerdas, especialmente pelo PT e PSOL. É significativo o aumento na quantidade de mulheres eleitas, muitas das quais negras. Os setores LGBTqi+ também ampliaram em muito seus representantes nas Câmaras Municipais. 

Tratam-se de setores sociais que estão se organizando muito antes do período eleitoral, mas culminam com excelentes vitórias. Gradativamente estes grupos sociais percebem que suas lutas identitárias devem ser estudadas para construir suas teorias e práxis a partir do reconhecimento da luta de classes. Veja-se que pelo menos 10 cidades brasileiras serão administradas por indígenas. Trata-se de grande crescimento nas relações humanas. Este é um enorme ganho para o desenvolvimento da cidadania e o percurso está aberto para novas conquistas. Isso não é pouca coisa.

Para o II Turno teremos muitas disputas que se travarão nos grandes centros urbanos. Em 17 dessas cidades teremos candidatos do PT, PSOL e PC do B. São exemplos, São Paulo, Belém, Recife, Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, São Gonçalo, Vitória, Cariacica, Juiz de Fora, Feira de Santana, Diadema, Guarulhos, entre outras. Algumas vitórias nestes casos poderão redesenhar as interpretações e análises do quadro eleitoral. 

Os pessimistas e os ufanistas precisam construir suas análises sob a orientação do pensamento científico e na perspectiva da metodologia dialética. Os resultados finais poderão mostrar que o caminho apontado às esquerdas não está tão cheio de obstáculos. O tempo dirá, claro, a partir das lutas gerais e pontuais.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 
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