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29/10/2020 às 08h00min - Atualizada em 29/10/2020 às 08h00min

Bolívia e Chile amadurecendo com as lutas populares

CLÁUDIO DI MAURO
Antes das eleições que produziram uma vitória estrondosa de Arce e David, os dizeres que estavam nas ruas da Bolívia eram:
 
“Volveremos y seremos millones”, ou seja, os e as bolivianas(os) nas ruas, praças, nas pequenas cidades e nos movimentos populares celebram a possibilidade de “recuperação da pátria, a recuperação do “ajayu”! Trata-se da volta da alma da Bolívia, especialmente dos altiplanos. É a base que fundamenta a cultura dos povos nativos.
 
Há algo mais bonito e empolgante para um povo?
Che Guevara deve ter identificado o Ajayu boliviano como o caminho para a disseminação da revolução no País, por isso pretendeu ali investir seu esforço e sua luta revolucionária. O tempo demonstrou que estava certo.
 
Veja-se que na Bolívia se travou uma luta dos movimentos populares, das nações originárias dos Andes, contra uma concepção de mundo forjada pelo capitalismo, lá instalada no golpe que derrubou Evo Morales e implantou o neoliberalismo. Che, presente!
 
E no Chile, qual é o caminho observado?
O plebiscito para decidir se seria necessária a construção de uma nova Constituição para o Chile ocorreu neste domingo.
 
Afinal, o que está em jogo no Chile?
Os comandos de campanha pelo "aprovo" e pelo "rechaço" finalizaram as atividades com atos públicos na última quinta-feira. Mais de 1 milhão de pessoas, em Santiago, capital do Chile, aclamaram em manifestações de ruas a favor da APROVAÇÃO. Se manifestaram por uma nova Constituição, capaz de abandonar as práticas e os conceitos que estavam expressos desde os tempos de Pinochet.
 
Os chilenos objetivam uma nova Constituição que abra os caminhos e exija acesso à saúde e educação públicas, gratuitas, demarcação de fronteiras e reconhecimento do direito ao território dos povos originários do Chile, são milhões de pessoas. Outro componente importante é a reestatização dos serviços de saneamento básico e direito à água que foi transformada em um bem privado.
 
Em síntese, 78% dos chilenos aprovaram a realização de uma nova Constituição, livre e com todos os seus membros eleitos para compor a Assembleia Nacional Constituinte, que dê fim ao neoliberalismo. Extinguir os privilégios para as propriedades privadas e fortalecer a função social das cidades, no Estado chileno.
 
Os chilenos querem recuperar sua soberania política, social, econômica e cultural com o fim da criminalização dos movimentos sociais. Reconhecer e valorizar os movimentos dos povos originários dos Andes.
 
E para o Paulo Guedes e Bolsonaro está aí um recado e uma decisão fundamental:
Que seja criado um novo sistema previdenciário, capaz de substituir o atual que é gerido pelas administradoras dos fundos de pensão que aplicam de maneira privada o dinheiro dos chilenos nas bolsas de valores.
Enfim, os chilenos que defendem uma nova Constituição, entendem que devem pôr fim à constituição que é herança da ditadura de Pinochet, promulgada em 1980 durante a ditadura militar.
 
Com o fim do regime ditatorial em 1989, que tinha como mandante Augusto Pinochet, iniciou-se um processo com governos civis objetivando a concertação de partidos em busca da democracia. Ou seja, uma tentativa de construir coletivamente os processos novos que deveriam ser instaurados na busca da democracia. Ali se tentou uma articulação da socialdemocracia com os partidos da centro-esquerda chilena. Sempre foi um sistema com muito apoio das mídias e que procurava a domesticação da população aos interesses da classe dominante que prevaleceu nos comandos políticos.
 
Agora, as forças populares chilenas encontraram o caminho de exigir uma nova Constituição que se livre definitivamente das heranças ditatoriais. Mais do que a mudança nas leis, há uma projeção para superar o neoliberalismo vigente que é liderado por uma elite econômica completamente combalida, desgastada. Prevalece um sistema político sob o conceito da globalização capitalista que se baseou no fim da história, levando aos ataques à soberania do seu povo, prevalecendo os interesses estrangeiros, transnacionais.
 
Vou repetir para reforçar e fixar:
- Aproximadamente 78% dos votantes decidiram que haverá uma Assembleia Nacional Constituinte, inteiramente eleita para essa função, com paridade entre homens e mulheres, sendo todos os seus integrantes eleitos em abril de 2021.
 
Como dizem os chilenos, a vitória nesta eleição, é contundente e se constitui no primeiro passo deste caminhar em direção aos projetos populares e construção de uma Nação Soberana. Caminha-se para a Assembleia Nacional Constituinte, livre, soberana, para vencer o egoísmo, abolindo para sempre do neoliberalismo. Salvador Allende... Presente!!!
 
Enfim, que alegria e esperança para nós brasileiros, vendo os bolivianos e chilenos comemorando nas ruas e praças. Ou seja, os espaços públicos voltam a ser do povo.

* Participação de Jhenifer Gonçalves Duarte discente do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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