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14/05/2020 às 08h24min - Atualizada em 14/05/2020 às 08h24min

Na falta de Estado sobram Governos "higienizadores"

CLÁUDIO DI MAURO
Há muitos comentários demonstrando ausência de governos como a principal das causas do agravamento da pandemia.
No meu entendimento o que está faltando é a presença mais contundente de uma visão de Estado, na medida em que sobra a presença dos governos.

Entre as principais formas de participação dos governantes está expressa sua ausência no enfrentamento dos problemas. Governantes se omitem e essa é muitas vezes sua principal forma de participação. Mesmo entre os desprovidos, aí estão presentes os governantes, ou ratificando ou se empenhando para modificar tais realidades.

Temos visto que onde os governantes assumem suas funções de estadistas, participando com preparação de Plano de Emergência envolvendo a Sociedade Civil, as ações são melhor desencadeadas para redução dos imensos danos sanitários, sociais e políticos causados pelo coronavírus.

A ausência de governos naquilo que seria sua função na gestão do Estado se vê nas habitações precárias, sub-humanas, na falta se saneamento ambiental, no não reconhecimento prático de que a Saúde é Direito de Todos e Todas. Nota-se por aí a falta de investimentos dos governantes no fortalecimento da Nação, componente fundamental do Estado.

A principal forma de participação de muitos governos é o abandono aos componentes do interesse público.

Esse abandono não se configura como ausência de Planejamento, por parte de governantes. Ao contrário, eles decidem qual deve ser o modo de viver das populações e quem pode viver. Por essa decisão governamental, as populações ficam exatamente na situação que temos. Essa é a verdadeira farsa em desgovernos neoliberais que são mantidos nos âmbitos federal, estaduais e municipais. No dizer de BAUMAN, “Sem a possibilidade de participar do jogo consumista, os/as consumidores/as falhos/as são vistos como a ‘impureza’' social, ou seja, aqueles/as que estão fora de seu lugar ‘naturalmente’ determinado.”

É decisão de governantes no capitalismo que uma grande parcela da população permaneça desprovida da capacidade de consumir e por isso deve viver subalterna, sem condições adequadas para cuidar da higiene e com isso se preservar.

Quando o presidente Bolsonaro, montado em sua moto náutica, no lago Paranoá, afirma que 70% da população se contaminará pelo coronavírus; sabendo que pelo menos 5% desse total de infectados ficará com a saúde em estado grave, ou seja, cerca de 7 milhões de pessoas do nosso total de 211 milhões de habitantes; sabendo que não há sistema de saúde para atender todas essas pessoas, gerando um verdadeiro colapso; sabendo que isso afetará com maior gravidade as populações desprovidas, o presidente já naturalizou a situação e se adaptou ao fato de que teremos as mortes de centenas de milhares de pessoas, talvez, perto de um 800 mil óbitos. Seres humanos destinados à morte, sabendo onde a maioria dessas pessoas vive e está, sabendo também qual a cor da pele que prevalecerá entre os óbitos. 

Esse é o Plano que está em desenvolvimento no Governo. Trata-se da chamada “higienização social”, com a redução dos pobres e miseráveis, daqueles “seres que nunca deveriam ter nascido” e merecem morrer para não atrapalhar as vidas dos escolhidos, eleitos pelos governantes do Planalto? Em prevalecendo essa postura, podemos sim entender como um genocídio, essa falta de ação por parte dos governos. Será possível que estou interpretando erradamente os fatos desenvolvidos no final da semana que passou?

Por “higienização social” se entende a exclusão de setores sociais que são considerados problemas, indesejados, os não consumidores. Nesse conjunto estão os moradores de rua, os presidiários, as populações que habitam “bolsões de pobreza”, predominantemente negros e muitos jovens, entre outros. De início a exclusão lhes atribui lugares onde se tolera suas permanências. Mas, no momento da pandemia, aparentemente, esses são os setores prioritários e oferecidos para a morte.

É bem verdade que nestes momentos de maior sofrimento da humanidade, surgiram muitos movimentos de solidariedade e articulação social, buscando ações para salvar muitas famílias e pessoas. Ao final, conheceremos o resultado desse trabalho de solidariedade de classe. E assim, conheceremos a possibilidade da humanidade se recuperar como em uma perspectiva renovadora, vislumbrando-se mesmo, como revolucionária.



O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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