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23/04/2020 às 09h32min - Atualizada em 23/04/2020 às 09h32min

Tempos de economia em frangalhos

CLÁUDIO DI MAURO
A situação provocada pela pandemia com o ataque do coronavírus deverá encaminhar a economia mundial para um período de recessão. A recessão já está ocorrendo.
Há cálculos que projetam que o Brasil terá encolhimento na economia de 5%, com tal perda no Produto Interno Bruto (PIB).
Neste segundo trimestre do ano de 2020, há projeções que nos Estados Unidos está ocorrendo uma queda de 35% na economia.
É verdade que tais previsões são feitas por economistas durante todo o processo em que está ocorrendo a recessão. Possivelmente haverá muitos motivos para correção dos dados e números. Claro que minha abordagem, que nem sou economista, poderá ser ainda mais equivocada, mas como geógrafo não é possível desviar destes assuntos.
O que se pode dizer é que a economia mundial e dos países está em frangalhos, pela desestruturação das cadeias produtivas.
Há quem afirme que depois que essa pandemia passar, “tudo voltará ao normal”. Francamente espero que não volte ao que estava considerado como normal. O neoliberalismo da chamada globalização, com facetas de neofascismo é um entre os maiores responsáveis pela situação grave que assola os países. Ao sair da crise sanitária e geradora do caos econômico, precisamos de uma verdadeira revolução nas relações sociais e econômicas, no tratamento das questões humanas e ambientais.
No campo Político Partidário são debatidas propostas que mudam de direção, as práticas econômicas, com todas as suas repercussões na revisão da globalização.
O saudoso Professor Doutor Milton Santos anunciou que precisaríamos trabalhar por uma outra globalização. O economista Paulo Nogueira afirma que há necessidade de uma “desglobalização”.
O debate executado pela Auditoria Cidadã, demonstra que o Brasil não pode continuar pagando juros e encargos, com baixo abatimento na dívida pública brasileira em patamares de 38% do PIB. São juros sobre juros.  Daí pede uma auditoria em tudo o que é considerado como Dívida Pública do Brasil, que esclareça quem são os credores, como foram pactuadas essas dívidas e quanto já se pagou em cada caso.
Mas, há outros que fazem a simples proposição para zerar os juros e encargos que são pagos com base no atual orçamento brasileiro. Isso já representará uma redução significativa nos valores pagos, levando a valores que podem financiar a reconstrução do País, garantindo que todos brasileiros tenham uma Renda Mínima como base para continuar vivendo.
O Brasil pagou 5% de juros em cada ano da recente década. É algo enorme que pode permitir neste momento o financiamento de ações indispensáveis para enfrentar o coronavírus. Da maneira como estamos pagando esses juros escorchantes, ao invés de atender as populações que precisam de apoio no enfrentamento da pandemia, estamos transferindo esses valores, inteiramente para o setor financeiro.
É importante considerar que em países do capitalismo central, na Europa, os juros estão negativos, no entanto no Brasil chegou a 20% para alguns produtos bancários. É momento de rever essa política de juros, adotando outro paradigma. Não há como ignorar que as políticas econômicas, além da redução dos juros, precisam estabelecer o Controle dos Capitais. Trata-se da intervenção na macroeconomia para regular o fluxo de capital e investimentos, reduzindo a volatilidade dos investimentos de estrangeiros no país sem agir negativamente na entrada de recursos. 
E o Brasil, como poderá sobreviver à essa loucura pandêmica? Deve-se refletir sobre a necessidade de reorganização de um verdadeiro Projeto de Desenvolvimento, compreendendo que é indispensável a desconcentração da renda, da riqueza e da propriedade, o que implica em uma verdadeira revolução social. Afinal é insustentável o modelo que estava sendo praticado antes da pandemia. Não poderemos retornar para ele, após tanto sofrimento. Esse modelo esgarçou e assim como a globalização que estava vigente foi arrebentado pelas exclusões sociais, pela destruição socioambiental e pela participação ativa do vírus que atua no mundo.
Os maiores problemas que o Brasil precisa enfrentar neste momento são; vencer a luta contra o vírus e a pandemia, vencer a luta contra o atraso provocado pela irresponsabilidade do bolsonarismo dentro do governo e fora também e, está claro que o Brasil não pode se vincular a hegemonia marcada na atualidade pelo declínio dos Estados Unidos com Trump.
É notável que o “projeto bolsonarista” está ruindo, se acabando, daí a necessidade das mudanças rápidas no cenário político com antecipação e evitando o risco de golpe militar.
Em Uberlândia, infelizmente as ações do Executivo com a complacência do Legislativo têm sido pífias.  Não se sabe quantos leitos hospitalares e em UTI serão necessários no pico da pandemia. Há uma conivência e certeza de que poderemos ter 46 mil casos de infectados, segundo declaração do Prefeito em entrevista. É difícil assistir essa prevaricação pela naturalização das sequelas e mortes.
Torna-se indispensável revigorar o bom ânimo e a autoestima da população brasileira reconhecendo que ao distribuir a alimentação produzida, ninguém passará fome no País. O Brasil tem uma entre as mais avançadas economias do mundo, podendo investir na construção de um novo paradigma com infraestrutura, agricultura ambientalmente sustentável e remodelação do parque industrial, capaz de melhorar significativas a vida de toda nossa população.
 
 
Participação de Jhenifer Gonçalves Duarte, discente do Curso de Jornalismo da UFU.



O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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