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19/03/2020 às 08h00min - Atualizada em 19/03/2020 às 08h00min

Democracia: rompendo com a sociedade patriarcal-machista

CLÁUDIO DI MAURO
No mês de março, especialmente no dia 8, as pessoas de boa índole reconhecem a importância das lutas de mulheres para a construção da democracia. Não há democracia se as mulheres não forem reconhecidas como seres humanos e seus direitos coletivos não forem garantidos.

Foi o romantismo que favoreceu a concepção de que a mulher representa o amor em todas as suas formas, com isso, desenvolveu-se um processo de discriminação da mulher que se consolidou por muitos anos e, daí, vem a ideia da fragilidade feminina, de que a “Mulher que é emotiva, amorosa, é incapaz”, dando assim a interpretação dela ser “inferior” aos homens. Por isso, a sociedade nem sempre dificulta o acesso da mulher ao conhecimento, em função dessa condição opressiva.

Mas, apesar das muitas lutas das mulheres, estas não têm tido a devida valorização como pessoa e como cidadão, de modo que a sua liberdade está sempre comprometida.

A respeito destas questões, é muito importante os movimentos de trabalhador (as) rurais se reconheça o trabalho conjunto das mulheres, para que a valorização da mulher sem-terra se sobreponha à dominação social exercida contra elas. Veja-se, o grau de importância disso a partir do depoimento de uma mulher ligada ao Movimento Sem Terra (MST), por meio do qual ela demonstra o sucesso no rompimento com o patriarcado machista, ao dizer: “Posso afirmar, que ser uma mulher sem-terra é ser mulher liberta, emancipada, valente. É ser uma mulher que chora, que sente dor própria e do outro. O MST me fez mulher, me fez um ser harmônico, que tem orgulho de viver”. Assim se expressou Messilene Gorete, assentada do Estado de Pernambuco, que participou do 1º Encontro de Mulheres do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra ocorrido no início de março em Brasília.

No âmbito acadêmico e da pesquisa, atualmente no Brasil, as mulheres superam o número de homens, no número total de doutorados defendidos, por isso preciso considerar a importância do poder transformador da produção e divulgação dos conhecimentos originários dos esforços das mulheres, com grau de excelência em todas as áreas. Elas contribuem e oferecem fundamentos para o desenvolvimento do saber ao criticarem “verdades estabelecidas”, permitindo a adoção de tarefas que estabeleçam mudanças em atividades intelectuais e políticas. Assim, mesmo submetidas a constrangimentos ao terem que demonstrar que são competentes, as mulheres cumprem as funções da maternidade, enfrentam assédios morais e sexuais, entre outras discriminações, porém, apesar disso e do sobretrabalho a que são submetidas, desenvolvem conhecimentos em todos os campos do saber com grau de excelência, em inúmeros casos, maiores que os homens.

Cabe a todas as sociedades humanas o reconhecimento e as convicções de que o acesso à produção e difusão do saber precisam ser radicalmente democratizados, o que exige a adoção de comportamentos estimuladores do protagonismo das mulheres.

Para terem seu trabalho reconhecido socialmente, no campo há relato de mulheres vinculadas ao MST que decidiram adotar o registro em cadernetas de tudo o que elas produzem. Vê-se que, em geral, há mulheres desenvolvendo atividades, em vários âmbitos da vida humana, com resultados semelhantes e até superiores à produção de muitos homens, mas, a despeito disto, não têm o devido reconhecimento social, remuneração e nem a visibilidade necessária.

O patriarcal sistema político e econômico vigente promove injustiças contra as mulheres desde o núcleo inicial que elas compõem, o familiar, até os postos mais elevados na escala do trabalho púbico e privado. De modo que, a estrutura patriarcal das famílias e da sociedade, consequente de nossa história, mantém marcas autoritárias que atribuem às funções das mulheres apenas ao exercício de atividades de reprodução humana e domésticas, ao que as mulheres atuais se recusam a fazer, tão somente. Contrariamente a esta determinação patriarcal e machista, as mulheres atuais querem exercer também funções ditas masculinas, em outras palavras, elas querem exercer as funções que lhes aprouver. Por isso, os movimentos feministas argumentam com apoio de homens sensíveis que “Lugar de Mulher é onde ela quiser”.

É essa cultura patriarcal que realimenta e reproduz as sociedades machistas nas quais vivemos. Torna-se, portanto, indispensável o combate ao machismo patriarcal e estrutural, que caracteriza as sociedades atuais. E isso implica fortalecer as pautas feministas e reconhecer a importância das mulheres, cabendo a todas e todos impulsionarmos a construção de sociedades mais igualitárias e democráticas.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.










 
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