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05/03/2020 às 08h00min - Atualizada em 05/03/2020 às 08h00min

A Constituição Cidadã e o Ódio à Ditadura

CLÁUDIO DI MAURO | GEÓGRAFO DOCENTE NO IG/UFU

Texto elaborado com a importante participação de Jhenifer Gonçalves Duarte, discente do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia

Fui o primeiro Prefeito reeleito na sequência de mandato no município de Rio Claro - SP, onde nasceu Ulysses Silveira Guimarães.

Embora tendo muito respeito por sua trajetória eu também mantinha críticas duras para a atuação política de Ulysses. Quando, com a morte de Tancredo Neves ele não assumiu a Presidência da República, abrindo caminho para a posse de José Sarney e depois quando articulou a prorrogação para 5 anos no mandato do “chefão” maranhense, eu, como cidadão não tive dúvidas, liderei velório e enterro em vida de Ulysses Guimarães no Jardim Público, na sua terra natal. Ele se deprimiu com isso.

Essas atitudes não impediram que depois, como Prefeito, após Ulysses ter realizado feitos que honraram nosso município, eu promulgasse a perenidade anual da Semana Ulysses Guimarães, de iniciativa do Vereador Sérgio Guilherme. Posteriormente criamos a Fundação Ulysses Silveira Guimarães que mereceu apoio de sua família e o esboço de Oscar Niemeyer para os prédios que seriam construídos. A construção do Memorial Ulysses Guimarães teve compromissos desde FHC, com quem solicitei em seu gabinete de Brasília, bem como de Lula em visita ao meu gabinete na Prefeitura. Infelizmente não viabilizaram o Projeto de Oscar Niemeyer.

Criamos a Fundação sem fins lucrativos e na qual todos os dirigentes receberiam Documento de Reconhecimento por Elevados Serviços Prestados à Comunidade, sem remuneração! Infelizmente administrações municipais que me sucederam mudaram essa direção e levaram a Fundação à execração por causa das iniciativas dos políticos de oposição e pela inabilidade dos dirigentes que estavam de plantão. Em Rio Claro, oposição é sinônimo de agressividade, inimizade, impossibilidade de convívio civilizado.

Os inimigos distorceram a realidade para colocar a Fundação Ulysses Guimarães de Rio Claro no ostracismo a que está reduzida! E isso infelizmente, teve a ajuda dos governantes dos diversos exercícios.

Foi enorme a luta de Ulysses contra o golpe civil e militar e contra a ditadura militar. Contudo, seu empenho ao Presidir o processo de elaboração da Constituição de 1988, merece minha admiração e o respeito de democratas de Rio Claro e de todo o Brasil. Seu discurso ao encerrar os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte foi épico e sempre será referencial para a história da Democracia.

Dada sua importância, reproduzo o trecho do discurso que destaco:
A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma!
Quanto a ela: - Discordar sim, - Divergir, sim
- Descumprir, Jamais !
- Afrontá-la, Nunca !  Traidor da Constituição é traidor da Pátria !
Conhecemos o caminho maldito: - Rasgaram a Constituição;
- Trancaram as portas do Parlamento;
- Calotearam a Liberdade;
- Mandaram os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério !
Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o Estatuto do Homem, da Liberdade e da Democracia, bradamos por imposição de sua honra:
- Temos ódio a Ditadura! Ódio e nojo!
- Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e Nações.
Principalmente na América Latina...”
Repito com Ulysses Guimarães todas essas suas afirmações. Mas ainda dou maior destaque para:

“Afrontar a Constituição Nunca!  Traidor da Constituição é traidor da Pátria!”
...

“Bradamos por imposição de sua honra: Temos ódio à ditadura! ÓDIO E NOJO !”
Nestes momentos em que a Constituição Brasileira tem sido aviltada e desrespeitada, inclusive com ameaças de intervenção contra o Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal, pelo amor à democracia e pelo respeito às instituições bradamos com absoluta indignação, reconhecendo a correção na abordagem de Eliana Brum: partes das PMs, com omissão das FFAA se converteram em milícias, -salvando-se porções importantes das corporações-, milicianos que não obedecem as instituições, os comandos e a Constituição. Possivelmente são resquícios de “esquadrões da morte”, sobreviventes da ditadura de 1964.

Cabe a todas e todos brasileiras(os) se levantar contra os interesses mesquinhos de quem pretende diuturnamente fazer ataques à Democracia, ainda que depois retroceda, como sondagem para saber se pode aprofundar ainda mais o golpe com ditadura. Sempre fica exposta a intenção de verificar se há reação social para vislumbrar as possibilidades de oferecer a investida final.  Sem equívoco, as investidas contra a Constituição fazem parte da cena de quem pretende implantar o autoritarismo.

Esses intentos sairão derrotados, pois o Brasil já sofreu demais com ditaduras. Tarefa de todas e todos é reagir com determinação contra as tentativas de aplicação de mais esse golpe criminoso contra a Nação.
 
*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.













 

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