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23/01/2020 às 08h47min - Atualizada em 23/01/2020 às 08h47min

EDUCAÇÃO COM EDUCADORES NEUTROS?

Claudio di Mauro
*Texto com a colaboração da Jhenifer Gonçalves Duarte, aluna do Curso de Jornalismo da UFU


“Os professores das Escolas Militares ganham com muita justiça cerca de R$ 10 mil mensais. Nas Escolas Públicas do Ensino Básico o piso salarial, que muitos governantes relutam em pagar, não chega aos R$ 3 mil. Em 2020, o piso salarial dos nossos professores será de R$ 2.886,24”


A média de custo anual para cada aluno das Escolas Públicas Brasileiras é de R$ 6 mil. Nas Escolas Militares esse custo chega a R$ 19 mil por ano para cada aluno. A diferença nos valores nesses investimentos mostra que para os governantes de plantão, não há interesse em que todos os educandos tenham valorizadas suas atividades educacionais.
Seria muito bom se o País pudesse arcar com pelo menos R$ 10 mil por ano, para todos os seus alunos. Mas, essa não tem sido a prioridade para os governantes.

Os professores das Escolas Militares ganham com muita justiça cerca de R$ 10 mil mensais. Nas Escolas Públicas do Ensino Básico o piso salarial, que muitos governantes relutam em pagar, não chega aos R$ 3 mil. Em 2020, o piso salarial dos nossos professores será de R$ 2.886,24. Daí a indagação, o que justifica essa diferença de R$ 10 mil para menos de R$ 3 mil para cada educador? É indispensável que todos os professores brasileiros tenham salário compatível com a grandiosidade de suas missões. Mas, neste momento, apenas os docentes das Escolas Militares são os beneficiados. 

Não se pode lutar para reduzir direitos de quem já conseguiu a valorização de sua força de trabalho. Mas, não podemos nos silenciar diante das injustiças que são praticadas com todos os outros trabalhadores da educação, não só professores. Quem são preferencialmente os alunos dessas Escolas Militares? A vaga garantida é para os filhos de militares. Os demais candidatos devem se submeter a um processo no estilo vestibular. Esse processo garante que os entrantes nessas escolas serão os melhor dotados de base para atender o que se pretende nessa formação. Assim pode-se dizer que as Escolas Militares, como existem, beneficiam os setores que mais interessam para seus administradores.

Os pobres e “qualificados” devem buscar a educação nos serviços públicos, negligenciados por governantes, para que sejam beneficiados interesses privados. No caso brasileiro temos o seguinte quadro segundo dados do IBGE, no período de 2012 até 2018, dos 3,2 milhões de brasileiros com 19 anos, apenas 2 milhões concluíram o ensino médio, representando 63,5% do total. E a situação é ainda mais grave quando se sabe que do total dos que não concluíram o ensino médio, 62% abandonaram as escolas, sendo que 55% desses jovens não estudaram mais, desde o ensino fundamental.

A situação é muito preocupante, ainda que se pense como Jean Piaget ao dizer: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.” Daí a pergunta, que tipos de cidadãos os governantes do Brasil pretendem formar nesta geração de jovens?

Diante de tantas situações de injustiças, temos mesmo é que recorrer ao nosso grande e saudoso educador, Paulo Freire quando afirma: “Lavar as mãos do conflito entre os poderosos e os impotentes significa ficar do lado dos poderosos, não ser neutro. O educador tem o dever de não ser neutro.” Realmente Paulo Freire se posiciona de maneira lúcida, o que não faz parte das pretensões dos governantes de plantão. Para eles, pensar e agir conforme a proposta do educador nordestino é ferir os interesses da classe que representam no poder. E é mesmo!

Pensar e educar como proposta de Paulo Freire é coisa das esquerdas. E é mesmo! No dizer do meu estimado amigo Franklin Júnior, “...ser de direita num país campeão mundial de desigualdade social como o Brasil, ou nos demais países latino-americanos e do Sul Global, em geral, parece ser problema de caráter.”

No hemisfério Sul do Globo Terrestre a função dos educadores deve ser de educar cidadãos para que entre outras missões sejam capazes de participar dos embates em favor da justiça socioambiental. E para não terminar sem citar Milton Santos, nosso estimado e saudoso estudioso da Geografia: “O mundo é formado não apenas do que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir.” Aí está um pouco de nossas tarefas, fazer existir outro mundo. E ISSO É POSSÍVEL.



*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.









 
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