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09/01/2020 às 08h24min - Atualizada em 09/01/2020 às 08h24min

Educação pública, gratuita, laica e de qualidade

CLÁUDIO DI MAURO | GEÓGRAFO DOCENTE NO IG/UFU

*Texto elaborado com apoio de Jeniffer Gonçalves Duarte, discente do curso de Jornalismo da UFU

Há um “mantra” expressado em muitos lugares por onde ouvimos manifestações afirmando: O QUE MODIFICA O MUNDO PARA MELHOR É A EDUCAÇÃO. Para reflexão, sempre vem a seguinte indagação: de qual educação se está falando?

Há um processo de educação, com o qual não se vê melhoria para a humanidade e que apenas reproduz as realidades sociais existentes. É a educação tida como “sem partido”, que será reprodutora do sistema de exploração e de exclusão social existente. Nela está contida a ideia da meritocracia. Incute nas consciências humanas que cada pessoa é resultante exclusivamente de seu trabalho, com isso, considera que as crianças que vivem sob a égide do trabalho escravo, humilhadas desde o berço de nascimento podem ter tanto sucesso quanto as crianças que nascem em “berço esplêndido”, recebendo atenção de gente especializada.

Há circunstâncias de sucesso para alguns pobres e oprimidos, mas isso se caracteriza como absoluta exceção. No dizer de JOSELITO da Tribu das Favelas, do Rio de Janeiro, algumas favelas funcionam como verdadeira “sucursal do inferno”. Ali, crianças pobres, negras, assistem assassinatos de parentes, amigos, quando não são atingidas por “balas perdidas” e muitas vezes se engajam no tráfico de drogas como uma forma de obter identidade, ganhar algum dinheiro, levar comida para casa, comprar algumas roupas e ter a possibilidade de conseguir uma namoradinha.

Isso é uma demonstração que a educação sem partido poderá levar jovens a ser capturados pelo tráfico. É indispensável um ponto de partida, ou seja um partido, pelo qual se demonstre que há outros caminhos possíveis, mas, sempre tendo em conta que a realidade da educação está envolvida pelos componentes sociais onde se inserem os educandos. 

Quando se diz que a Educação é o caminho para humanidade, está se falando da reprodução desse modelo tão corretamente criticado por Joselito da Tribu das Favelas? Está se falando da formação autoritária que estabelece a necessidade de ter o comando patriarcal? Em outras palavras, quem decide é o provedor, que em muitos casos corresponde aos setores do tráfico de drogas e do crime organizado?

A escola sem partido é a que se destina a esse modelo que está vigente. Ou se reproduz esse modelo arcaico que está vigorando ou se pensa em uma Educação Libertadora, Emancipadora, que também valorize a disciplina e a organização. Este modelo deve ter início na Pré-escola, perpassar pelo Ensino Fundamental, Ensino Médio e pela Universidade.

A Educação Libertadora tem que ser implementada pela compreensão das UNIVERSALIDADES. Nada de pensamento único, sem partido. Mas, implementando as pluralidades, as diversidades que caracterizam a vida.

Para ter pluralidade o processo de educação precisa se fundamentar na democracia e na liberdade com muitas acepções, reconhecendo a importância da inclusão dos setores vulneráveis, das minorias e dos excluídos, mas também mirando os conceitos especiais para as maiorias que são alijadas nas relações sociais.

É muito importante a concepção de que não basta ser maioria, é indispensável não estar alijado das relações sociais. Para que o modelo de educação democrática tenha vigor, torna-se indispensável que os educandos conheçam a si mesmos, o lugar onde vivem e as relações humanas e sociais estabelecidas. É indispensável o autoconhecimento e para isso a educação tem que partir da realidade do educando. Conhecendo sua própria realidade, o educando terá oportunidade de decidir se é necessária sua atuação para transformação de sua realidade ou a conservação do estado vigente.

Esse é um bom caminho para não dar guarida aos sectarismos que se formam a partir de lideranças autoritárias, messiânicas, milicianas, vinculadas ao tráfico... há que se entender que nada deve ser resolvido pela violência. A política militarista adotada no Rio de Janeiro já demonstrou que não dá bons resultados. No caso, o que lá se observa é a escola cercada por milícias e guerras urbanas, matando crianças, jovens e sujeitos ao sofrimento com “balas perdidas”.

Todos os temas educativos devem ser articulados com base em diálogo democrático. Na concepção da Professora Doutora Flávia Neiva, da Faculdade de Direito da UFU, a “...educação precisa permitir que cada pessoa se conheça e se transforme, e, somente a educação gratuita e laica permitirá que essa transformação seja para a cidadania”... concordando com essa abordagem, Alair Benedito destaca que num país “...com tanta desigualdade social, somente esse tipo de educação permite a solução inclusiva e libertadora”.

A educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todas e todos, na atual realidade do Brasil, nos remete aos movimentos de resistência, articulados na práxis intransigente e que pretende a sociedade melhor para todas as pessoas, respeitando o meio ambiente e protegendo nossa casa comum, o Planeta Terra.

Todas as pessoas são chamadas a se engajar nesse projeto de Educação. Essa sim será transformadora.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 

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