27/12/2019 às 10h48min - Atualizada em 27/12/2019 às 10h48min
Do Natal à passagem para o Ano Novo
CLÁUDIO DI MAURO
Com a chegada do Natal levantei um questionamento em diversas redes das quais participo com a seguinte questão: para você o que é o Natal?
Recebi respostas muito variadas, entre elas destaco algumas considerações.
O Natal é uma festa cristã. Daí a busca de concepções do Natal para pessoas que se declaram cristãs. De início verificamos que todas estas pessoas que se posicionaram reconhecem o Natal como comemoração pelo aniversário de Jesus. Há que se refletir sobre aqueles que não conseguem festejar, por problemas de saúde, financeiros, solidão e é preciso que se busquem meios de incluir todos na comunhão da paz, da dignidade e da solidariedade. Entre essas pessoas cristãs há quem considere que o Natal é importante momento de reflexão sobre nossas práticas e conceitos que adotamos para verificá-los em confronto com os pensamentos da história de Jesus;
Em geral, com base nas respostas obtidas, percebe-se que os cristãos entendem que a missão de Jesus na terra é a de trazer o amor para a humanidade que naquela época usava o “olho por olho e dente por dente” como regra. Jesus veio ensinar que era indispensável mudar as regras para prevalecer o amor e a fraternidade. Daí a comemoração é pelo aniversário desse Jesus.
Nessas visões cristãs, há quem considere que é a grande oportunidade de realizar um encontro familiar, passar momentos agradáveis e cheios de amor, apesar de também haver muitos confrontos. Trata-se de um momento de introspecção, em que as pessoas e as famílias fazem a releitura de suas vidas para haver a renovação, com base nas mensagens de Jesus.
Para cristãos, é sempre muito difícil de entender os motivos pelos quais as pessoas possuem essa visão do Natal e das funções do cristianismo, com base na figura de Jesus, mas não são coerentes em suas ações.
Lembram-se, por exemplo, que Jesus teria nascido em uma manjedoura; filho de pais migrantes, sem residência própria; cresceu entre os pobres e oprimidos que se constituíram os povos merecedores de sua dedicação e preferência; um ser que não estabeleceu convívio com representantes dos Estados e nem de religiões, por isso foi perseguido; expulsou “da casa do pai” os mercadores e vendilhões dos templos, com isso demostrando que as estruturas de dominação desde aqueles tempos precisam ser vencidas; defendeu a prostituta dos homofóbicos da época determinando “atire a primeira pedra quem não tiver pecados”; foi capaz de multiplicar os peixes, o vinho e os pães para que todos pudessem saciar a fome; foi traído e torturado e por fim morto no sacrifício da cruz.
Esse ser tão especial poderia ser considerado como um ídolo a ser seguido e amado? Como seria visto Jesus nos dias atuais? Enfim, a variação de conceitos mostra a diversidade de nossas concepções no Brasil e entre os cristãos do Mundo.
A maioria dos cristãos ouvidos demonstrou que se entrega ao sistema socioeconômico e não encontrou os caminhos da sua revolução pessoal para construir as relações propostas por Jesus. Eles sabem que, com o sistema vigente, praticar o cristianismo de Jesus torna-se impossível.
Nessas considerações de cristãos enxergamos as contradições: Há quem fez questão de destacar que o Natal é uma festa do comércio, para ter mais efetividade em seus negócios. Uma festa em que o empresariado aproveita para instigar o consumismo; Há quem considere que o Natal é um momento em que muitas crianças recebem presentes e outras tantas se decepcionam por não serem lembradas pelo simbólico “Papai Noel”; migrantes circulando pelo mundo sendo expulsos de seus lares sem uma manjedoura para descansar; nas cidades, andarilhos sofrem o abandono e a falta de mínima atenção; mesmo assim, com a Parábola do bom Samaritano, Jesus mostrou a necessidade de haver dedicação para com todas as pessoas humanas.
Daí a importância de transformar estes momentos de união, de reflexão com as pessoas que a gente gosta e amigos queridos para fazer uma retrospectiva, pensar sobre erros e acertos para que possamos ajudar na construção do cristianismo de Jesus nos novos momentos que se seguem. O Natal pode se constituir em um período de introspecção individual e coletiva com familiares e amigos, pobres e pessoas em situação de vulnerabilidade.
É necessário refazer a leitura da vida para se renovar.
*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.