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19/12/2019 às 14h20min - Atualizada em 19/12/2019 às 14h20min

Enchentes em Uberlândia

CLÁUDIO DI MAURO*
A área urbana de Uberlândia tem sido submetida a inundações que ocorrem em diversas áreas e em especial naquelas que pertencem ao córrego São Pedro. O córrego São Pedro tem como um dos seus formadores o córrego Jataí que drena as águas estancadas pela represa localizada no Parque do Sabia. A Avenida Rondon Pacheco resulta da canalização do córrego São Pedro e as pistas de rolamento para veículos correspondem a antigas áreas de planícies e trechos de terraço fluvial. Os córregos referidos, nos períodos de cheias, ocupavam por toda essa área onde hoje temos as avenidas. Tudo isso faz parte da Bacia Hidrográfica do rio Uberabinha, exatamente a que abastece com água toda a população urbana de Uberlândia.

As vertentes nas quais o córrego entalhou seu vale estão quase completamente impermeabilizadas por edificações e arruamentos asfaltados. Com isso, toda água pluvial precipitada se encaminha para o rio e avenidas.

No dizer de Engels, em Dialética da Natureza, os rios pedem de volta aquelas áreas que lhes pertencem e foram invadidas e usadas indevidamente pelos projetos de ocupação de suas margens. Engels reconheceu que “...o homem conseguiu imprimir o seu selo aos demais componentes da Natureza, uma vez que, não só deslocou plantas e animais, como também alterou o aspecto, o clima, do seu domicílio, [alterou] mesmo as plantas e os animais...”. No caso da micro bacia do córrego São Pedro, afluente pela margem direita do rio Uberabinha, o “selo foi imposto” por bruscos projetos de urbanização, acarretando as conhecidas consequências. Ao canalizar o córrego, admitindo-se que a recorrência das enchentes é prevista para acontecer a cada 7 anos, o que é absoluta inconsequência. Permitir e estimular a ocupação dessas áreas sujeitas à inundações a cada sete anos deveria ser reconhecida como ação criminosa, praticada pelos técnicos que assinam as autorizações, pelos donos das terras, empreendedores imobiliários e poder público.

São esclarecedores os estudos realizados sob a orientação do geógrafo da UFU, Professor Doutor Vanderlei de Oliveira Ferreira para os riscos de inundação na micro bacia do córrego São Pedro. Sabe-se que são inevitáveis os impactos negativos das inundações nessas áreas urbanas de Uberlândia, nas condições atuais. Tais inundações não são resultantes da falta de planejamento e de ausência do conhecimento técnico, mas ocorrem em função da modalidade de planejamento adotada e das decisões políticas tomadas durante décadas e que atualmente são ampliadas.

Há quem diga que as catástrofes ambientais urbanas possuem causas naturais e são resultantes da “falta de planejamento”.  Há sim influência dos componentes da drenagem e das precipitações pluviais com características naturais. Mas, as opções de uso e ocupação dessas áreas são consequências das opções políticas de planejamento impostas por esse modelo de urbanização. São conhecidas as vulnerabilidades dessas áreas e sabe-se que suas ocupações por atividades econômicas estão sujeitas a riscos, com catástrofes eminentes.

Se os bons trabalhos técnicos de planejadores fossem suficientes para evitar os danos praticados contra os cursos de águas, suas margens e os terríveis impactos produzidos, os rios Tietê e Pinheiros não produziriam tantos transtornos na Região Metropolitana de São Paulo.  Em 1950 o geógrafo Professor Doutor Aziz Nacib Ab’Sáber defendeu sua Tese sobre o Sítio Urbano de São Paulo, mostrando a gravidade dos diversos problemas que seriam acarretados com a “retificação” do curso do rio Tietê e a ocupação de suas várzeas. As recomendações não foram levadas em conta e a Região Metropolitana de São Paulo ficou exposta às catástrofes anuais. O mesmo se dá em relação à Avenida Rondon Pacheco e à Avenida Getúlio Vargas, como exemplos de Uberlândia.

Para as margens de córrego São Pedro em Uberlândia e avenida Rondon Pacheco não faltaram experiências anteriores com aconselhamentos sobre as prevenções que evitariam tantas catástrofes, como as ocorridas neste início de dezembro de 2019.

Pelas características da localização geográfica e outros motivos socioeconômicos, a ocupação da bacia do córrego São Pedro foi estimulada pela expansão das vias de circulação de trânsito, especialmente nas planícies e com as canalizações que deram origem às avenidas Rondon Pacheco e Getúlio Vargas, com início nas décadas de 1960 e 1970. Os emergentes planos das áreas urbanas mostram essa tendência desde 1907. O vídeo Murundu está disponível no seguinte link, sob a direção do Umberto Tavares: https://www.youtube.com/watch?v=W7DXEKncOv0, oferecendo um bom entendimento sobre impactos resultantes desse modelo de urbanização e reações de uma parte da população. Professores do Instituto de Geografia da UFU, associados ao professor Euclides, ofereceram conhecimentos técnicos que fundamentaram esse documentário. Pessoas da comunidade de Uberlândia contribuíram com a análise da realidade e com a beleza poética do material filmado.

A população de Uberlândia precisa conhecer essas realidades de sua história urbana e ambiental e as origens das inundações que ocorrem na bacia hidrográfica do rio Uberabinha. Tratam-se dos resultados dos projetos de expansão urbana de decisão política. Portanto tais inundações foram planejadas e promovem tais catástrofes. Por isso identifico como criminosas essas inundações com prejuízos de pessoas e objetos fixos e seus fluxos.

* Texto elaborado com apoio de Jeniffer Gonçalves Duarte discente do curso de jornalismo da UFU.

*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.











 
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