Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
12/12/2019 às 14h08min - Atualizada em 12/12/2019 às 14h08min

O envenenamento da população brasileira

CLÁUDIO DI MAURO*
É indigna a situação que atribui “pecha” de comunistas, para as pessoas que fazem suas pesquisas e ajudam na compreensão da realidade das práticas econômicas e sociais vigentes no País. O ministro Weintraub acusa tais pesquisadores de vagabundos e improdutivos. Por vários motivos está sendo processado pela Associação de Reitores das Universidades Federais e pelos Sindicatos de Docentes.
 
A geógrafa, professora doutora Larissa Mies Bombardi que tem pós-doutorado no Brasil e na Escócia é vítima dessa acusação graças a sua coragem de desvendar práticas nocivas do agronegócio capitalista presente no Brasil. No Triângulo Mineiro a situação não é diferente da abordada pela professora. Suas pesquisas se dedicam ao conhecimento sobre o uso e abuso de agrotóxicos no Brasil e ligações com o capital internacional.
 
Professora Larissa Bombardi lançou o Atlas da Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a Comunidade Europeia no qual relata com dados oficiais de órgãos governamentais, a comprovação de que nosso país é permissivo em relação ao registro de resíduos de inseticidas e agrotóxicos nos alimentos. Por exemplo, o Brasil permite no feijão resíduos de agrotóxicos 400 vezes maiores do que é permitido na Comunidade Europeia.
 
No Brasil é permitido o traço de glifosado nas águas 5.000 vezes maior do que o autorizado na Comunidade Europeia. Em nosso país há práticas que não são permitidas na Europa. Há uma contradição no fato de que boa parte dos agrotóxicos usados no Brasil provém desses países onde os usos são vedados.
 
Há 6 empresas que produzem mais de 70% dos agrotóxicos no mundo e muitas delas têm sede na União Europeia e nos Estados Unidos. A China atualmente controla cerca de 25% do mercado de agrotóxico no mundo. Muitos desses agrotóxicos usados no Brasil são proibidos nos países onde se localizam suas sedes.
 
Isso é consequência da maneira como está organizada a agricultura no Brasil.
 
A somatória de nossas áreas ocupadas com soja, cana e eucalipto corresponde a cinco vezes e meia o território de Portugal. Não se trata de área ocupada para produção de alimentos. Apesar da importância do feijão para nossa alimentação temos sido “obrigados” a importar esse produto. Não produzimos feijão suficiente, mas produzimos soja destinada aos animais da China e Europa.
 
Para produção dessas mercadorias o agronegócio brasileiro usa agrotóxicos.
 
A inseticida aplicada mata os demais componentes vegetais permitindo apenas o desenvolvimento da soja que é plantada com sementes transgênicas, através das quais está defendida dos ativos existentes nessas inseticidas. Tecnologia utilizada para baratear o preço da produção. Ao invés de fazer a capina mecânica que empregaria trabalhadores gerando salários e renda, prefere-se exterminar os outros vegetais, contaminar os solos e a água, usando até mesmo a pulverização com aviões. Essa prática é proibida na Comunidade Europeia, mas no Brasil é utilizada para vender produtos aos países europeus, com o agravante do baixo valor agregado dessas mercadorias.


*Texto com participação da aluna do curso de Jornalismo da UFU Jhenifer Gonçalves Duarte.

*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.






 
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90