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31/10/2019 às 08h13min - Atualizada em 31/10/2019 às 08h13min

O riso de cada dia

IVONE GOMES DE ASSIS

Rir é o melhor remédio. Embora seja uma expressão muito comum, o riso cura muitos males, porque reduz o estresse, provoca o bem-estar do sujeito, alegra a alma...

Embora seja altamente contagioso, o riso é super recomendado, como importante ferramenta psicológica, terapêutica... Hospitais convidam doutores da alegria para levarem uma porção de riso aos leitos, a fim de desencadear a melhora nos pacientes. O riso corta o choro, ameniza a dor, embeleza a face... O riso, geralmente, sinaliza para a paz, que está, de forma direta, ligada a atitudes e sentimentos positivos.

Segundo Eduardo Lambert, autor de “A terapia do riso”, com a aplicação da terapia do riso em hospitais, conta-se com uma redução de cerca de 30% no período de internação de pacientes. “O riso estimula a contração de 28 músculos faciais, ativa no cérebro a produção de endorfina e serotonina (substâncias antidepressivas...)”. Para Lambert, o riso é o hormônio da felicidade. Se as ondas do rádio transmitem a voz, as ondas do celular transmitem imagem, as do micro-ondas transmitem calor, também as ondas do riso transmitem o bem-estar físico e psicológico. Quanto maior a intensidade, maior a dosagem de endorfina.

Nesta semana, o mundo perdeu o ator Jorge Fernando, ao ouvir seus amigos na despedida, a maioria se referia a ele como o diretor que colocava riso na melancolia ou o ator que reinventou o humor na televisão brasileira. Algumas pessoas têm esse dom de promover o cômico.

Henri Bergson, na obra “O riso”, anota: “não há comicidade fora do que é propriamente humano. Uma paisagem poderá ser bela, graciosa, sublime, insignificante ou feia, porém jamais risível. Riremos de um animal, mas porque teremos surpreendido nele [...] certa expressão humana. Riremos de um chapéu, mas no caso o cômico não será um pedaço de feltro ou palha, senão a forma que alguém lhe deu, o molde da fantasia humana que ele assumiu. Como é possível que fato tão importante, em sua simplicidade, não tenha merecido atenção mais acurada dos filósofos? [...] O maior inimigo do riso é a emoção”. Entretanto, há que se observar Charles Darwin, que ensina “A expressão das emoções no homem e nos animais”, mas isso é outro assunto.

Para ilustrar o riso, com a literatura, trago “O gato sommelier”, de Luiz Duarte (2016), um autor que vem da dramaturgia, da escrita, da imaginação fértil, da perspicácia, da ironia... Por falar em ironia, nunca me esqueço de uma fala de Luiz Duarte em que, virando-se para o público que o ouvia, enfatizou: “se nós não debocharmos da vida, só ela que pode debochar da gente?” Trata-se de um deboche com alegria, com carinho, ilustrado pelas contradições humanas.

A arte literária de Luiz Duarte esboça os (d)efeitos comportamentais do homem, os quais ilustram a qualidade humana de cada um, em meio ao turbilhão social, político, estético... da sociedade, sob o crivo da consciência crítica deste autor, que navega entre o obtuso e a ciência, fazendo urdiduras do abstrato.

No conto “Ora pro nobis”, Luiz Duarte escreve: “[...] começou a acontecer uns roubos de galinhas e frangos [...] – O pessoal anda colocando arame farpado em cima dos muros e ouvi dizer que o “das Couves” já encomendou, na cidade, uma dessas cercas que “dá choque”, continuou o Jararaca. E se dirigindo a um dos presentes: – E você, Zico? [...]. – Afinal, você tem uma das maiores criações de galinhas daqui, já tomou alguma providência? O interpelado, já da porta de saída, virou-se e disse somente: – Ora pro nobis! E foi embora. | – O que ele quis dizer com isso? [...] A vida continuou sem mais novidades, até que em uma madrugada a “cidade” foi despertada com uma gritaria de todo tamanho vindo de onde? Da casa do Zico! [...]. O ladrão azarado saltou o muro da casa do Zico e caiu bem no meio de uma moita do [ora pro nobis], espinheiro que havia beirando o muro da propriedade”.

Entre fatos e fakes, é nesse jogo de palavras, que a literatura vai ensinando, devagar, que rir é o melhor remédio.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.




 

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