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27/06/2019 às 15h44min - Atualizada em 27/06/2019 às 15h44min

Presidência curupira

JOÃO BATISTA DOMINGUES FILHO
Curupira: ente fantástico das matas brasileiras, um anão com cabeleira vermelha, longas orelhas, pés ao inverso, calcanhares para frente e imenso pênis. Senhor dos animais, protetor das árvores e gosta de fumo e pinga. Curupira é a representação de pensamentos, ideias por elemento simbólico que ilustra uma narrativa do que seja o Brasil moderno e agarrado a velhas tradições. “Pés ao inverso”: Brasil do futuro democrático e desenvolvido rumo à quarta revolução industrial, mas que anda para o passado escravista, religioso, segregacionista, intolerante, pobre e amargurado.

“Pés ao inverso” têm a Presidência curupira desse capitão presidente: é materialização saída das urnas do projeto de extrema direita para conduzir com violência, em todos os sentidos, a sociedade civil e as instituições democráticas, nascidas com a Constituição Federal de 1988, às velhas tradições do nosso passado escravista. Projeto sinistro de retrocesso legitimado pelas eleições presidenciais: “Brasil acima de tudo” com as mentiras: “país harmônico e sem conflitos sociais e raciais”; “brasileiro avesso a qualquer hierarquia”; “não existe no Brasil ódios de religião e de gênero”; e “nossa natureza é abençoada por Deus brasileiro”.

Brasil em retrocesso sistemático, incinerando conquistas sociais e barrando o desenvolvimento econômico. Ano que vem todas essas desgraças do Brasil serão creditadas como resultado das escolhas e ações desse capitão-presidente e não mais às esquerdas petistas, tucanas e seus satélites. Presidência curupira: naturalização da desigualdade; negação do preconceito racial, patriarcalismo; mandonismo; violência; e intolerância se alastrando socialmente. Por que somos assim? Ler livro: Lilia Moritz Schwarcz, “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, São Paulo: Cia das Letras, 2019.

Presidência curupira é desastrada a granel. São anacrônicas as ideologias que, por geração espontânea, só existem na cabeça do capitão-presidente, sem vinculação alguma com a história social e política do Brasil. Com mentiras vai tentando reescrever o que é “Ser” brasileiro no Brasil da sua cabeça doente. Legislativo, Executivo e Judiciário, num bate cabeça sem fim, cujas incompetências crescentes, em suas funções constitucionais, alimentam os projetos sinistros desse capitão-presidente, para êxtase dos bolsonaristas baba-ovos do seu líder supremo por graça divina, pós-facada. Patrimonialismo brasileiro pariu esse capitão-presidente. É a dominação política do Estado, não existindo divisões nítidas, no funcionamento das suas instituições democráticas, entre as esferas dos interesses públicos dos interesses privados.

A interação complexa entre o Estado e a sociedade civil, por meio das instituições estatais, nos três entes da Federação: União, estado e municípios são resultantes do padrão patrimonialista de governação do Brasil. Burocracias: tanto pública, quanto privada, numa simbiose lucrativa com os agentes políticos, são predadores, sem limites, dos recursos públicos padrão lava-jato, em processo de evolução em suas competências de sugadores dos recursos públicos escassos, impedimento sistemático do Brasil ter seu futuro de Nação pertencente ao restrito grupo dos países ricos e socialmente igualitários do mundo. Enquanto esse futuro maravilhoso para o Brasil não chega, perde-se tempo e recurso preciosos com esse capitão-presidente em campanha para reeleição em 2022, cuja quizila ridícula com governador de São Paulo em disputa com Rio de Janeiro por corridas da Fórmula 1 dos países ricos. Um exemplo grotesco da indigência administrativa desse capitão-presidente que emenda uma campanha eleitoral 2018 a outra 2022, cujos absurdos de sua gestão se acumulam, como as recentes besteiras com os decretos sobre armas “anula-não-anula”, no Japão, em comitiva esvaziada, sem Guedes e Araújo.

“Nossa estrutura política sempre teve no ápice, a casta patrimonialista atualmente em Brasília, formada por gente que não se peja em auferir remunerações 30 a 40 vezes superiores ao salário mínimo e mais uma série de penduricalhos de duvidosa morosidade; e na base, uma massa informe, assentada, primeiro, na escravidão e, agora, nas imensas aglomerações urbanas que dominam nosso cenário social. Temos a democracia porque não temos opção e porque seria suicídio considerar outra opção. Uma democracia incapaz, até onde a vista alcança, de impulsionar o crescimento econômico em bases sustentáveis.” (Bolivar Lamounier, O Estado de S. Paulo, 23/06/2019/A2).


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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