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11/04/2019 às 08h09min - Atualizada em 11/04/2019 às 08h09min

Trancos e barrancos

JOÃO BATISTA DOMINGUES FILHO | CIENTISTA POLÍTICO
Brasil é o gigante destemido (“Impávido Colosso”) que murchou sua expectativa de crescimento da economia. Medianas expectativas de uma expansão de 1,98% do Produto Interno Bruto (PIB), sem reformas profundas da Previdência, Tributária e a abertura da economia. Taxa média de crescimento econômica da década perdida: 0,6%. Últimos 30 anos: 2,2%. Brasil aos trancos e barrancos excretou de seu pífio desenvolvimento econômico: 13 milhões de desempregados, desalento dos jovens e 40 milhões de pessoas fora do mercado formal de trabalho, vivendo de bicos.  Governantes do Brasil produzem o Brasil “garrido” (exuberante) sempre empobrecido, “entre outras mil”: “abençoado por Deus e bonito por natureza.”

Estado brasileiro induz nossas desigualdades, cujo poder político é exercido por corruptos que administram a máquina pública, capturando para si benefícios de poder, prestígio e riqueza, sem prover ou regular os serviços públicos, com disfuncionalidade da parceria público-privada; privatizações; e sem a introdução da lógica de eficiência no funcionamento eficaz do setor público. O PIB per capita brasileiro para 2020: apenas 1% maior que o de 2010, segundo pesquisa Focus do Banco Central. Saúde, educação, infraestrutura pública, segurança, aumento da renda dos mais pobres e aumento dos programas de transferência de renda: “ouro de tolo” para comprarem eleitores nas eleições nacionais. Promessas de campanha: programa econômico liberal, cuja classe política seria responsável com a execução do interesse público, aceitando os imperativos das limitações fiscais, com a mídia apoiando as reformas presidenciais.

Assiste-se a um teatro mambembe: falta coordenação presidencial para se iniciar as reformas estruturais, sem as quais o Brasil permanece o Brasil dos governos FHC, Lula e Dilma, sem soluções duradouras, perpetuando nosso crescimento econômico modesto ao redor de 1,5% ao ano. Todavia, Paulo Guedes, o Ministro da Economia, está tranquilo, leve e solto com seus R$ 286 bilhões para fazer suas mágicas para o próximo ano: R$ 80 bilhões (privatizações); R$ 126 bilhões (devolução antecipada do BNDES); e R$ 80 bilhões (estoque do Tesouro). Congresso Nacional, Presidência e Judiciário, num conúbio perverso contra o Brasil “em raios fulgidos” (ofuscantes) para capturar benefícios do poder, prestígio e riqueza, como se o Brasil real dos “trancos e barrancos” não existisse.

José Murilo de Carvalho, historiador, no livro “A Construção da Ordem”, apresenta o corpo e a alma da história do Brasil e o cerne de nossa nacionalidade resultou das ações de militares, juízes, corpo diplomático do Itamaraty, Igreja Católica. Não somos protestantes com cultura da liberdade, com valores do capitalismo de livre-iniciativa. Nossos heróis empreendedores, do Marechal Rondon à construção de Brasília, não vieram do mercado como Henry Ford ou Nelson Rockefelller. Brasil é resultante das obras executadas por agentes do Estado como sanitaristas, engenheiros, militares, magistratura de Estado, técnicos e cientistas que criaram Embraer e a Embrapa. Estado nacional num “raio vívido de amor e de esperança” molda o Brasil num “sonho intenso risonho e límpido.” Agentes políticos desse Estado nacional são cínicos profissionais ao exigirem por lei que as crianças brasileiras cantem o Hino Nacional, antes das suas aulas, dado que nossa história é de violência contra índios e escravos negros, o que nos tornou indiferentes em relação à miséria e violência brutal contra os brasileiros, cotidianamente. Brasileiros mataram no ano passado 60 mil brasileiros e 45% da população não têm esgoto, segundo Agência Nacional de Águas. E ainda deseja-se que todos cantem o Hino Nacional como alegoria do quê? Quem canta esse hino com lágrimas nos olhos e mão no peito é nossa elite socioeconômica que tem acesso à serviços do Estado inimagináveis nos países ricos.

Presidência Bolsonaro tem comportamento messiânico e antipolítico, captura legitimidade diretamente com o povo, retirando do Congresso a representação dos interesses públicos dos eleitores-contribuintes. Presidente Bolsonaro tem concepção tresloucada do que seja a Democracia, não aceita a pluralidade de interesses e concepções de vida dos brasileiros. Bolsonaro tem certeza cega de que é único representante dos interesses múltiplos da sociedade. Pesquisa Datafolha: 33% acha o governo regular; 30%, ruim e péssimo; e 59% acreditam que Bolsonaro fará governo ótimo ou bom. Eis o reconhecimento do Bolsonaro messiânico, ainda.  


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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