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04/04/2019 às 08h12min - Atualizada em 04/04/2019 às 08h12min

Brasil em transe

JOÃO BATISTA DOMINGUES FILHO | CIENTISTA POLÍTICO
Presidente Bolsonaro é instável e dado a excentricidades: enfrenta o Congresso, acusando-o de obstrução de sua agenda legislativa. Seus ministros mimetizam o “chefe”: ministro da Educação Ricardo Vélez Rodrigues, com estupidez e arbitrariedade de lunático, vive sua gestão como um “cachorro tentando morder o rabo”, perdendo tempo e recursos públicos com demissões seguidas e incompreensíveis, com a certeza de que a educação brasileira precisa submeter-se à sua cosmovisão cristã para expurgar o marxismo cultural dos currículos escolares. Nas Relações Exteriores, há um ministro antiglobalista e a ministra dos Direitos Humanos ataca os movimentos feministas. Todos sem controle ou entraves constitucionais.

Presidente Bolsonaro foi eleito em arrastão eleitoral na base “nós contra eles”, numa cruzada contra o petismo e a corrupção padrão Lava Jato. Seu projeto de campanha é seu manual de governação do Brasil: arquivo PowerPoint ideológico e religioso, cujos conteúdos são besteiras e mentiras, sem ideias, projetos, fatos e atos. Presidência Bolsonaro não peca por inteligência: governa por intuição, afinidade de grupo e instinto de sobrevivência. Presidência brasileira sem Projeto Nacional, sem estratégia de governança para defender sua agenda legislativa com o Congresso. Fracassa em impor à totalidade da nação, pública ou privada, ideias que só fazem sentido na cabeça presidencial. Sem reflexão de verdade, movido a crenças e preconceitos, incapaz de ver, ouvir e entender os demais brasileiros que não rezam a cartilha presidencial. Tudo isso inviabiliza no Congresso: Presidência organizar ampla coalizão programática para aprovação das suas reformas: da Previdência, do Moro e agenda de concessões herdadas de Temer.

Congresso nacional não se submete ao Presidente Bolsonaro, dado que tem sua própria agenda: aumentar recursos para obras de interesse de parlamentares, cuja maioria não é agraciada com a distribuição de cargos pelo Executivo, mas constitucionaliza a execução obrigatória das emendas de bancada para apropriação do Orçamento pelo Congresso, refugando a desvinculação orçamentária dos delírios do Paulo Guedes, o fantasioso do trilhão. São contra a reforma da Previdência: militares, aumentando o soldo, nada economizando; Judiciário, Ministério Público; as corporações; e altas castas do funcionalismo público. Presidência Bolsonaro não é páreo para o Congresso para conseguir aprovação de sua agenda legislativa. É melhor para o presidente Bolsonaro ir para Israel brincar de tiro ao alvo, animação virtual para seus fiéis seguidores.

Tudo vai piorar para a Presidência Bolsonaro: sem aprovação da reforma da Previdência não destrava as demais; será cobrado cada vez mais para entregar promessas de campanha; recuou da transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, desagradando seus eleitores; setor do agronegócio quer anistia de dívidas estimadas em R$ 17 bilhões com Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), como promessa de campanha do Bolsonaro, o que poderá resultar em processo de impeachment por crime de responsabilidade fiscal; caminhoneiros seguem insatisfeitos com o desrespeito à tabela do frete; Senado é pressionado para instalar Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Judiciário e fazer impeachment de ministros do STF; e pressão para não mudar a prisão após condenação em segunda instância, aumentando atrito entre Judiciário e Operação Lava-Jato.

Resultante dessa Presidência familiar Bolsonaro: crescimento econômico mais lento, aumento da desigualdade social, corrosão dos serviços públicos e aumento da violência, cuja vacina governamental e das elites é combater a violência com mais violência: armar a todos, prender os jovens o mais cedo possível e proteger os ricos condomínios. Sobreviventes serão mais incultos, miseráveis, violentos, desgraçados e solitários. Ranking do World Justice Project (WJP): Brasil tem um Estado de Direito frágil. O País está na 58ª posição entre 126 países, em função da corrupção sistêmica, pobreza e cidadão sem proteção das arbitrariedades múltiplas. Brasil pós Constituição Federal de 1988, conserva a cultura nacional-estatista, desagradando liberais e as esquerdas, depois da Ditadura Militar, por meio de um golpe civil-militar. Direita popular eleita representa as forças conservadoras e autoritárias, explicativas da ascensão atual da extrema direita que estava subterrânea e viva no país, entravando, mais uma vez, a “democratização da democracia”.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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