Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
28/02/2019 às 08h19min - Atualizada em 28/02/2019 às 08h19min

Bem-estar social

JOÃO BATISTA DOMINGUES FILHO | CIENTISTA POLÍTICO
O Brasil foi encontrado por Cabral em 1500. Crise de identidade desde o nascimento, dados os muitos nomes, antes do batismo definitivo: Pindorama, Terra das Palmeiras, Terra de Vera Cruz, Ilha de Vera Cruz, Terra de santa Cruz, Mundus Novus, Terra Papagalli e Brasil. Até o século XX a disputa era entre Brazil ou Brasil. “Brasil seria o nome de uma ilha mítica paradisíaca localizada à altura da costa irlandesa, a Ilha Brazil, presente em mapas desde 1375. O rei mítico Brasal havia fixado residência na ilha, daí o nome”, diz José Murilo de Carvalho no livro “Pecado Original da República”. Ser brasileiro é se imaginar vivendo numa “ilha mítica paradisíaca” Brasil. Na independência éramos chamados pelos gentílicos brasiliense, brasílico e brasiliano. Ser brasileiro é ter internalizado como real a fantasia de que o Brasil terá um futuro glorioso por natureza e abençoado por Deus.

Brasil é país do futuro, ilusoriamente. Montesquieu apresenta o que ainda não somos e não conseguimos construir: “o amor à república numa democracia é o amor à democracia; o amor à democracia é o amor à igualdade; a liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.” Brasil está preso ao círculo vicioso onde todos perdem: instituições democráticas sem valores democráticos, com capitalismo sem capitalistas. Brasil contra si mesmo: não promove a transformação social República democrática para ter bem-estar social para os brasileiros.  Sem cultura democrática, temos uma sociedade conservadora, violenta, hierárquica, fazendo jus às suas raízes escravistas. Herança da escravidão é a causa impeditiva do Brasil republicano democrático. Daí a corrosão da política, falta de prestação de contas públicas, desequilíbrio entre os Três Poderes, polarização odiosa, colocando em risco a democracia existente a partir da Constituição de 1988.

Brasil distante das economias desenvolvidas e democráticas, com bem-estar social. Não tem como seu objetivo central o crescimento econômico, com políticas econômicas consensuais e estratégicas para criar bem-estar social para os brasileiros. PIB do Brasil é menos do que 10% do PIB americano e 2% da economia mundial. Oportunidades de mercado mundial são 50 vezes maiores do que mercado interno, com ganhos de escala e diversificação da produção, o que nosso mercado interno não possibilita. O Brasil não vai se desenvolver com base no mercado interno. Agricultura para exportação comprova esse fato: demanda interna é restrita. Urge uma estratégia consensual de crescimento econômico com exportação de produtos manufaturados. É a economia real do crescimento: abertura da economia, investimento na infraestrutura, racionalização do sistema e simplificação da administração pública. Executivo e Legislativo, sustentado pelo Judiciário, vão no sentido contrário do crescimento econômico para termos bem-estar para a maioria dos brasileiros. Brasil contra si mesmo, desde sempre, priorizando, com recursos escassos do Estado, previdência, redução de déficits fiscais, privatizações, relaxamento de regras sobre empresas e reforma do mercado de trabalho. Duas agendas para o Brasil: dois futuros anunciados de sucesso e fracasso. Construímos nosso futuro com as escolhas públicas do presente, com crescimento anêmico, sem alavancar o crescimento econômico sustentado e prolongado, longe do crescimento potencial do Brasil de 5% ao ano, sem se beneficiar das tecnologias existentes. Ideias e fatos retirados de Carlos Luque, Simão Silber e Roberto Zagha (Valor, 14/2/2019:A16).

Paulo Guedes deseja extinguir 18 empresas estatais dependentes de recursos do Tesouro Nacional ao custo anual de R$ 14 bilhões, empregando 75 mil funcionários. Não há projeto nacional de crescimento econômico apresentado à nação para justificar o capricho do Ministro da Economia em queimar no mercado essas empresas estatais. Só a fantasia: mercado é em tudo melhor que o Estado em crescimento econômico. Daí os brasileiros continuam sem bem-estar social. Vai extinguir a Embrapa, contra a agricultura exportadora brasileira? BNDES correto: foco em infraestrutura, com investimento em inovação e digitalização das empresas, para aumentar a produtividade. Brasil 4.0: conectar máquinas, sistemas e ativos, criando redes inteligentes ao longo da cadeia de valor, com módulos da produção autônomos. Brasil, hoje, 3.0: baixa automatização, déficit primário superior a R$ 100 bilhões e relação dívida/PIB crescendo. Agências Reguladoras disfuncionais, afastando investidores privados.


*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
             
Tags »
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90