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08/02/2019 às 10h22min - Atualizada em 08/02/2019 às 10h22min

Brechó de gente!

CELSO MACHADO
Cada um de nós que somos proprietários de um veículo, com frequência maior ou menor, trocamos de modelo. Às vezes por já estar apresentando defeitos com frequência; por adequação ao novo momento de nossas vidas, outras para dar um upgrade, e não são poucas as vezes que trocamos porque os consideramos ultrapassados. Ainda que estejam nos atendendo muito bem. Trocamos por uma questão de modismo. Não importando que ao fazer isso passamos a assumir gastos muito maiores. Não apenas com a diferença no valor da aquisição como também com o seguro, manutenção, etc.

Nessa hora agimos influenciados muito mais pelo emocional do que pelo racional. Não nos preocupamos e nem avaliamos a tão recomendada relação entre custo e benefício. O ímpeto predomina em detrimento da razão. Queremos o novo pelo que apresenta de moderno, diferente, geralmente mais vistoso.

Com roupa então mais ainda. Deixamos de usar mesmo estando com aparência impecável, praticamente novinha somente porque a onda do seu modelo passou.
Muito do valor que damos aos objetos que usamos não está associado aos seus atributos qualitativos, mas a impressão que causam aos outros. Ao status que nos colocam perante a sociedade onde convivemos. Relógios, aparelhos celulares, óculos, tênis, bolsas e uma lista infindável de peças que descartamos apenas pela aparência.

A data de validade para esses itens não interessa, o que conta é a impressão que provocam. Até aí, paciência, cada um que decida como gastar a grana que tem. Ou as dívidas que faz. O que assusta é que esse comportamento de descartar aleatoriamente não tem sido restrito exclusivamente a peças, objetos e adornos. Sem perceber de tão enraizado, tem sido praticado em relação a pessoas.

Muitas vezes nem notamos, não reparamos como pessoas que exerceram com comprovada competência suas funções e papel seja no âmbito social, político ou profissional são relegadas a um segundo plano, ao ostracismo sem nenhuma razão. Trocadas como se troca objetos, por nada. Mesmo que estejam plenamente aptas e ativas.

Se prestarmos um pouquinho mais de atenção no comportamento atual da sociedade vamos perceber quanta gente competente é substituída simplesmente porque está na moda, mudar. Será que é correto tratarmos gente, como fazemos com vestimentas, objetos e outros bens? Talento, dedicação, competência, trajetória arquivados porque o apelo ao diferente, prevalece.

Evidente que oxigenar, turbinar, abrir espaço e oportunidades para o novo é fundamental. E faz bem em todos os sentidos. Não é sobre isso, este comentário. Quem não aprovar e estimular o ingresso do jovem em todos os segmentos não é apenas retrógado, muito mais do que isso, louco e ainda por cima, ignorante.
A observação crítica é sobre o descarte de pessoas porque sua data de validade é imposta por outros critérios. Pelos mesmos que utilizamos para substituir carros, roupas e outros objetos. A moda é quem manda. É quem está no comando, impiedosa e volúvel.

Não demora, vai começar a surgir brechó de gente. Porque liquidação já está acontecendo...
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