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21/02/2024 às 18h01min - Atualizada em 21/02/2024 às 18h01min

Uberlândia acolheu mais de 670 dependentes químicos em 2023

Número corresponde a 11,8% do total de atendimentos realizados em MG; associações da cidade oferecem tratamento gratuito

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Associação Nova Criatura oferece tratamento multidisciplinar de forma gratuita | Foto: Divulgação

Em 2023, Uberlândia acolheu pelo menos 673 dependentes químicos em organizações da sociedade civil ou comunidades terapêuticas. O número corresponde a 11,8% do total de acolhimentos realizados em Minas Gerais, que registrou 5.667 atendimentos no ano passado. Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

 

Uma das comunidades que recebem dependentes químicos em Uberlândia é a Associação Comunidade Nova Criatura, situada no bairro Jardim Holanda. Em 2023, o centro atendeu 159 pessoas para tratamento e 80% delas concluíram o processo, recebendo alta terapêutica.

 

A assistente social da Nova Criatura, Joana Darc de Freitas Martins, explicou que o tratamento oferecido tem duração média de seis meses e adota uma abordagem multidisciplinar. O local atende homens e mulheres transexuais maiores de 18 anos. 

 

"Nossa comunidade possui metodologias fundamentadas no conhecimento e na ciência, contando com uma equipe composta por psicólogos, terapeutas, assistentes sociais e pedagogos. O tratamento tem duração de seis meses, porém, os pacientes têm a opção de solicitar alta a qualquer momento”, informa.

 

O espaço tem capacidade para receber até 34 pessoas, sendo que atualmente 24 vagas estão ocupadas. “O programa promove a saúde física e mental, busca desenvolver habilidades práticas e fomentar mudanças comportamentais e de pensamento nos pacientes”, explica Joana.

 

Além disso, a profissional expõe que cerca de 90% dos pacientes na instituição apresentam dependência em diversas substâncias, e apenas a minoria deles está exclusivamente relacionada ao consumo de álcool.

 

Para Joana Darc, ao concluir a reabilitação, os pacientes saem preparados para aplicar o que aprenderam em suas vidas cotidianas. Isso inclui evitar situações de risco, elaborar um projeto de vida e continuar o acompanhamento psicológico iniciado na comunidade. 

 

“Oferecemos também suporte na elaboração de currículos e temos parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), proporcionando oportunidades de cursos para capacitação profissional”, explica.

 

A associação ressalta ainda a importância da realização de reuniões com familiares dos pacientes, visando proporcionar um melhor entendimento sobre a dependência e a adicção. “Esses encontros são fundamentais para oferecer apoio e orientação às famílias, contribuindo assim para o processo de recuperação das pessoas”.

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Para se manter, a comunidade recebe subvenções do estado e da Prefeitura Municipal de Uberlândia, no entanto, ainda necessita de doações da população pelos altos gastos diários e mensais. Para contribuir, basta entrar em contato pelo telefone (34) 3213-2582.

 

“Arcamos com despesas como aluguel, água e luz, além de uma grande quantidade de alimentos, como 12 quilos de arroz por dia. É por isso que contamos com o apoio da sociedade por meio de doações”, conta a assistente social. 

 

Os interessados em iniciar o processo de apoio e acolhimento na Comunidade Nova Criatura também podem entrar em contato pelo número (34) 3213-2582.

 

TRATAMENTO

A psicóloga especializada em dependência química, Eliana Flausino, explica que alguns acolhidos chegam muito debilitados na associação, por isso é preciso equilíbrio no tratamento. “Eles chegam muito sedentos de mudança, alguns inicialmente debilitados, mas ao longo do tempo e dos exercícios, encontram resignificação para a vida, numa busca de sentidos que procuro conduzir enquanto psicóloga”.

 

Tanto nos cuidados com alcoolistas quanto para dependentes de outras drogas, a profissional afirma que é importante explorar alternativas para preencher o vazio deixado pelo uso da substância. “Durante o tratamento, os pacientes vão se descobrindo e percebendo que muitas coisas mudam ao longo dos seis meses. Embora pareça um período longo, eles reconhecem que é uma mudança valiosa no dia a dia na comunidade”.

 

O Diário conversou com um dos acolhidos da Nova Criatura, um dentista de 32 anos que preferiu não se identificar. Ele contou que a dependência do álcool resultou de vários fatores, como a timidez, que conseguiu superar com a ajuda da comunidade. Outro fator foi a responsabilidade de ser pai aos 18 anos. Além disso, o trabalho e o hábito de pensar nos outros antes de si mesmo o levaram a buscar refúgio na bebida.

 

“Eu era muito tímido e acanhado e o álcool funcionava como uma fuga dessa situação, me fazendo sentir mais alegre e sociável. Os problemas começaram na fase adulta, com responsabilidades, incluindo a paternidade aos 18 anos, enquanto eu ainda estava na faculdade”.

 

De acordo com o paciente, a reabilitação proporcionou uma transformação significativa em sua vida, indicando maneiras para se expressar, além de priorizar seu próprio bem-estar. “Eu vivia pelo outro e eu preciso cuidar de mim, me ver primeiro e depois o outro”.

 

Ainda durante a entrevista, o paciente reconheceu que, embora tenha tentado parar de beber antes, só conseguiu superar a dependência após compreender a natureza da situação e adotar mudanças de comportamento. Após meses de tratamento, agora ele está prestes a receber alta. 

 

“Com o suporte da equipe multidisciplinar, incluindo coordenadores, pedagogos, assistentes sociais e psicólogos, consegui desenvolver ferramentas necessárias para me tornar uma pessoa produtiva na sociedade. Hoje me sinto mais tranquilo, com vontade de viver, o que eu tinha perdido antes, e em processo de conclusão do tratamento. Saio daqui quatro dias”.

 

Por fim, ele destacou a importância do apoio familiar para o processo de recuperação, enfatizando que sem esse suporte, a jornada é muito mais difícil. “É importante que as famílias abracem a causa de verdade e ajudem as pessoas da maneira correta, sem isso fica difícil a recuperação”, finaliza.

 

OUTRAS COMUNIDADES

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio da Subsecretaria de Políticas sobre Drogas (Supod), informou que mantém Termos de Colaboração com 53 Organizações da Sociedade Civil (Osc's) em todo o estado, sendo 41 Comunidades Terapêuticas que oferecem serviços de acolhimento de caráter residencial transitório para adultos do sexo masculino e feminino, com problemas decorrentes do uso de substâncias psicoativas, disponibilizando 6.192 vagas por ano.

 

No município de Uberlândia, a Superintendência Municipal de Políticas Públicas sobre Drogas (Supod) possui parcerias com cinco unidades de Comunidades Terapêuticas Acolhedoras, entidades privadas, sem fins lucrativos, que realizam gratuitamente o acolhimento de pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas, em regime residencial transitório e de caráter exclusivamente voluntário.

 

Os contatos das entidades parceiras em Uberlândia são: Ceami-Reabilitação para a Vida (público masculino): (34) 3225-0467; Grupo Salva Vidas (público masculino): (34) 3217-6776; Serviço Evangélico de Reabilitação (público masculino e feminino): (34) 3238-2188; e Associação Nova Criatura (público masculino): (34) 3213-2582.

 

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que a oferta da assistência às pessoas que apresentam algum sofrimento ou transtorno mental e que façam uso prejudicial de álcool e outras drogas deve ser pautada no acolhimento e escuta qualificada nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com as diretrizes e legislação vigente. 

 

Os profissionais de saúde da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS realizam acolhimento, medidas de cuidado que visam a promoção da saúde, a oferta de assistência e tratamento na perspectiva de redução de danos, considerando a necessidade clínica do usuário.

 

Existe também a Atenção Primária à Saúde (APS) existente em todos os municípios mineiros. A APS é a ordenadora do cuidado, composta por equipe multiprofissional que realiza um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.

  

A equipe da APS avalia a necessidade clínica do usuário e, caso necessário, poderá encaminhá-lo para atenção especializada, especificamente os Centros de Atenção Psicossocial  (CAPS) de referência dos territórios.
 

Os CAPS são serviços de base territorial compostos por equipe multiprofissional, que atende pessoas em crise devido a transtorno mental grave e persistente e/ou com necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas, em regime de tratamento intensivo, semi-intensivo, e não intensivo, com funcionamento diário. Realizam ações individuais, em grupos, apoio à família, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, reinserção social, entre outros.


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