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26/01/2024 às 17h07min - Atualizada em 26/01/2024 às 17h07min

Em cinco anos, população em situação de rua aumenta 50% em Uberlândia

Dados revelam que 774 pessoas não tinham residência formal em 2023; desemprego e problemas familiares estão entre os motivos apontados

REDAÇÃO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
De acordo com pesquisa, 93% dos indivíduos que vivem em situação de rua são do sexo masculino | Foto: Agência Brasil

Dados do Observatório Nacional de Direitos Humanos revelam que o número de indivíduos sem residência formal dobrou ao longo dos últimos cinco anos em Uberlândia. Os registros apontam que, em 2018, a cidade tinha 510 pessoas em situação de rua, enquanto em 2023, a quantidade subiu para 774,  um aumento de 51%.

 

De acordo com uma pesquisa do Observatório Nacional, 93% dos indivíduos que vivem em situação de rua são do sexo masculino. Em relação à faixa etária, 35% têm idades entre 40 e 49 anos, e 28% entre 30 e 39 anos.

 

Os dados apontam ainda que 60% das pessoas (466) são classificadas como pardas e 86% possuem deficiência física ou mental. No aspecto da origem geográfica, 549 dos moradores em situação de rua vêm de localidades diversas, incluindo quatro da Argentina, dois da Venezuela e um da Itália. 

 

O levantamento também indica que 28% (220) estão vivendo nas ruas por conta do desemprego, 23% (184) por problemas familiares e 22% (175) por alcoolismo e outras drogas. Além disso, 39% (301) não têm contato com familiares e 77% (603) dormem nas ruas todos os dias. 

 

Os registros do Observatório consideram apenas indivíduos inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), um registro destinado ao acesso a programas sociais do Governo Federal. Conforme apontado pelo Fórum Permanente da População em Situação de Rua, o número real de pessoas nesta situação pode ser ainda mais elevado. O Fórum estima, com base em dados levantados por voluntários, que cerca de 1.500 de homens, mulheres e crianças não possuem residência formal no município. 

 

APOIO

Conforme dito pelo presidente do Fórum da População em Situação de Rua de Uberlândia, Jack Albernaz, não existe em Uberlândia, um plano efetivo para atender adequadamente às necessidades dessa população. 

 

“Quando alguém chega em situação de rua, é encaminhado para um abrigo, porém, o tempo disponível nesses locais é limitado, o que torna desafiador resolver as questões pessoais em um prazo tão restrito”, informa.

 

Em relação à proposta do Fórum da População em Situação de Rua, Albernaz explica que o objetivo é oferecer acompanhamento às pessoas que enfrentam demandas decorrentes da vivências nas ruas. “Composto por voluntários que possuem experiência nesta questão, como psicólogos e advogados engajados, o Fórum busca debater essas situações e apresentar as pautas de maneira oficial, visando uma abordagem mais abrangente e eficaz para lidar com essa realidade”.

 

O representante da Casa Santa Gemma, Silvio Expedito afirma que as abordagens realizadas pela organização visam proporcionar às pessoas em situação de rua uma chance verdadeira de resgate social.

 

“O pessoal geralmente é indicado por hospitais, como as Unidades de Atendimento Integrado e a UFU. Ao receberem o endereço, a equipe da Casa Santa Gemma se dedica a atender todas as necessidades, oferecendo suporte total durante o acolhimento”, explica. 

 

Sílvio Expedido ressalta que todo o auxílio financeiro é proveniente de doações, sendo integralmente destinado às ações da instituição. Os interessados em contribuir podem entrar em contato pelo telefone (34) 99971-7810. O endereço é rua José Flôres, 351, no bairro Aclimação.

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CUIDADOS

O psicólogo Hygor Cirino destaca a relevância da psicologia social ao examinar a maneira como um indivíduo interage em seu ambiente. No contexto da população em situação de rua, o profissional enfatiza a importância de observação, compreensão, pesquisa e intervenção, buscando entender como as pessoas percebem a si mesmos, aos outros e como se comportam. “Essa abordagem é fundamental para embasar propostas de políticas públicas direcionadas a essa realidade”, complementa.

 

Para o especialista, os cuidados precisam ser elaborados com base em uma abordagem multidisciplinar, promovendo um diálogo simétrico entre os envolvidos. “Em cada região da cidade, a população interage de uma maneira. Por isso, a observação é importante para os psicólogos saberem como podem atuar no acolhimento e na escuta sensível e qualificada”, explica.

 

Hygor afirma ainda que as estratégias de cuidados não se limitam apenas à área saúde, mas representam também o desenvolvimento social, educação e trabalho, exigindo uma interdisciplinaridade nas ações de políticas públicas.

 

“O assistencialismo é importante para que as necessidades urgentes sejam sanadas, mas é preciso criar estratégias complementares visando a construção de dignidade e autonomia para essas pessoas, que muitas vezes são invisibilizadas por outros membros da sociedade”, finaliza.

 

SEDESTH

Procurada pelo Diário de Uberlândia, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Trabalho e Habitação (Sedesth) informou que, por meio da Diretoria de Proteção Social à População de Rua e Migrante, realiza um trabalho de proteção social à população de rua e ao migrante. O serviço faz uma triagem, prestando orientações e fazendo os encaminhamentos necessários aos serviços sociais, como atendimento para retirada de documentação, inclusão em benefícios sociais e clínicas de tratamento para álcool e drogas ou passagens para retorno às suas cidades de origem.

 

Ainda de acordo com o Município, diariamente, é realizado o monitoramento nas ruas da cidade, principalmente nas áreas de maior fluxo desta população. A cidade também conta com o Centro de Referência Especializado para População de Rua e Migrante, que fica na Praça da Bíblia, em frente à Rodoviária, bairro Martins. Os telefones para contato são: (34) 3235-4772 e 3216-7161. Qualquer situação ou demanda relacionada à população em situação de rua pode ser direcionada ao Centro para imediato atendimento.

 

DADOS

 

Pessoas em situação de rua ao longo dos últimos anos:

2018

510 pessoas

2019

623 pessoas

2020

594 pessoas 

2021

536 pessoas 

2022

648 pessoas 

2023

774 pessoas 

(Fonte: Observatório dos Direitos Humanos, plataforma do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania) 



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