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23/09/2023 às 12h00min - Atualizada em 23/09/2023 às 12h00min

Setembro Amarelo: cyberbullying pode desencadear comportamentos suicidas, alerta psicóloga

Prática de perseguição e humilhação por meio de mensagens virtuais traz danos mentais e físicos às vítimas

KAUÊ ALTRÃO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Setembro Amarelo visa conscientizar as pessoas sobre a prevenção ao suicídio | DIVULGAÇÃO

O fácil acesso à internet e redes sociais deixam crianças, jovens e adultos cada vez mais próximos dos perigos do mundo virtual, incluindo o cyberbullying. A prática de perseguição e humilhação por meio de mensagens pode trazer diversos danos mentais e até físicos às vítimas, além de desencadear comportamentos suicidas. Neste mês, a campanha “Setembro Amarelo” visa alertar e conscientizar as pessoas sobre a prevenção ao suicídio, que muitas vezes é ocacionado pelo crime virtual. 
 
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. No Brasil, as ocorrências se aproximam de 14 mil por ano, ou seja, uma média de 38 casos por dia. Os números revelam um problema de saúde pública que afeta toda a população mundial.
 
Segundo a psicóloga de Uberlândia, Ana Duarte, nos últimos anos, muitas pessoas procuraram consultas após episódios de cyberbullying. Para ela, as ofensas destinadas às vítimas ganham uma proporção muito maior no ambiente virtual.
 
“Com o surgimento da internet, temos um ambiente de muito avanço, mas que também tem outro lado negativo. É um ambiente onde a intimidação ganha uma proporção muito maior, por meio de comentários constrangedores, falas de diminuição e comentários negativos, abertos ao mundo inteiro. Isso causou um grande impacto e essa exposição tem desencadeado muito mais o suicídio”, explicou.
 
Além do bullying, as redes sociais forçam a idealização da vida perfeita, o que acarreta em comparações, angústias e comportamentos de inferioridade. “É um ambiente que funciona como uma vitrine. As pessoas que estão lá, como influenciadores, escolhem o que será exposto. Nos deparamos com coisas que nem sempre são como se parecem, mas muitas pessoas ficam comparando a sua realidade com a das outras, nascendo assim um complexo de inferioridade”, disse.
 
De acordo com a especialista, é necessário que os usuários compreendam que muitas das coisas que são postadas se distanciam do real. Ela frisa que é necessário equilíbrio e cuidado com o que é visto e acompanhado na internet.
 
Casos de cyberbullying e outros tipos de violência virtual são crimes contra a honra e podem ser denunciados à polícia para que medidas jurídicas sejam tomadas contra os autores.
 

CONSCIENTIZAÇÃO
Falar sobre saúde mental e suicídio ainda é um tabu na sociedade. Conforme dito pela psicóloga Ana Duarte, a conscientização sobre os temas é o caminho para que as pessoas se sintam cada vez mais acolhidas e tenham o suporte emocional necessário para enfrentar os transtornos mentais e os problemas do cotidiano.
 
“É necessário falar sempre que possível, de uma maneira franca e responsável. É necessário mostrar a gravidade dessa questão. Não é uma frescura, loucura ou fraqueza. O menosprezo é o principal fator que leva a pessoa à tentativa de suicídios. Conversar e compreender é importante para demonstrar que é algo sério e que não deve ser menosprezado. Você deve compreender essa questão de saúde pública e acolher e ajudar aquela pessoa”, explicou.
 
De acordo com Ana, a maioria dos casos de suicídio podem estar relacionados a transtornos mentais, como a depressão, ansiedade ou borderline. No entanto, o pensamento ou comportamento suicida também pode ser desencadeado em pessoas que não possuem distúrbios.
 
“Nem toda pessoa que pratica o suicídio tem um transtorno psicológico. O ato pode estar relacionado a outras dores e fatores, como términos de relacionamento, luto e estresse no trabalho. Por isso, é necessário atenção”, complementou.
 
COMPORTAMENTOS
Amigos e familiares podem ajudar a identificar algumas condutas de quem está passando por problemas e apresentando pensamentos suicidas. Veja abaixo atitudes dos cotidianos que podem ser um alerta.
 
  • Desesperança e perca de ânimo às atividades e ao futuro;
  • Alterações extremas de humor e emoções;
  • Avisos constantes por meio de frases ligadas ao pensamento de morte, como “estou cansado da vida”, “vocês vão sentir minha falta”;
  • Melhora súbita, pode ser um sinal de uma decisão pelo fim da vida; é um sinal de alerta;
  • Desapego dos bens materiais, de modo a distribuir seus pertencentes e realizando doações;
  • Comportamentos irresponsáveis e perigosos sem medir consequências, como excesso do uso de álcool e drogas, direção imprudente. Apontam o desapego com a vida e o zelo;
  • Mudança na rotina: isolamento social e físico.
 
O acolhimento e o diálogo para compreender o que a vítima está passando é uma atitude essencial e o primeiro passo para buscar ajuda profissional. A psicóloga afirma que todas as angústias podem ser superadas e os transtornos psicológicos envolvidos podem ser tratados e curados.
 
SERVIÇOS DE SAÚDE DISPONÍVEIS
O Centro de Valorização da Vida (CVV) atende gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar. O serviço acontece 24 horas por dia e sob total sigilo.  A instituição conta com cerca de 3.000 voluntários à disposição.
 
A ligação para o CVV, em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), acontece pelo número 188 e pode ser feita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível conversar por chat, skype ou email, através do site do Centro.
 
Um dos voluntários da instituição, que preferiu não se identificar, afirma que o canal é um serviço humano para ouvir o próximo. “O nosso objetivo é acolher as pessoas em sofrimento, que queiram conversar com alguém, mas não com um familiar ou um conhecido. O importante é que a pessoa se permita pelo menos a uma tentativa, pois estamos aqui pelo próximo. Somos amigos, mesmo anônimos, e ouvimos o que for necessário, sobre qualquer assunto, e sem julgamento. Não é necessário vergonha ou receio, estamos juntos para encontrar as alternativas que façam mais sentido”, compartilhou.
 
A rede pública de saúde também fornece amparo profissional gratuitamente, mediante os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) e as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), em Uberlândia. É possível realizar consultas com psiquiatras ou psicólogos.
 
A Universidade Federal de Uberlândia (UFU), também disponibiliza atendimento psicológico gratuito para crianças e idosos com atendimentos feitos pelos alunos do curso de psicologia, com supervisão de profissionais. O contato (34) 3225-8508 está disponível para mais informações.

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