Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
18/02/2023 às 11h00min - Atualizada em 18/02/2023 às 11h00min

‘As portas estão abertas’: primeira mulher a assumir cargo de comando da PM em Uberlândia fala sobre a carreira e os desafios na nova função

Ten. Cel. Patrícia, empossada nesta semana como chefe do 32º Batalhão de Polícia Militar, falou com exclusividade ao Diário

REDAÇÃO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Nascida em Uberaba, Ten. Cel. Patrícia sabe dos desafios que a espera no comando do 32º BPM | Foto: Sílvio Azevedo/Diário de Uberlândia
Próxima de completar 23 anos de carreira na Polícia Militar, a uberabense Fernanda Patrícia Vieira da Silva protagonizou, nesta semana, um marco, não apenas na sua trajetória profissional, mas também na história de Uberlândia. Aos 42 anos, a Tenente Coronel Patrícia, como é chamada, tomou posse como comandante do 32º Batalhão de Polícia Militar, se tornando a primeira oficial mulher a assumir o comando de um batalhão da PM na cidade.

Em entrevista exclusiva ao Diário de Uberlândia, a policial militar falou sobre os desafios na nova função e o sentimento de ser uma inspiração para outras mulheres. Confira a entrevista completa:

DIÁRIO: Como começou seu interesse em se tornar uma oficial da Polícia Militar?

TEN. CEL. PATRÍCIA: O meu pai era PM. Fui criada numa cidadezinha chamada Fronteira e meu pai comandava essa cidade. E lá tinha convivência com policiais, ia ao quartel. Chamo isso de incentivo indireto, pois não tinha me atinado para ele. Quando entro na adolescência, vou pra Uberaba e estudar no Colégio Tiradentes. 

Lá a gente recebe a visita de cadetes da Academia de Polícia Militar informando sobre o curso e meu interesse partiu dali. Meu pai nunca me incentivou diretamente como uma sugestão aberta. Tenho tio e primos militares e esse ambiente foi me incentivando, me condicionando para essa escolha. Em 1999, abriu concurso e havia vagas para o público feminino e eu prestei e passei. Ingressei no ano de 2000 no curso de formação de oficiais.

DIÁRIO: Quais conquistas você considera mais relevantes como militar?

TEN. CEL. PATRÍCIA: Entre as grandes conquistas, está a formação, na qual eu me dediquei muito. Tive uma boa classificação na minha turma, fui destaque com a maior turma nas disciplinas de Direito. Ganhei até um prêmio do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais, que é uma espada do oficialato. Na academia, conheci meu esposo, que também é oficial da Polícia, e construímos nossa família a partir desse relacionamento ainda no período de formação.

A Polícia Militar facilitou muito minha vida e a vida das mulheres no ambiente de trabalho, na questão do rigor da hierarquia e disciplina que obriga a todos a ter respeito mútuo. Eu vejo que, já na formação, a forma como os valores institucionais nos são inseridos nos blindam contra essas questões.

E quando ingressei, em 2000, já tinha quase 20 anos do ingresso da policial feminina. Desde a primeira turma, as primeiras mulheres já alcançaram designação de comandante de batalhão e coronel. Já na primeira turma, a mulher já alcançou todos os espaços para a gente e facilitou muito. Abriu um caminho que eu e minhas amigas entendemos ser fácil traçar.

DIÁRIO: Quais foram os seus primeiros passos na profissão?

TEN. CEL. PATRÍCIA: Eu formei e fui para Uberaba, por um período pequeno, porque meu esposo passou no curso de piloto e havia uma base e viemos transferidos. Desde 2006 estou em Uberlândia. Aqui já comandei pelotão, companhia, tático-móvel, fui chefe da sessão de planejamento operacional, recursos humanos, da sessão de comunicação organizacional. Nos últimos anos fui para a atividade de inteligência, onde ficamos muito reservados. Da inteligência vim direto para o comando da unidade.


• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram


DIÁRIO: Qual sua reação ao receber a notícia de que seria Comandante do 32º BPM?

TEN. CEL. PATRÍCIA: Inicialmente, a gente sabia da promoção quando saiu o quadro de acessos. A próxima etapa é para onde eu vou. Existia a possibilidade, inclusive de ir pra fora de Uberlândia, então a gente fica na expectativa de saber se vai ficar ou não. Mas, na hora em que saiu a designação, que eu vi comandante do Batalhão, fiquei muito feliz, porque não deixa de ser uma confiança muito grande depositada pelo alto comando, pois é uma atividade que requer muito cuidado, que vai trazer os resultados que o comando busca para entregar uma segurança pública pra nossa cidade.

DIÁRIO: Qual é o sentimento de ser 1ª mulher à frente de um Batalhão em Uberlândia?

TEN. CEL. PATRÍCIA: No primeiro momento, eu já sabia e tinha grandes expectativas em relação à possibilidade da minha promoção. E quando falamos em promoção, tem mais vagas aqui de comandante de Batalhão do que outra atividade de Tenente-Coronel. Então eu, conhecendo a instituição como conheço, achei algo natural, até pelo histórico dos 40 anos da mulher na PMMG.

Porém, a dimensão que essa notícia tomou fora do ambiente militar ressignificou o meu comando. Foram tantas mensagens, divulgações, felicitações, mensagens de apoio, mulheres dizendo que se sentiram representadas, os homens. A tropa me dando os parabéns, satisfeita com a minha conquista por conhecer a minha trajetória aqui na cidade há um certo tempo. Meus superiores muito felizes, os parceiros da PM, poder judiciário, Ministério Público, satisfeitos com a conquista. Foi um acolhimento que tomou outros ares, algo que tinha como normal. Autoridades, políticos se manifestando. Fiquei satisfeita com essa repercussão positiva.

DIÁRIO: Agora como Comandante do 32º BPM, quais os grandes desafios a serem enfrentados?

TEN. CEL. PATRÍCIA: Quando a gente ingressa e começa a compreender a grandeza dessa instituição, é o sonho de todo oficial chegar ao comando de uma unidade operacional, de uma tropa. Eu entendo que é o auge da carreira do oficial. E os desafios são muitos, principalmente em uma instituição onde o nível de exigência é muito grande. É uma Polícia que tem toda uma metodologia de cobrança em termos de resultado. Nesse aspecto temos o nosso maior desafio. É um batalhão em uma cidade grande, diferenciada, que cresce destacada no cenário nacional. É um grande centro urbano e traz consigo todas as dificuldades do crescimento populacional.

DIÁRIO: É um incentivo para que mais mulheres se interessem pela carreira na Polícia Militar?

TEN. CEL. PATRÍCIA: A gente não deixa de ler os comentários e vemos aquela vontade das pessoas ingressarem na PM, mostrando que é uma profissão bonita, tratadas e cobradas como iguais. As portas estão abertas. O que diferencia é a sua boa vontade de entrega do trabalho.

DIÁRIO: Se pudesse deixar uma mensagem para essas mulheres que almejam uma carreira na Polícia Militar, qual seria?

TEN. CEL. PATRÍCIA: Eu diria que, olhando para trás, a única coisa que tenho certeza é que eu não teria escolhido uma profissão melhor. Ela nos desperta paixões, muitas coisas que trazer valor à mulher, possibilidade de ascensão na carreira, nos valoriza, temos nosso lugar de destaque e, é uma profissão que tem muita ligação com o sexo feminino quando se para pensar na essência dela, que é servir, cuidar. Não só autores que estamos prendendo, são as vítimas que estamos cuidando. Uma sociedade que precisamos servir e pacificar.


VEJA TAMBÉM:
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90