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08/02/2023 às 18h00min - Atualizada em 08/02/2023 às 18h00min

Crianças e adolescentes são 57% das vítimas de violência atendidas pelo HC-UFU, em Uberlândia

Levantamento foi divulgado pelo Núcleo Hospitalar de Epidemiologia (NHE); saiba como denunciar

SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Na comparação com os últimos quatro anos, 2022 tem o segundo maior número de casos | Foto: Getty Images
Um boletim produzido pelo Núcleo Hospitalar de Epidemiologia (NHE) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU/Ebserh) revelou que 57% das vítimas de violência atendidas pela unidade são crianças ou adolescentes. Os casos envolvendo estes pacientes são mais da metade das 600 notificações desta natureza registradas pelo HC-UFU em 2022. 

De acordo com o levantamento, somente no ano passado, foram 343 atendimentos a pacientes infantis vítimas de violência. Completam a lista mulheres (172); idosos (19) e homens (69). O índice fica atrás apenas dos registros de síndrome respiratória aguda e coronavírus negativo (970), pacientes positivos de covid-19 (497) e acidentes de trabalho (416). 

Na comparação com os últimos quatro anos, 2022 tem o segundo maior número de casos, perdendo apenas para o ano anterior, no auge da pandemia, quando houve 355 notificações de violência infantil. Em 2020 foram 328 e, em 2019, 307. Segundo a médica Francielly Gastaldi, que faz parte do Núcleo de Epidemiologia do HC-UFU/Ebserh, o boletim é um compilado de dados de atendimentos que são realizados no hospital. “Toda suspeita de violência, ou da entrada de maneira espontânea, ou encaminhada de outra instituição, privada ou pública, para avaliação multidisciplinar pelo Pronto-Atendimento”. 

A médica reforça que os dados do boletim são de atendimentos feitos exclusivamente no próprio HC e que há ainda outros casos não notificados. “Existem outros casos como negligência, abuso físico que, por causa do desconhecimento desse fluxograma, as crianças acabam não sendo encaminhadas para cá”.

Francielly explicou que, quando a criança chega para atendimento no HC-UFU/Ebserh, uma avaliação imediata é feita por uma equipe multidisciplinar. “Essa criança é avaliada de maneira imediata pela equipe multidisciplinar, com assistente social, psicólogo, avaliação pediátrica e ginecológica, se necessário, e será acompanhado pelo Nuavidas, onde consegue manter um acompanhamento mais rigoroso desses casos, contato mais íntimo com o Conselho Tutelar e outras instâncias”.

O Núcleo de Atenção Integral a Vítimas de Agressão Sexual (Nuavidas), citado pela médica, é um projeto desenvolvido no HC-UFU para atender e orientar vítimas de violência social, fornecendo acompanhamento e tratamento físico, psicológico e jurídico.

A psicóloga Luzia da Silva, que atua no NuaVidas, diz que as crianças atendidas recebem acompanhamento médico-pediátrico, psicológico e de assistência social e a família também recebe consultoria jurídica, quando necessário. “O atendimento é realizado em um espaço lúdico, um consultório no qual há brinquedos diversos, livros infantis, jogos, material de colorir e modelar. O objetivo é propiciar um ambiente mais acolhedor possível que permita um sigilo e uma escuta qualificada”.

De acordo com a profissional, na maioria das vezes, a linguagem utilizada com os pacientes infantis vai muito além do aspecto verbal. 

“Não adianta ficar esperando que uma criança se sente em uma cadeira e narre detalhadamente, de modo objetivo e linear uma situação de violência. Suas falas e compreensões do mundo são permeadas pelo lúdico, pela representação da realidade no brincar. Por isso a importância de não exigimos que a criança se adapte a fala do adulto, mas que conversemos com ela por meio do brincar, com sua compreensão do mundo. Por isso no atendimento para crianças e adolescentes se faz necessário um espaço lúdico”, explicou.

Entre as formas de expressar a violência sofrida, estão os gestos, apontamentos, choro, desenhos, silêncios. “Ela fala nos jogos, no brincar, quando diz por que gosta, não gosta, sente raiva (etc) de determinada pessoa”, conta a psicóloga.

Diante de uma situação tão complexa e que pode gerar traumas para o restante da vida, a psicóloga destaca a importância do acompanhamento psicológico. “O atendimento psicológico para crianças envolve o tratamento e a prevenção de novas violências. É importante lembrar que uma violência sexual pode gerar inúmeros transtornos na vida de uma criança, desde transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, até fragilidade e ruptura de vínculos familiares, econômicos e sociais”.


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CONSELHO TUTELAR
Outro órgão que acompanha os casos de violência contra crianças e adolescentes é o Conselho Tutelar. Segundo a conselheira Ana Carolina de Oliveira Fernandes, sempre que há uma suspeita de ameaça ou violação de direitos contra crianças e adolescentes o órgão deve ser acionado.

“Somos acionados por meio de denúncias que podem ser anônimas, feitas diretamente nos telefones do conselho tutelar de Uberlândia ou realizar a denúncia pelo Disque 100. Além disso, também atendemos à população por demanda espontânea diretamente no Conselho Tutelar, pedindo orientações, trazendo queixas, reclamações e até mesmo denúncias. Recebemos também notificações de instituições quando há violação de direitos contra crianças e adolescentes”.

A conselheira tutelar lembra que as unidades de saúde e forças de segurança, sempre que há suspeita de violência, são obrigadas a acionar o Conselho. “Há casos que a saúde e polícia nos comunicam para o acompanhamento daquela família (após o ocorrido) e há casos que necessitam da atuação e presença do conselheiro no momento da ação, demandando medidas mais urgentes ao caso. É importante e obrigatório. Por lei, é dever de todos, comunicar o conselho tutelar sempre que o direito da criança/ adolescente for ameaçado ou violado. Ser omisso é crime”.

Ana Carolina reforça que, quando constatada a violência, a família é ouvida, orientada, aconselhada pelo Conselho Tutelar para que medidas cabíveis sejam tomadas. “As medidas são conforme nossas atribuições art. 136 do Estatuto da Criança e Adolescente. Portanto, nós requisitamos serviços públicos, por exemplo, na área da saúde, educação, serviço social, segurança e até mesmo representação do caso ao Ministério Público ou autoridade Judiciária, dependendo do caso”.

COMO DENUNCIAR
Disque 100: pode ser feita de forma anônima e por qualquer pessoa
Polícia Militar, via 190: casos onde a criança está correndo risco imediato
Disque Denúncia, pelo 181: também aceita o anonimato
Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e à Polícia.
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008



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