Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
20/12/2022 às 10h25min - Atualizada em 20/12/2022 às 10h25min

Violência familiar é a principal fonte de agressões contra população LGBTQIA+, em Uberlândia

Levantamento feito na cidade aponta que amigos e familiares são os que mais agridem gays, lésbicas e bissexuais

REDAÇÃO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA

O ambiente familiar é a principal fonte de agressão contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. É o que aponta um levantamento divulgado pela Comunidade LGBTQIA+ de Uberlândia. O estudo, realizado entre maio e julho deste ano, ouviu 916 pessoas da comunidade para o censo socioeconômico e demográfico da população LGBT da cidade.

• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram

Os dados coletados em 2022 expõem uma grande diferença na origem das agressões feitas à comunidade LGBT. Em 2020, por exemplo, a LGBTfobia acontecia em espaços públicos na maioria das vezes. O estudo mais recente mostra que, em 2022, a família é o local de maior discriminação, apontado pela população LGBT. Na sequência, aparecem as escolas e faculdades, seguida do espaço público e do ambiente profissional. Outros itens citados pelas vítimas de agressão envolvem ainda o transporte público, bares e boates, via pública, carro de aplicativo, comércios e igrejas.

Um dos depoimentos colhidos de uma pessoa LGBTQIA+ comprovam que até mesmo amigos realizam algum tipo de agressão pela orientação sexual.

 

 "Já fui espancado por um membro da minha família mais de uma vez por minha orientação sexual e identificação de gênero. Ela fechou meu braço no vidro do carro porque uma mulher na rua usou pronome masculino comigo, gritou diversas vezes comigo, me abusou psicologicamente por minha sexualidade, me espancou, gritou, quebrou um prato, me xingou e recebi várias ameaças dela. Já me apelidaram de forma ofensiva diversas vezes por minha orientação sexual. Todos os dias sou barrado na entrada dos banheiros além de correr um risco enorme em entrar neles (tanto no feminino ou masculino). Todos os dias também sou parado na escola por grupos de pessoas me perguntando se sou um garoto ou uma garota e qualquer resposta que dou sou questionado", relatou uma das vítimas.


Outra vítima de agressão familiar relatou que já não tem mais contato com alguns parentes, após ser rejeitada.
 

"Quando eu estava na graduação um professor puxou o meu cabelo, quando eu trabalhava no departamento de uma empresa uma colaboradora me puxou pelo braço e me ofendeu na frente de todas do departamento, dizendo que era um absurdo eu usar bolsa, negando a minha identidade. Violências verbais com relação ao desrespeito aos meus pronomes femininos, dentro da universidade, olhares de julgamento, comentários preconceituosos. Na família, fui abusada por um familiar na infância e a mesma pessoa tentou me expulsar de casa quando eu tinha 12 anos. Desde os meus 20 anos, eu não tenho mais contato com a minha família paterna, eles me rejeitaram".


TIPOS DE VIOLÊNCIA
Ainda de acordo com a análise da Comunidade LGBTQIA+ de Uberlândia, 44% dos entrevistados relataram que já sofreram algum tipo de violência na cidade. A mais citada pelas vítimas foi a agressão verbal, seguida da homofobia, que foi citada por quase 100 pessoas da comunidade. Figuram na lista ainda a violência psicológica, sexual, física, institucional e patrimonial, negligência, bullying, abandono familiar e financeiro, exploração sexual, tráfico de pessoas e outros.

"Apenas violência verbal. Já quase me barraram de entrar em lugares por causa da discrepância entre nome social (em ingressos, por exemplo) e o nome civil, ou olhares estranhos por causa da foto e do nome no RG. Talvez por mera ignorância, mas não deixa de ser uma forma de opressão. Também tive que entrar com recurso para o INEP aceitar meu nome social para realizar a prova do ENEM, e mesmo assim apareceu o nome morto na prova", relatou uma pessoa da comunidade LGBT.

PERFIL
Com relação à distribuição da população LGBTQIA+ de Uberlândia, o setor Leste tem 33,7% de toda a comunidade, seguido do setor Oeste com 20,8% e o setor Sul, com 20%. O setor Central e Norte foram os que registraram as menores populações LGBTQIA+ do município, com 14,9% e 10,7%, respectivamente. Os bairros Santa Mônica, Shopping Park e Chácaras Tubalina trouxeram uma maior prevalência da comunidade em questão. Há ainda oito pessoas da amostra que se enquadram na migração pendular, ou seja, deslocam-se diariamente até a cidade de Uberlândia para trabalhar.

Sobre a orientação sexual das pessoas entrevistadas em 2022, 32,8% de pessoas identificaram-se como bissexuais, 28,7% identificaram-se como gays, 21% lésbicas, 10,2% pansexuais, 4,8% heterossexuais, 2,1% responderam outros, 0,2% citaram que são assexuais e 0,2% demissexuais. A maioria da comunidade LGBTQIA+ ganha entre R$ 1.213 e R$ 2.424, e cerca de 200 entrevistados relataram que não possuem renda.


VEJA TAMBÉM:

Castramóvel realiza atendimentos no Distrito de Tapuirama


 

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90