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29/10/2022 às 13h53min - Atualizada em 29/10/2022 às 13h53min

Número de famílias em situação de pobreza extrema cresce quase 60% em Uberlândia

Levantamento, com base em dados do Ministério da Cidadania, revela que mais de 46 mil pessoas têm renda mensal limitada a R$ 105

SÍLVIO AZEVEDO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Dados do Ministério da Cidadania mostram que 46 mil pessoas estão classificadas na faixa da pobreza extrema I Foto: IGOR MARTINS
O número de famílias vivendo em situação de extrema pobreza em Uberlândia cresceu 58,5% neste ano na comparação com 2021. O levantamento, feito pelo Diário com base nas informações disponibilizadas pelo Ministério da Cidadania, revelou que mais de 20 mil grupos familiares enfrentam situação crítica de vulnerabilidade socioeconômica no município.
 
Os dados levam em consideração os cadastros do CadÚnico, registro que permite ao governo federal identificar quem são e como vivem as famílias de baixa renda no Brasil. O recorte mostra que, em Uberlândia, 20.118 delas possuem uma renda limitada a R$ 105 por pessoa. Em 2021, de janeiro a agosto, mesmo período de comparação, 12.692 grupos familiares se encaixavam na mesma condição.
 
Se comparados os dados somente de 2022, o crescimento em oito meses foi de 21,66%, com um salto de 16.536 famílias em janeiro para pouco mais de 20 mil em agosto.  Os dados do CadÚnico mostram, também, um aumento no número de pessoas em estado de extrema pobreza na cidade. Se entre janeiro e agosto de 2021 eram 32.356. Nesse mesmo período de 2022, o índice saltou para 46.645, crescimento de 44,16%.
 
DIFICULDADES
Uma dessas famílias é a da Aline Rodrigues dos Santos (43), que mora com as duas filhas, de 16 e 14 anos, no bairro Dom Almir, e sobrevive com o auxílio de R$ 600 que recebe do governo federal, além de algumas doações.
 
“Esse mês o auxílio foi cortado e disseram que é porque eu atualizei, mas fui ao CRAS e atualizei. Agora vou ter que esperar. Estou com bujão de gás vazio. Hoje estou levando almoço da Cozinha Comunitária aqui do bairro para casa”, revelou à reportagem.
 
A mãe conta que veio de outro estado em busca de melhores oportunidades. “Eu sou da Bahia, vim pra Uberlândia em 2018, arrumar serviço, mas está difícil. Minhas filhas vão para a escola sem comer de manhã e comem na escola. À noite levo comida para elas. É muito difícil. Esses dias a Cemig cortou minha luz e a mulher da ONG que me ajudou”, disse.
 
Na avaliação do economista Henrique Dantas Neder, essa migração pode ser apontada como um dos motivos para o aumento dos números na cidade. “Em primeiro lugar, Uberlândia é um município polo. Uma das regiões mais ricas de Minas Gerais, com uma dinâmica econômica maior, tendendo a atrair pessoas de outras regiões em busca de serem absorvidas pelo mercado de trabalho local. E acaba ficando dentro da faixa abaixo da linha de pobreza. Temos um processo de migração da pobreza”, afirma.
 
O especialista reforça que, apesar de ser uma cidade com potencial financeiro enorme, Uberlândia ainda não possui um perfil econômico inclusivo. “É uma crítica que eu faço do processo de desenvolvimento, porque muito centrado em indústria e atividades econômicas que não tem efeito multiplicador e não emprega muito, com exceção à construção civil”, avalia.
 
O economista aponta que o núcleo de crescimento é lotado no setor de serviços que emprega uma população na área de informática, com startups. No entanto, pessoas com menor poder aquisitivo não são absorvidos por esse setor.  “Tem um conceito da economia marxista, que é o exército industrial de reserva. O salário médio de Uberlândia não é bom, comparado com outros municípios. Existe uma discrepância da pujança com a condição média”.
 
Henrique aponta ainda que é necessário que a cidade tenha um crescimento com desenvolvimento. “Crescimento com concentração de renda não dá dinâmica para a região. Essas pessoas geram uma massa de salários melhores para dinamizar a economia local. É uma visão equivocada achar que o processo de acumulação, baseado no sobrelucro. É uma armadilha cruel que vai aumentar o sofrimento a população da periferia e sacrificar o crescimento da economia”.
 
E reforça que o que acontece em Uberlândia não é diferente do que acontece em todo país. “É um retrato do Brasil. Com tantas diferenças e contrastes. Cresce, só que gera mais problemas. É uma questão emergencial. As pessoas que são contra a transferência de recursos tem que entender que para a pessoa sair da pobreza, ela tem que ter emprego para ter qualidade de vida”.
 
A reportagem questionou a Prefeitura de Uberlândia sobre o aumento de famílias e pessoas vivendo em situação de extrema pobreza na cidade. Perguntou ainda quais ações e programas elaborados para tentar diminuir o impacto desta realidade. Confira na íntegra:

"A Prefeitura de Uberlândia tem como compromisso desenvolver políticas públicas que proporcionem o desenvolvimento social, a profissionalização e a inserção no mercado de trabalho. Dentro dessa perspectiva, além das ações estruturantes de mobilidade, segurança e lazer e acesso a serviços de saúde e educação gratuitos e considerados de referência para o país, a Prefeitura de Uberlândia adota um amplo trabalho de promoção social. Para suporte assistencial e estímulo ao pleno desenvolvimento cidadão, a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Trabalho e Habitação (Sedesth), está à frente das 13 unidades do Centro de Referência em Assistência Social (Cras), do Busão Social, do escritório local do Sistema Nacional de Emprego (Sine), do Ônibus Meu Ofício, dos seis Centros de Referência Profissionalizante, dos dois condomínios do idoso, dos quatro Centros Educacionais de Assistência Integrada ao Idoso (Ceais) e da Estação da Juventude. Esses são pontos de referência que viabilizam a implementação de importantes projetos e programas como a distribuição do kit alimentação social (voltado para famílias com renda per capta equivalente a até um quarto do salário mínimo), a ofertas de capacitações e cursos profissionalizantes gratuitos a pessoas de todas as idades, a intermediação e encaminhamento diário de oportunidades de trabalho, a realização e a instituição legal do Mega Feirão de Emprego como evento anual (o que, na primeira edição, resultou em mais de 1 mil empregos encaminhados), entre outros."


CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO
Para oferecer planos de assistenciais, o governo federal leva em consideração a situação financeira das famílias. Os grupos classificados em situação de extrema pobreza são aqueles que possuem renda per capita de até R$ 105.

Em seguida, estão as famílias em situação de pobreza, com renda per capita que vai de R$ 105,01 à R$ 210. As de baixa renda se encaixam na faixa salarial de R$ 210,01 até meio salário-mínimo, que atualmente é de R$ 606.


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UBERLÂNDIA
Pessoas em situação de extrema pobreza
  • 2021 (janeiro a agosto): 32.356
  • 2022 (janeiro a agosto): 46.645
    (aumento de 44,16%)
Famílias em situação de extrema pobreza
  • 2021 (janeiro a agosto): 12.692
  • 2022 (janeiro a agosto): 20.118
    (aumento de 58,5%)
MINAS GERAIS
Pessoas em situação de extrema pobreza
  • 2021 (janeiro a agosto): 3.010.491
  • 2022 (janeiro a agosto): 3.552.227
    (aumento de 17,99%)
Famílias em situação de extrema pobreza
  • 2021 (janeiro a agosto): 1.108.580
  • 2022 (janeiro a agosto): 1.459.316
    (aumento de 31,6%)
BRASIL
Pessoas em situação de extrema pobreza
  • 2021: 14.965.065
  • 2022: 19.820.117
    (aumento de 32,44%)
Famílias em situação de extrema pobreza
  • 2021: 41.538.881
  • 2022: 48.369.266
    (aumento de 16,44%)

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