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14/09/2022 às 17h05min - Atualizada em 14/09/2022 às 17h05min

Lei que obriga agências bancárias a disponibilizarem intérprete de libras passa a vigorar em Uberlândia

Legislação foi sancionada pelo Executivo em julho; surdo comemora ação que garante mais dignidade para comunidade

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Atendimentos devem seguir de acordo com os horários de funcionamento dos empreendimentos I Foto: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL
Nesta semana, a lei que obriga as agências bancárias a adotarem um tradutor e um intérprete de Libras passou a vigorar em Uberlândia. A norma foi sancionada pelo Executivo no fim de julho e tem como objetivo garantir tratamento adequado e acessibilidade para a comunidade surda e muda que reside no município.
 
Segundo a lei, os atendimentos devem seguir de acordo com os horários de funcionamento das agências bancárias. Além disso, os estabelecimentos também precisam colocar em um local de fácil visualização um cartaz, que deve contar com o símbolo de Libras. O projeto é de autoria do vereador Neemias Miquéias (PSD).
 
Todos os bancos de Uberlândia tiveram o prazo de 45 dias a partir de 27 de julho para se adequarem à lei. Desde terça-feira (13), a Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) tem realizado fiscalizações juntamente com a Associação de Surdos e Mudos (AME), para verificar se as agências estão cumprindo a legislação.
 
Em nota, o Procon afirmou que tem trabalhado ativamente junto às instituições financeiras para atendimento à norma de inclusão à pessoa com deficiência. Em comunicado, o órgão disse que as fiscalizações ocorrem diariamente e estão inseridas na rotina de trabalho do setor. Em caso de irregularidades, o Procon deve ser acionado pelo 151 ou no
site Fale Procon.


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FACILIDADE
A implantação da lei em Uberlândia vai facilitar a vida de Bruno Alves Ferreira, de 45 anos. Em conversa com a reportagem, com o apoio de Raiane Gonzaga, da Central de Intérprete de Libras (ICOM), Bruno, que possui deficiência auditiva, comemorou a garantia de acessibilidade nas agências financeiras e espera que todos os seus problemas relacionados a instituições financeiras sejam solucionados com maior rapidez e precisão, algo que dificilmente acontecia anteriormente.

Representante da Associação de Surdos de Uberlândia (ASUL), Bruno conta que já passou por transtornos em agências bancárias pela simples ausência de um intérprete de sinais. Certa vez, ele contraiu uma dívida bancária com alta taxa de juros pela má comunicação do estabelecimento. De acordo com ele, seu nome ficou sujo na Serasa, mas o uberlandense não vai mais aceitar esse tipo de problema.
 
“Eu sempre ia ao banco tentar resolver alguma questão, mas era sempre muito complicado. Já tive diversos tipos de problema por conta da comunicação. Eu compreendo algumas palavras escritas, mas nunca me sentia bem em ir a alguma agência bancária, eu não conseguia ter exatidão e nenhuma atenção. Preciso de igualdade e independência”, disse.
 
Em determinadas instituições financeiras, pessoas surdas ou mudas tinham o auxílio de avatares interativos em Libras. A medida chegava a ajudar Bruno Alves Ferreira, mas a existência de um profissional dedicado à comunidade deixa as coisas muito mais práticas e fáceis, em sua visão.
 
“O avatar ajuda em determinadas informações, mas eu não consigo passar o que eu preciso. Ele dá a resposta certa, mas não existe intermediação na comunicação, porque são sempre respostas prontas. Com o intérprete, eu consigo ter esse auxílio na comunicação. Com o avatar, corre o risco de eu fazer algum questionamento e ele não conseguir me responder”, detalhou Ferreira.
 
AMPLIAÇÃO DO SERVIÇO
Com a implementação da lei nas agências bancárias da cidade, Bruno espera que a acessibilidade à comunidade surda aumente ainda mais em Uberlândia nos próximos anos. Segundo ele, além de bancos, é necessário contar com o apoio de intérpretes de sinais em escolas, estabelecimentos comerciais e principalmente em hospitais e clínicas médicas e odontológicas.
 
“Como eu vou saber explicar a minha dor para um dentista ou para um médico? A comunicação é muito difícil. Não consigo passar meus sintomas com exatidão, e consequentemente eles podem passar medicamentos que não se encaixam no meu quadro. O desejo da nossa comunidade é que existam intérpretes na área da saúde também, é importante”, afirmou.
 
Apesar de ainda ser considerada uma batalha longa, o uberlandense disse que o avanço da tecnologia nos últimos anos permitiu que ele vivesse com mais dignidade e independência para tocar a vida sem grandes transtornos. Pai de três meninas, ele espera que a população se conscientize sobre a questão de acessibilidade para a comunidade.
 
“Quando eu era mais novo, eu não sabia muito da linguagem de sinais e queria entrar no mercado de trabalho. Eu perdia muitas oportunidades só pelo fato de ser surdo. Eu sofri bastante ao longo da vida, mas graças à tecnologia e a ampliação de acessibilidade, muitos surdos passaram a ser mais independentes”, ressaltou.


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