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31/08/2022 às 12h00min - Atualizada em 31/08/2022 às 12h00min

Ampliação de infraestrutura é um dos desafios para o futuro de Uberlândia

Crescimento populacional deve exigir mais investimentos em mobilidade urbana, aponta especialista

Cidade vai receber novas obras em viadutos e trincheiras, além de investimento em ciclovias com o programa Uberlândia Integrada I FOTO: ARQUIVO DIÁRIO
REPORTAGEM:         PRODUÇÃO:                     EDIÇÃO:
IGOR MARTINS         BETINA SCARAMUSSA     DHIEGO BORGES

O desenvolvimento de Uberlândia ao longo do tempo passa por uma série de benfeitorias realizadas nos séculos XIX e XX, com a instalação da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. O escoamento agrícola na região permitiu que o entorno da cidade fosse privilegiado com a chegada de riquezas e o intenso tráfego de pessoas desde o início do Município.
 
A criação da BR-365, por Fernando Vilela em 1912, fez com que a cidade se desenvolvesse de maneira desenfreada no início do século passado. Além disso, a localização privilegiada da região, com o entroncamento rodoferroviário de importantes estradas do Brasil, torna Uberlândia um local atrativo para se estabelecer.
 
Em 2021, o município chegou à marca de 706 mil habitantes, ampliando sua estimativa populacional em mais de 100 mil pessoas em 11 anos, na comparação com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2010. Se o município continuar crescendo na mesma proporção da última década, a cidade poderá chegar a 1 milhão de habitantes no ano de 2044.
 
Na visão do professor de Engenharia Civil e mestre em Engenharia de Transportes, Carlos Henrique Barreiro, o crescimento exponencial da cidade, no entanto, impõe um grande desafio na área de infraestrutura. Segundo o especialista, é importante que o poder público esteja atento a essa expansão, com o acompanhamento de obras visando a melhora na qualidade de vida da população.
 

“Antigamente, a palavra infraestrutura tinha uma conotação de que era tudo o que estava enterrado. Hoje, a infraestrutura faz parte do ambiente urbano como um todo, incluindo eletricidade, saneamento básico, viadutos, pontes e praças. A questão da infraestrutura é uma briga constante entre demanda e oferta, que é o que a população precisa e o que o Poder Público consegue oferecer”, disse.

 
Barreiro explica que, por estar localizada próximo a quatro grandes centros do país, incluindo Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e São Paulo, Uberlândia deve seguir em franca expansão nos próximos anos. Para acompanhar o crescimento, o especialista acredita que é preciso seguir implementando obras de mobilidade urbana no município.
 
O trânsito também é algo que também precisa ser considerado. De acordo com um levantamento feito pelo IBGE em 2021, a cidade possui uma frota de mais de 492 mil veículos. Mesmo com o menor deslocamento durante a pandemia de covid-19, o professor Carlos Henrique Barreiro afirma que a expansão populacional deve ser munida de políticas públicas que acompanhem o desenvolvimento da região.


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“A mobilidade é uma questão fundamental para o crescimento da cidade. A construção de pontes, viadutos e o prolongamento de vias já está sendo feito com bastante planejamento. A gente prevê que esse atendimento vai ser feito pelos próximos 20 ou 30 anos, mas ainda existem pontos que precisam ser tratados com mais especificidade”, explicou o engenheiro.
 
Nesta semana, a Prefeitura anunciou mais uma etapa do programa Uberlândia Integrada. A nova fase vai contemplar a duplicação de um viaduto e duas trincheiras nas regiões do Alto Umuarama e Custódio Pereira. Além disso, serão investidos R$ 62 milhões visando serviços de melhorias em recuperação asfáltica e de ampliação das ciclovias da cidade.
 
Na visão de Barreiro, o pacote pode beneficiar e ampliar a infraestrutura na zona leste da cidade. Com relação à ampliação das ciclovias, o engenheiro civil acredita que o Município vai precisar seguir investindo no quesito da mobilidade urbana, já que é um meio de locomoção utilizado por diversas pessoas diariamente.
 

“A bicicleta é um meio de transporte mundial, não há a possibilidade sem a integração de ciclovias em uma cidade grande. É muito importante que existam ciclovias e o projeto precisa ser feito pensando nisso. Penso que possa sair alguma coisa com um pouco mais de planejamento, a integração dentro da cidade é importante”, alertou.

 


DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
No fim de 2021, o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) de Uberlândia cresceu no período de um ano, saltando de R$ 37,4 bilhões para R$ 37,6 bilhões, com um PIB per capita de R$ 54,4 mil. O destaque ficou para o setor de serviços, que representou quase 47% do PIB da cidade e 0,5% de todo o país.
 
De acordo com o economista Benito Salomão, o desempenho poderia ser melhor se não fosse pelo mau momento da indústria na cidade. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor teve déficit no número de oportunidades no primeiro semestre de 2022, com balanço negativo de 188 empregos formais. Nos últimos 12 meses, o setor é o pior colocado na economia uberlandense, com apenas 39 empregos gerados.


 
“Na última década, a economia de Uberlândia vem andando de lado em termos de PIB, renda per capita e abertura de empresas. Uberlândia precisa de reformas econômicas que possam recolocar a cidade na rota de prosperidade progressista que ela viveu nos anos 70 e 80. Há uma retração relativa e absoluta na indústria no PIB da cidade. Uberlândia tinha características de um centro industrial importante, mas ela vem perdendo essa característica”, disse.
 
O economista aponta que a participação uberlandense no PIB é predominada pelo setor de serviços, o que faz com que a massa salarial local diminua ao longo do tempo. “O setor de serviços é muito heterogêneo, porque compõe serviços de alta complexidade, como profissionais de tecnologia, até menos complexidade, como uma manicure. A predominância em Uberlândia é de menor complexidade, o que faz com que Uberlândia tenha uma massa salarial per capita baixa, algo próximo de um salário mínimo por trabalhador”, explicou.
 
O especialista afirmou ainda que a existência da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e algumas empresas de tecnologia bem conceituadas no país ajudam no desenvolvimento econômico da cidade, mas apenas elas não movem Uberlândia a uma economia do século XXI, devido à presença de gargalos estruturais.
 
Ainda segundo Salomão, o setor agrícola é uma vocação da região, mas que não gera tantos empregos como o de serviços e, por isso, tem pouca capacidade de dinamizar a economia. Próximo à divulgação do censo do IBGE, o escritor do livro “Perspectiva de Desenvolvimento no Município de Uberlândia” acredita que a cidade deve chegar a aproximadamente 750 mil habitantes.
 
“Essa especulação de que Uberlândia tem uma população muito maior é comum. Aqui tem essa cultura de que tudo o que é nosso é sempre maior, mas temos que confiar nos dados. Muito se fala em chegar a 1 milhão de habitantes, mas qual é a vantagem de ter uma população maior? Nós temos uma rede de serviços públicos para atender essa população?”, questionou o especialista.
 
De acordo com Benito Salomão, Uberlândia tem cerca de 450 mil habitantes economicamente ativos, sendo que cerca de 200 mil estão na informalidade, revelando um problema crônico da cidade em absorver a mão de obra disponível. O economista defende a criação de políticas para alavancar o desenvolvimento da região.

 

“Não podemos chegar a 1 milhão de habitantes e continuar tendo 250 mil empregos de carteira assinada, porque isso vai incorrer em piora de praticamente todos os indicadores sociais, como a pobreza, a miséria, a violência e o analfabetismo. Não é difícil passar em um sinaleiro sem ser abordado por um vendedor de bala ou de pano de prato, isso é uma característica comum de grandes centros que possuem problemas nesse sentido”, alertou.

 


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