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31/08/2022 às 09h00min - Atualizada em 31/08/2022 às 09h00min

Crescimento populacional acima da média nacional revela uma Uberlândia em plena expansão

Especialista alerta sobre desequilíbrios climáticos em virtude da urbanização intensa e defende a criação de mais áreas verdes na cidade

Doutora em Geografia acredita em crescimento populacional espalhado por todas as zonas do município I Foto: SECOM/PMU
REPORTAGEM:         PRODUÇÃO:                     EDIÇÃO:
IGOR MARTINS         BETINA SCARAMUSSA     DHIEGO BORGES

 
Ao longo dos seus 134 anos de história, Uberlândia recebeu uma série de planos progressistas visando o desenvolvimento. Se nos primórdios da criação, a cidade foi um povoado subordinado à Uberaba, hoje, a “terra gentil que seduz” se tornou o segundo município mais populoso de Minas Gerais e o quarto do interior do Brasil, com crescimento populacional acima do estimado para o país entre 2010 e 2021.
 
Foi o que apontou um estudo divulgado neste ano pelo Centro de Pesquisas Econômico-Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes/UFU). O levantamento indicou que, nos últimos 11 anos, a região intermediária de Uberlândia cresceu 1,11% ao ano, ritmo médio acima do registrado em Minas Gerais (0,81% a.a.) e no Brasil (1,03% a.a.).
 
A última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em setembro do ano passado, apontou que Uberlândia chegou a 706 mil habitantes. O censo oficial do órgão em 2010 divulgou que a cidade possuía 604 mil pessoas ainda em 2010. Os dados revelam que a quantidade de moradores aumentou 16% em 11 anos.
 
A história de Uberlândia data do século XIX, com a criação do arraial de São Pedro de Uberabinha em 1852 e a emancipação política em 1857. Em 1888, a lei 4.643 instituiu o município de Uberlândia. De acordo com o livro “Uberlândia: histórias por entre trilhas, trilhos e outros caminhos”, a extensão de terra que compreendia a cidade ficava entre os córregos das Galinhas e São Pedro, oriundos do rio Uberabinha. Atualmente, o córrego São Pedro é a principal avenida do município, a Rondon Pacheco, enquanto o das Galinhas diz respeito a Getúlio Vargas.
 
O crescimento da cidade, na visão da professora doutora em geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Beatriz Ribeiro Soares, tem relação direta com as instalações iniciais do município. A especialista aponta que a cidade é beneficiada por suas estratégias e localização privilegiada, tornando a região atrativa para pessoas de outras localidades. Em entrevista ao Diário, ela afirmou que o município tomou outra dimensão com o crescimento populacional e a dinamização da economia.
 
“Hoje, Uberlândia tem uma diversidade de serviços, saúde, educação e logística, além de uma série de novos produtos que a cidade oferece que tornam a região muito atrativa. Percebemos uma expansão urbana muito grande, desde as ocupações ilegais até os condomínios fechados, com muita verticalização. Antigamente, esse processo estava ligado apenas aos grandes centros, mas hoje ela se espalhou”, explicou.
 
Questionada sobre o crescimento populacional acima da média nos últimos 11 anos, Beatriz Ribeiro Soares conta que a região está no caminho para aumentar o número de moradores nos próximos anos, mas considera difícil Uberlândia atingir a marca de 1 milhão de habitantes em um futuro próximo.
 
“Eu me lembro de fazer meu doutorado há 20 anos e já existia essa ideia de 1 milhão de habitantes. Acho que a cidade vai continuar crescendo, mas temos que considerar que a sociedade mudou, a família mudou de tamanho. Com a tecnologia, as pessoas não fazem tantas migrações. A pandemia trouxe muita gente de volta, mas é difícil afirmar que isso vai acontecer, porque depende de uma série de fatores”, disse a professora.


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EXPANSÃO URBANA
Com tamanho crescimento da cidade, é difícil imaginar em pleno 2022 que as praças Tubal Vilela e Clarimundo Carneiro representam a região central de Uberlândia. A expansão urbana horizontal, segundo a professora ouvida pelo Diário, gerou a criação até mesmo de condomínios rurais. Na opinião de Beatriz, o surgimento de novos bairros e novas centralidades deve se tornar algo ainda mais comum.
 
“A cidade mudou muito o seu conteúdo, ela está muito dispersa nos dias atuais. O Fundinho era o centro da cidade antigamente, mas Uberlândia foi crescendo e expandindo. Hoje, temos bairros como o São Jorge, Luizote de Freitas e o Santa Mônica, que são verdadeiras centralidades, fazendo com que as pessoas não se desloquem mais para o centro. Hoje é até difícil fazer um estudo porque a cidade teve muitas mudanças”, afirmou Beatriz.
 
Os recentes investimentos imobiliários devem causar um processo de urbanização ainda mais acelerado nos próximos anos, de acordo com a professora da UFU. A zona sul, segundo a especialista, deve ser uma das mais visadas nos próximos anos, mas é possível identificar crescimento em todas as regiões da cidade.
 

“As zonas são muito complexas e diferentes entre si. De três anos para cá, tivemos uma expansão muito grande na zona sul, mas via de regra temos crescimento para todos os lados. É claro que o investimento em algumas áreas é menor, mas é uma complexidade grande em compreender essa dinâmica. A cidade mudou muito sua lógica, as classes sociais estão espalhadas em todas as regiões de Uberlândia”.

 
INFRAESTRUTURA VERDE
Ainda conforme o último censo do IBGE, Uberlândia tem 95,2% dos domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 33% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Para a arquiteta e urbanista Maria Eliza Alves Guerra, a “infraestrutura verde” contribui para uma integração harmônica entre a vida urbana e o meio ambiente.
 
Segundo a professora e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFU, a expansão horizontal da cidade tem afetado parte da vegetação típica da região, o que pode trazer prejuízos no longo prazo. Em conversa com a reportagem, Maria Eliza ressaltou a importância da criação de parques e praças com áreas verdes conforme o município cresce.
 

“Uberlândia já possui uma população muito grande, é fundamental que a cidade cresça pensando no futuro. Precisamos de espaços verdes. A cidade precisa ser adequada para ter áreas verdes de qualidade. A questão é que com o crescimento de Uberlândia, temos uma retirada dessas áreas, o que gera problemas de organização paisagística e urbanística. O equilíbrio entre o construído e o preservado é fundamental”, disse.

 


Na última semana, o Diário noticiou
o início da construção de um empreendimento imobiliário, um condomínio com 693 apartamentos próximo à nascente do Córrego Mogi. O investimento ameaça cerca de 200 espécies de aves que vivem na Área de Preservação Permanente (APP) da região. Imagens cedidas à reportagem mostram que a incorporadora responsável já deu andamento ao desmatamento na área, que conta com cerca de 3,2 mil árvores típicas do cerrado.
 
Conforme relatado por Guerra, a existência de áreas verdes integradas à área urbana traz uma série de benefícios para a população, como a melhora na qualidade de vida, melhora do ar e a menor ocorrência de inundações em épocas de chuva. “Uberlândia precisa prestar atenção, porque está bastante árida. Estamos vivendo uma época de mudanças climáticas, com as temperaturas subindo muito. Esses problemas sempre acontecem em casos de urbanização excessiva e rápida”, detalhou a especialista.
 
A arquiteta também destacou a importância da conscientização da população para os cuidados com o meio ambiente, especialmente relacionado à arborização. Para ela, a harmonia entre o urbano e a natureza precisa estar amparada em pessoas conscientes e sabedoras de suas responsabilidades.

 

“Que futuro queremos para Uberlândia? Precisamos sair do discurso e ir para a prática. Quando a pessoa joga um lixo na rua, corta uma árvore na calçada e não replanta, isso indica falta de atenção da cidadania. Uberlândia tem muitas leis, mas elas nem sempre são lavadas a sério. As mudanças climáticas exigem mais do Poder Público”, afirmou Maria Eliza.


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